Macaulay Culkin: de ator-mirim a observador de duendes
- 6 de abril de 2022
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Jornais especulam sobre o que aconteceu com a estrela de “Esqueceram de Mim”.
Paula Orling
O astro mirim angelical Macauley Culkin começou sua carreira muito jovem, com apenas cinco anos de idade. Conhecido por seus papéis de protagonista como Kevin McCallister em “Esqueceram de Mim” (1990), e Richie Rich em “Riquinho” (1994), Culkin teve seu caminho traçado para a fama e para o sucesso. Apesar de toda a fortuna acumulada na vida profissional, no âmbito pessoal as coisas não saíram tão bem.
Aos 14 anos, o terceiro de sete filhos, “Mac” começou a revelar problemas familiares, especialmente com seu pai, Christopher Culkin. O ator acusou o responsável por maus tratos e falhas no gerenciamento financeiro de seus lucros. De acordo com o Observatório do Cinema, o patrimônio de US$ 50 milhões de Culkin foi gasto pelo pai antes da emancipação do ator, aos 16 anos. Após a desconexão financeira, ele ficou com US$17 milhões. Até completar 18 anos e, portanto, a maioridade, o ator ficou sob os cuidados de seu contador.
A revista online Complex analisou, em 2021, a escalada pessoal de atores cujos pais gastaram seus recursos antes que estes atingissem a maioridade. Apesar de hoje existir, no Estado da Califórnia, a Lei Coogan, de proteção financeira a atores mirins, Culkin não foi beneficiado. Neste sentido, a revista divulgou uma entrevista com Shauna Springer, uma psicóloga licenciada que se concentra em trauma psicológico e relacionamentos íntimos. “A exploração por um responsável legal – financeira ou emocionalmente – pode levar a problemas de saúde mental ou abuso de substâncias em uma estrela infantil”, foi o trecho destacado pela revista, fazendo referência a comportamentos como o do pai de Macaulay.
Anos depois da emancipação, em 2004, Macaulay Culkin foi preso por porte de maconha, Xanax e analgésicos em Oklahoma City, pouco tempo depois de seu rompimento com Mila Kunis. O tablóide Mirror especulou se o afastamento da atriz teria algo a ver com a postura de Culkin. Após ser preso, o ator pagou a fiança de 4 mil dólares e foi liberado horas depois. Como em várias ocasiões questionáveis da vida do ator, sua assessoria de imprensa se recusou a responder perguntas e manteve a política protetiva em relação a Culkin. Contudo, este ainda não foi o momento mais complexo da jornada do ator de “Esqueceram de Mim”.
Em 2012, o jornal New York Post foi um dos vários periódicos que revelaram imagens e especulações sobre a aparência de Culkin aos 31 anos. “Parece que Macaulay Culkin foi deixado sozinho em casa – sem comida”, ironizou o jornal fazendo referência ao filme estrelado pelo autor. “A ex-estrela infantil não se parece em nada com o adorável menino de oito anos que ele já foi nos filmes, parecendo magro, pálido e esquelético enquanto posava para fotos com fãs na cidade esta semana”, completou.
Diante das confirmações a respeito do uso de drogas consumidas pelo ator e as crises que se seguiram, a mídia ficou polarizada entre retratar o Determinismo como responsável pelo breakdown de Culkin ou considerá-lo um jovem mimado com péssimas escolhas. O New York Post juntou um montante considerável de conteúdo que ficou entre os dois posicionamentos.
Macaulay Culkin: o espectro
Em primeira análise, a problemática de Culkin foi analisada como um espectro do próprio ator. Ao divulgar o uso de drogas, os gastos espalhafatosos com heroína e a relação conflituosa com o pai após o fim das atuações cinematográficas de Mac, os textos de 2012 no New York Post a respeito do astro se restringiram a citar o então drogado deprimido como figura alheia à própria situação e não como responsável e participante da mesma.
