Luz, câmera e “ações”
- 14 de setembro de 2022
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A produção audiovisual nas periferias e a representação de histórias da comunidade.
Camylla Silva
Sabemos que o mundo em que vivemos está repleto de imagens, sons e vias para se comunicar. É um mundo em que os sentidos, emoções e razões são estimulados a interagir e criar a nossa cultura e humanidade. A partir do momento que assistimos a TV ou vemos um vídeo na internet, as imagens e sons dos acontecimentos ficam guardadas em nossa mente. Esse é um grande exemplo que ilustra a força e a presença da comunicação audiovisual em nossa sociedade.
Comunicação na favela
Todo mundo já ouviu falar de uma favela pelo menos uma vez na vida. E sempre ouvindo e falando o lado ruim. Perigo, drogas, polícia, bandidos, tráfico, mortes, sequestro e entre outros. Mas sem entender que há histórias atrás de uma realidade que é desconhecida e que muita gente só anseia por oportunidades. Há pessoas que sonham e tem a humanidade de ajudar a comunidade em que vivem.
Ao analisar produções audiovisuais como o Festival Visões Periféricas, Cine Cufa, no Rio de Janeiro e Imagens da Cultura Popular/ Favela É Isso Aí, em Belo Horizonte, pude perceber como a produção de cinema e vídeo das favelas contribui para revelar como os moradores desses locais tem feito os registros sobre sua vida e sua cultura; e como isso significa para eles. Cada produto é reconhecido de alguma forma como representação das periferias e subúrbios, e produzido por pessoas que vivem e visitam espaços cada vez mais populosos das grandes cidades brasileiras.
Formação audiovisual
Entre os diversos tipos de intervenções, as mais encontradas nas periferias são as que têm como foco a formação. Oficinas de áudio, vídeo, fotografia são ações que vem tendo destaque na última década. As atividades, normalmente integram projetos sociais, culturais ou de caráter educativo, e suas produções são apresentadas de diversas formas em exposições, programas, vídeos educativos e outros. Ultimamente esses tipos de projetos para a comunidade vem ganhando espaço e dado novas formas às ações audiovisuais nas periferias.
Além de espaços e festivais para exibição pública, esses eventos também se configuram como iminência de reconhecimento para novos criadores no âmbito do audiovisual. Essas oportunidades acabam criando condições para sustentar os discursos sociais organizados, que ao mesmo tempo unificam um conjunto específico de trabalhos de cinema e vídeo, visto que reúnem vários trabalhos produzidos por dezenas de agências de produção audiovisual espalhadas pelo país.
De alguma forma se relacionam ao universo das favelas e periferias, incluindo
os participantes e representantes desses coletivos, para que organizem discursos que ao mesmo tempo unificam o conjunto dos trabalhos, colocando cada um deles em evidência através das assessorias de imprensa dos eventos, veículos próprios (cartazes, folders, sites e blogs) e claro, das próprias obras visuais, como os curta- metragens em grande maioria.
Olhar com outros olhos
O que se vê é que os projetos audiovisuais têm sido cada vez mais frequentes nas comunidades e favelas ou com jovens da periferia. Nota-se que o objetivo destes festivais não é somente garantir a visibilidade aos trabalhos dos cineastas das periferias, mas sim propor mudanças de perspectiva. Ou seja, como as pessoas vêem esses espaços urbanos e suas produções. É importante realçar um duplo papel desses processos de formação: se olhando por um lado esses projetos auxiliam na formação de novos técnicos na área do audiovisual e artistas, por outro lado assumem a responsabilidade de dar voz e visibilidade aos cidadãos da comunidade que não tem acesso aos meios de comunicação e oportunidades para ingressarem no mercado da mídia.