Limite da Comédia: o contraste
- 10 de novembro de 2021
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Se tem piadas que não devemos fazer, por que há tantos comediantes que fazem sucesso por conta delas?
Gabriel Dias
O riso tem diversos benefícios para o corpo, tanto físicos quanto emocionais. Ele pode diminuir dores, auxilia o sistema imunológico, aumenta a energia e traz proteção contra problemas do estresse. A psicóloga Silvia Cury explica que a risada libera o hormônio da felicidade, a endorfina e também a serotonina. Eles nos trazem sensação de bem estar, alegria, e diminuem riscos de doenças psicológicas.
A risada inclusive se tornou um grande sistema de negócio, gerando muito dinheiro e sendo uma porta de entrada para o mundo da fama. Vimos diversos atores bem-conceituados que iniciaram suas carreiras através da comédia, como: Will Smith, Jennifer Aniston, Robert Downey, Bruce Willys, entre outros.
Essa busca pelo riso, pela sensação de prazer, é tão viciante que nos faz refletir. Onde alguém é capaz de ir, para fazer o outro sorrir? Ou também, existe um limite para a comédia? Foi nessa linha tênue que o comediante Rafinha Bastos viu sua carreira proeminente ir por água abaixo. Como um atleta com uma lesão muito grave, não conseguiu mais voltar ao seu auge, além de gerar diversos processos.
Por outro lado vemos outros comediantes que brincam com essa linha do perigo, e fazem sucesso por isso. Léo Lins e Dave Chappelle são exemplos conhecidos por suas piadas pesadas e um senso de humor “sem limites”. É engraçado pensar que o mesmo estilo de humor que acabou com a carreira de um é o que alavanca a de outro.
Para entender como isso funciona, primeiro temos que compreender o caminho que a comédia trilhou. O que antes eram somente sessões de piadas ou histórias engraçadas do dia a dia, se tornou em uma defesa de ideologias por meio do humor. Esse método de crítica cresceu cada vez mais. Pois, na era em que os conteúdos segmentados são muito valorizados, quanto mais alguém defender o que acredita e ser específico, mais público será conquistado, assim como a empatia desses espectadores.
Essa transição passou até pelas séries cômicas, que também usam dessa forma para criticar ou revelar problemas sociais. “Todo Mundo Odeia o Chris” revela a forma como negro era tratado nas décadas de 1980 e 1990 no Brooklyn. Ela usa o exagero escancarado para falar do racismo cultural que ocorria e talvez ainda ocorra nos bairros americanos.
“The Office” se apropria dessa mesma estratégia para criticar a relação de poder, assédio e preconceito que ocorre sutilmente nos escritórios e outros ambientes de trabalho. Para uns, são situações que superam os limites aceitáveis da risada. Mas através do exagero que ela expõe, é possível enxergar eventos parecidos que normalmente são imperceptíveis no dia a dia.
Não há como explicar onde fica exatamente o limite da comédia. Pois as mesmas pessoas que criticam um limite ultrapassado de um lado, acabam dando gargalhadas do outro. Mas algo que podemos notar, é que as comédias e comediantes de sucesso que brincam com o limite geralmente tem sua linha de pensamento e crença bem exposta e esclarecida. O palco e o set de gravação se tornaram lugares onde diretores e comediantes expõem seus pontos de vista sociais. O humor foi a forma que encontraram de serem ouvidos. Continuam sendo criticados por muitos e, mesmo assim, têm grande sucesso. Por quê? Pois quem assiste sabe que não pegam leve, e esperam exatamente isso.