Em um conteúdo publicado no dia 10 de fevereiro de 2012, o jornal especulou sobre o que acontecera com a estrela-mirim já crescida. Além disso, retratou sua aparência e pouco buscou investigar. Na tentativa de divulgar uma apuração mais detalhada sobre o acontecimento, o jornal entrou em contato com a assessoria de imprensa do ator e questionou o envolvimento dele com as drogas. Entretanto, a resposta foi uma negação e a conclusão de que não existiam provas da dependência química de Culkin. O texto ainda traz afirmações dos amigos da estrela confirmando que tudo estaria bem. Diante das informações apuradas, o autor se contenta em exprimir um jornalismo declaratório e encerra a busca por evidências.
No período, vários canais de comunicação buscaram entrar em contato com o próprio Macaulay Culkin. Tal demanda, contudo, foi frustrada para a maioria das mídias. Por conta da recusa do ator, muitos tablóides referenciaram a entrevista concedida por Culkin ao jornal The Guardian. Em um texto produzido pelo New York Post e divulgado em sua seção de fofocas, Page Six, comentários de negação da parte do ator sobre o consumo de 6 milhões de dólares de heroína por mês foram suficientes para o fim da apuração. O conteúdo publicado, assim, ficou com caráter especulativo.
O jornal ainda publicou em 14 de março de 2012 um texto que faz referência à relação de Macaulay com seu pai, Christopher Culkin. Neste produto, o New York Post mostra os acontecimentos da vida pessoal de Culkin de forma invasiva, replica afirmações de um pai supostamente preocupado e expõe detalhes familiares, como o falecimento de sua irmã em 2008.
Outros posicionamentos
Por outro lado, o New York Post também refletiu o posicionamento de culpabilidade em relação a Macaulay Culkin. Em um texto publicado no dia 26 de julho de 2016, o jornal se esforçou para ridicularizar o ator, com o título “Macaulay Culkin está vendo duendes” e referências jocosas ao Dia de São Patrício. Apesar de trazer características nítidas de jornalismo declaratório, o texto aponta a responsabilidade do ator em relação à própria condição. Esta forma de tratamento se repete em um conteúdo que faz referência ao projeto musical do ator. O New York Post chama o objetivo de Culkin de “piada cansada e sem graça”.
Além dos dois grupos antagônicos, um terceiro grupo de produtores midiáticos se manifestou, dando foco à superação do ator, sua carreira na atualidade. Este é o caso de jornais brasileiros, como o G1, que abordou temáticas como a estreia de Culkin em novos projetos, seu atual relacionamento amoroso e a espera de seu primeiro filho. Dentre as matérias que citam Macaulay, poucas o retratam de forma pejorativa, mas, quando o fazem, referenciam tabloides estrangeiros, majoritariamente estadunidenses.
Quando o assunto é otimismo do New York Post, o jornal deixa a desejar. Mesmo quando cita a chegada da Dakota, bebê dos atores Macaulay Culkin e Brenda Song, o texto é invasivo. O texto começa com uma imagem aproximada do anel de noivado de Brenda, especulando sobre o pedido de casamento por parte do ator. No decorrer do texto, o bebê só é citado em três pequenos parágrafos, apesar de ser aspecto importante para a narrativa. Além disso, o veículo não deixa de lembrar a morte da irmã do ator, que foi homenageada no nome da filha de Culkin e Brenda. O Post referencia outras mídias e não esquece de lembrar os leitores sobre o primeiro casamento fracassado de Macaulay.
Nesse sentido, há confusão na imprensa, que diverge em posicionamentos ao relatar acontecimentos da vida de Macaulay Culkin. Pouco foi apurado, e os textos foram direcionados a citar as declarações do ator, de sua assessoria de imprensa, de seus familiares, amigos ou outros que se sentissem no direito de opinar sobre os eventos – triviais ou complexos. Contudo, a invasão da vida pessoal do ator foi pauta comum de muitos jornais e revistas ao redor do mundo. Ademais, as especulações sobre os hábitos e opiniões da estrela foram incisivas e constrangedoras, abordando pontos como a vida sexual dele, sua saúde ou que tipo de alucinógeno preferia utilizar. Atualmente, entretanto, as plataformas midiáticas se propõem a apresentar a superação do ator e apoiá-lo em seus novos empreendimentos.