
Mais que rostinhos bonitos
- 23 de abril de 2025
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- Theillyson Lima
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Cansadas do salto alto, As Panteras apostaram no conforto, mas a mudança não agradoou ao público.
Luiza Strapassan
Desde que estreou nos anos 70, As Panteras virou um símbolo de ação e estilo que marcou a época — e continuou influente muito além daquele tempo. Com o passar dos anos, a franquia ganhou duas versões mais modernas, tentando misturar o charme do original com o jeitão de cada nova geração. Mas será que os filmes conseguiram manter a alma da série?
As Panteras
Charlie’s Angels, ou As Panteras, conta a história de três mulheres destemidas que exercem o papel de detetives e combatem o crime na agência Charles Townsend, na Califórnia. As agentes são comandadas por Charles, que só se comunica através de ligações ou um aparelho de viva-voz. Além disso, durante as missões, as meninas contam com o apoio de Bosley, assistente e braço direito de Charles.
A história tem duas adaptações para filmes, a primeira com uma diferença de quase 30 anos e a segunda com 20. A distância de tempo entre cada produção torna visível, além da mudança de gerações, a diferença de pensamentos e direção de arte dos produtos.
Naquela época
A série original retrata a primeira onda do movimento feminista, que surgiu nos anos 60, na qual o enredo apresenta mulheres que além de lindas, são habilidosas, inteligentes e, principalmente, independentes. A cada episódio, a história se aprofunda nas habilidades e entrosamento dos personagens, e para um mundo onde os super-heróis e outras figuras valentes são representados por homens, o padrão é quebrado.
Em contrapartida, mesmo sendo treinadas para combates físicos e tendo mentes brilhantes, usar o próprio corpo como isca parece interessante. Para muitos, o fato de ter sido criada e produzida por Ivan Goff e Ben Roberts, dois homens, “justifica” a sexualização das protagonistas. Para outros, a sexualização tornou a série banal e deixou marcas nas carreiras das atrizes.
Quando a série é comparada com os remakes, o apelo sexual chega a ser “leve”, mas para o contexto da época, as críticas tornaram As Panteras cada vez mais conhecidas. Com 18 indicações a prêmios e 6 vitórias, conseguiram movimentar os Estados Unidos e tornar a série uma das mais vistas dos anos 70, consequentemente sendo exibida em diversos outros países.
Cada vez mais quentes
O primeiro remake foi dividido em dois filmes lançados nos anos 2000 e teve um choque brusco com a série original. Apesar do enredo continuar contando a mesma história das três detetives contra o crime, a sexualização das atrizes foi incomparável. É impossível assistir uma cena que não apresente um decote profundo, cenas em câmera lenta ou closes explícitos dos corpos em ação. Além disso, o uso de tecnologias foi um grande diferencial entre os dois produtos.
A série original é mais contida e foca mais no mistério do que na ação em si – lembrando que estamos falando de um produto audiovisual dos anos 70, não havia nem metade da tecnologia que conhecemos hoje. Já o remake dos anos 2000 chegou a ser comparado com Matrix, com cenas de lutas impossíveis e efeitos especiais para todo lado.
Além disso, foram acrescentadas às meninas características que acentuam cada vez mais o fator cômico. Drew Barrymore (Dylan) interpreta a inteligente, Lucy Liu (Alex) é a marrenta e Cameron Diaz (Natalie) a bonita e burra – que convenientemente é loira.
Tentativa falha
O segundo remake veio com intenções diferentes. Lançado em 2019, fugiu do padrão estético criado pelo público masculino e deu uma cara nova à história e às personagens. Um cenário com um objetivo digno, mas que infelizmente se tornou alvo de piadas para mídia.
Neste filme a primeira mudança é no roteiro – existem diversas equipes das Panteras espalhadas pelo mundo, o que tira um pouco o protagonismo da equipe principal. Além disso, As Panteras inicialmente são uma dupla e só recebem a terceira integrante durante uma de suas missões, o que quebra o mesmo enredo de sempre.
Em seguida, a mais brutal mudança: o visual. As personagens não tem tantos traços considerados femininos como nos filmes anteriores, tanto em aparência quanto em personalidade. Os figurinos são esquematizados em tons frios e neutros, e até mesmo a escolha de penteados e maquiagem foi pensada nesse estilo.
A verdade é que na tentativa de demonstrar que as mulheres podem combater o crime da forma que quiserem, acabaram forçando a barra e tornando o filme uma tentativa falha do empoderamento feminino.
Ao longo das décadas, As Panteras passaram por transformações que refletem as mudanças culturais, sociais e estéticas de cada época. Da série original, marcada pela quebra de estereótipos em meio a um cenário ainda dominado por figuras masculinas, até os remakes que oscilaram entre exagerar na sensualidade ou tentar desconstruí-la completamente, a franquia sempre buscou se reinventar. Apesar das críticas e das tentativas nem sempre bem-sucedidas, o legado das Panteras continua sendo o de personagens femininas fortes, corajosas e icônicas — mais do que rostinhos bonitos, são símbolos da eterna busca por protagonismo feminino nas telas.