Jornalismo na plataforma das fake news
- 18 de maio de 2022
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Meta luta para inserir jornalismo confiável no Facebook.
Paula Orling
As redes sociais evoluíram e se multiplicaram na última década. Youtube, Instagram, Facebook, Twitter e LinkedIn são exemplos de desenvolvimento exponencial da tecnologia, enquanto o TikTok é amostra das novas criações no mundo comunicativo.
Ao falarmos de jornalismo, as redes sociais são meio de colocá-lo em prática de forma rápida, precisa e de rápido alcance. Em uma sociedade agitada, propulsionada pelo Just-in-Time (JIT) — método que busca reduzir gasto de tempo e matéria-prima nos processos de produção —, a informação quase instantânea é um propósito jornalístico.
Seguindo esta tendência, o Facebook lidera índices de transmissão de informação por ser a rede social mais acessada do planeta, apesar de ser famoso pela transmissão de notícias falsas. Mesmo assim, a ferramenta oferece a possibilidade de divulgação instantânea, facilitando a transmissão de todo o tipo de conteúdo.
Com 2,9 bilhões de seguidores ativos mensalmente e um crescimento de mais de um bilhão de usuários em apenas oito anos, a criação de Mark Zuckerberg lidera os rankings quando o assunto é o maior uso das redes sociais. Com esta movimentação de acessos, em 2018, o Facebook teve uma receita total de US$ 55 bilhões (cerca de R$ 204 bilhões), sendo 89% deste lucro proveniente de anúncios digitais.
Queda da rede social
Apesar da popularidade da rede social, a Meta e, especialmente, o Facebook, estão com seus números em queda. Não apenas o número de usuários está descendente — o Facebook perdeu cerca de 500 mil usuários no último trimestre de 2021 — como também a renda de Mark Zuckerberg. O magnata sofreu com a queda de 26% do valor das ações de sua empresa, de acordo com o relatório anual da Meta.
Além disso, a empresa perdeu US$ 237 bilhões em valor de mercado em 3 de fevereiro deste ano, o que equivale a maior queda de uma empresa da história da Bolsa de Valores dos Estados Unidos. Diante disso, o CEO, Zuckerberg, saiu da lista de dez pessoas mais ricas do mundo.
Alguns estudiosos das mídias sugerem que adolescentes e jovens estão deixando a Meta rumo a uma nova tendência, o TikTok. Esta rede social teve 3 bilhões de downloads no mundo, de acordo com informações do Sensor Tower.
Contudo, a concorrência ainda não alterou a liderança do Facebook nos rankings de popularidade. Com o propósito de perpetuar a hegemonia, a Meta busca novas maneiras de aumentar o engajamento da rede social. Nem toda a veiculação de informação no Facebook é relevantemente rentável para a Meta e, por esta razão, a empresa procura novas formas de utilizar os espaços virtuais da plataforma e gerar mais lucro.
Formatos jornalísticos no Facebook
Sendo um meio de comunicação acessível para quem tem um equipamento eletrônico com acesso à internet, o Facebook é de fácil compreensão e baixo nível de dificuldade em relação à disseminação de conteúdos. Neste sentido, a produção jornalística deixa de ser viável apenas a grandes empresas midiáticas e dá a liberdade de jornalistas independentes ou pequenas empresas noticiarem e transmitirem informações para qualquer usuário.
Entre as representações proeminentes de jornalismo independente no Facebook está o The Guardian, jornal tradicional do Reino Unido fundado em 1821. Apesar de seu início no papel, a evolução das tecnologias e, principalmente, das mídias, exigem adaptações no que diz respeito à tradição jornalística. Neste sentido, o The Guardian se perpetuou nos meios digitais, inclusive o Facebook, com atividade regular.
Mesmo optando pela forma independente de jornalismo, este jornal adentrou no espaço do Facebook e conseguiu atingir um patamar de destaque. Isso se dá pela liberdade de divulgação de dados e notícias oferecida pela rede social, uma vez que esta preza pela democratização da informação.
Tendência de evasão a partir da conexão das mídias
Diante do uso de perfis e páginas de divulgação, a plataforma é utilizada como agente de distribuição de conteúdo jornalístico, por meio da utilização de links e chamadas para outros ambientes tecnológicos. Neste sentido, a rede social da Meta é uma ferramenta para encaminhar os usuários para outros ambientes virtuais, gerando a perda de conectividade com a plataforma. Portanto, este cenário é economicamente negativo para o Facebook, que perde o engajamento quando seus usuários são encaminhados para outros conteúdos.
