O câncer do poder somos nós
- 15 de maio de 2018
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- Thamires Mattos
- Posted in Sessão Cultural
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Absolutamente nenhuma forma de governo é perfeita, pois se funda em estruturas de poder que, por sua vez, são sempre corruptas
Laura Cachaneski
É possivel tratar do tema das Estruturas de Poder partindo do ponto de vista de alguns produtos culturais. Exemplo disto é o filme Tropa de Elite 2, longametragem de 2010 e dirigido por José Padilha. O longa aborda uma guerra de interesses políticos e econômicos no país desencadeada por uma rebelião no complexo penitenciário carioca de Bangu I. Dois grupos diferentes de presos entram em conflito no presídio e como consequência alguns funcionários são mantidos como reféns. Freitas é defensor dos direitos humanos e aparece lá para tentar negociar toda aquela rebelião. Capitão Nascimento é quem comanda a tropa dentro do presídio, porém, seu soldado Mathias desacata sua ordem e acaba atirando e matando o líder da rebelião. Depois disso uma guerra maior se inicia. Nascimento é exonerado de seu cargo, mas acaba indo para a segurança pública do Rio de Janeiro. A partir desse momento então, Nascimento não combate mais só bandidos e traficantes; mas também o sistema político e todo o governo corrupto do Brasil.
A guerra que se desenrola durante o filme impacta. É possível ver claramente a corrupção inserida em vários contextos, inclusive, na própria polícia militar e no governo, que recebe constantemente propina de traficantes para “colaborar” em prol dos esquemas das facções. A corrupção retratada nessa obra é absurda. O governo e a polícia militar mascaram o que realmente acontece dentro da política brasileira, pois o objetivo deles é alienar o povo para que todos achem que está tudo bem.
O que é mais interessante nisso tudo é que um tempo depois, Nascimento faz um discurso na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e joga toda a sujeira do governo no ventilador. Muita gente importante acaba sendo presa, mas muitos se livram também. Nascimento diz que mesmo depois de longos anos trabalhando para a polícia, nunca soube explicar para seu filho o porquê eles matam e por quem matam. Para ele, matar se tornou um ato mecânico que é motivado e gerido pelo Sistema. Tanto que o símbolo do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), é uma caveira, simbolizando a morte.
O filme nos mostra uma descrença total na polícia e na justiça brasileira e ele termina dizendo que muito inocente ainda vai morrer por causa do sistema corrupto.
Já em O Mecanismo, série brasileira de 2018, veiculada pelo canal de streaming Netflix e dirigida também por José Padilha, foca-se no movimento cíclico de corrupção dentro do parlamento brasileiro. A série apresenta Marco Ruffo, agente da polícia federal, e Verena, seu braço direito, perseguindo Roberto Ibrahim, um doleiro corrupto. Ruffo sofre por ser uma pessoa muito impulsiva, é acusado de ter transtornos psicológicos. Roberto Ibrahim, uma pessoa muito importante dentro dos negócios da política, foi (quando adolescente) um delinquente que acaba por se tornar o responsável por lavar dinheiro de políticos e grandes empreiteiras.
O objetivo principal da série é mostrar de forma fictícia como a corrupção está onde menos se espera. O Mecanismo, faz uma analogia muito clara com a situação de corrpução que o sistema Brasileiro protagoniza, ainda mais nitidamente em tempos como os atuais. Pode-se até dizer que nunca se conseguiu trazer à luz tantos casos de corrupção na história deste jovem país como se tem feito agora.
Um trabalho televisivo similar, produzido nos EUA desde 2015 e com intenções de demonstrar o ciclo vicioso de corrupção a que todos os sistemas e suas estruturas se veem submetidos, é a série Blindspot. O argumento do trabalho conta história de Jane Doe, uma mulher encontrada em uma mala, nua, no centro de Nova York, com o corpo inteiro tatuado e a memória apagada. Uma das tatuagens indica um agente do FBI, Kurt Weller. Kurt, e sua força-tarefa, se responsabilizam pelo desvendamento do caso e a interpretação das tatuagens. A cada episódio uma tatuagem é decifrada e acaba levando à prisão de um membro do sistema norte-americano (seja executivo, legislativo, juciário ou militar) que se vendeu à corrupção. Ao fim, cada tatuagem, (e são muitas), representam a verdade incontestável de que não há Estrutura de Poder que consiga manter-se fiel, pura a seus ideiais. Para ordenar/governar é preciso se vender.
Com todos esses exemplos, refletem a percepção de certa impotência quanto ao controle das “invenções sociais” que, supostamente, o civilizam. Não é possível controlar as Estruturas de Poder, não é possível mantê-las sãs. Seja no sistema em que estiverem vigorando. Absolutamente nenhuma forma de governo é perfeita, pois se funda em estruturas de poder que, por sua vez, são sempre corruptas. Nenhum sistema é justo por completo, e nem cumpre tudo o que foi proposto no momento em que foi constituído.
O problema maior não são as estruturas de poder ou seus regimes de governo. O problema maior sempre será quem está por trás disso tudo. O “câncer” relatado na série O Mecanismo, somos nós, povo, que se conforma com uma política baixa deixando a sensação de impotêcia nos alienar.