Com o objetivo de contrapor esta tendência, a Meta desenvolve ferramentas para que o Facebook não seja apenas um distribuidor, mas que tenha um fim em si mesmo como transmissor de conteúdos informativos e viabilizador do exercício do Jornalismo. Isto posto, o interesse da empresa se deve à permanência de usuários e páginas ativas na rede social, que representam maior popularidade na mesma e, por consequência, acréscimo financeiro.
Ferramentas jornalísticas no Facebook
Para estreitar laços com a indústria jornalística, o Facebook elaborou incentivos para favorecer jornalistas e a transmissão comunicativa. A Diretora de Produto do Facebook, Fidji Simo, em nota empresarial, falou sobre o novo projeto. “Nós vamos colaborar com empresas de notícias para desenvolver produtos, aprender com jornalistas quais são as melhores formas para criar parcerias e vamos conversar com publishers e educadores para entender como podemos ajudar as pessoas a se tornarem leitores informados na era digital”, explica.
No Brasil, o Facebook estabeleceu, em setembro de 2021, um programa de investimentos para os veículos de comunicação do país. A empresa assinou acordos com 20 organizações de notícias brasileiras, e a iniciativa investirá mais de US$ 2,6 milhões até setembro deste ano “dedicados a fundos de inovação e projetos desenvolvidos em colaboração com associações de imprensa, que representam juntas mais de 200 veículos no país”, de acordo com uma declaração da Meta.
Com o objetivo de trazer maior engajamento para as próprias plataformas da empresa, a Meta desenvolveu plataformas de informações já checadas, mantendo a credibilidade da empresa. A principal é a Newsroom, um portal de notícias da Meta, com destaque para conteúdos atuais, relacionando temáticas sociais com tecnologias, redes sociais e desenvolvimento midiático, além de apresentar relatórios das redes da empresa. A Diretora de Produto do Meta, em documento, explica que o objetivo da empresa é favorecer um ambiente de conversas produtivas. “Nos importamos muito em assegurar que um ecossistema saudável de notícias e o jornalismo possam se desenvolver”, completa. Além disso, o Messenger, vinculado ao Facebook, favorece a disseminação direta e pontual de informação.
Contraponto das fake news e jornalismo especulativo
Por ser uma plataforma de fácil e rápida veiculação, o Facebook permite informações de diversas fontes ao redor do mundo e um falho, demorado e ineficiente processo de checagem das informações transmitidas.
Em pesquisa realizada pelo Reuters Institute Digital News Report 2020, pesquisadores descrevem que 29% dos entrevistados manifestaram preocupação com a difusão de desinformação no Facebook, contra apenas 6% no YouTube e 5% no Twitter. Saber o que é real e confiável é considerado uma tarefa difícil. No mesmo levantamento, 56% dos participantes mostraram preocupação sobre como identificar o que é real e o que é falso quanto à absorção de informações divulgadas por mídias sociais.
Como a Meta busca combater as informações falsas no Facebook
A fim de combater as fake news e o jornalismo especulativo, a Meta criou uma ferramenta que diminui a dúvida sobre o que é, ou não é, verdadeiro. Atualmente, existe a “inscrição como jornalista”, que permite que os profissionais desta área sejam verificados pelo Facebook e, assim, passem a ser considerados fontes confiáveis de informação. Esta facilidade já está disponível para usuários do Brasil e outros 36 países, com representação em todos os continentes.
Os jornalistas que optam por este benefício são convidados para colaborar com a Página de notícias do Facebook, utilizando a conta pessoal, então verificada. Além de jornalistas, profissionais freelancer que trabalham em uma função editorial para alguma empresa de notícias também podem se unir ao grupo e receber o benefício da credibilidade na rede.
Apesar da dificuldade que muitos usuários enfrentam para compreender o que é verdadeiro e o que não é, a Meta busca paulatinamente formas de difundir dados verdadeiros em suas plataformas. No que tange ao Facebook, ferramentas já foram implantadas para a verificação de informações e para a denúncia do que é incerto. Mesmo sem oferecer completa credibilidade sobre o que os usuários divulgam, assim como outras redes sociais, a plataforma visa o rápido alcance da informação e se torna uma grande aliada do jornalismo.
Ao levar isso em consideração, vemos que o Facebook é, de fato, um espaço democrático, que, mesmo com delimitações e regulamentos, beneficia bilhões de usuários, que buscam a plataforma em busca de informação, além daqueles que a utilizam para exercer o papel de transmissão de conteúdos.
O Facebook tem a política positiva de contribuir com aqueles usuários que procuram veicular suas próprias plataformas de notícias, assim gerando lucros pessoais e movimentando a rede social. Desta forma, a Meta não se apresenta com o propósito de gerar capital sem oferecer um produto de qualidade em troca. Ao permitir a linkagem de outros conteúdos, favorece todos os lados envolvidos e movimenta a economia global.