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Jornalismo de entretenimento: notícia ou apenas fofoca?

A busca por audiência que leva informação a se confundir com especulação.

Camilly Inacio 

A constante busca por audiência rodeia os canais de comunicação na atualidade. Isso faz com que muitos se rendam ao tipo de matéria que gera muitos cliques, com títulos chamativos e exagerados, fofocas sobre famosos e notícias bizarras. Ao analisar a editoria de entretenimento e cultura pop dos veículos, Folha de São Paulo, Estadão e Metrópoles, podemos perceber que muitas vezes o jornalismo se perde no meio do entretenimento. 

Cultura e entretenimento

Para começar, é muito difícil distinguir a diferença entre cultura e entretenimento. Enquanto ‘cultura’ se refere a um conjunto de elementos que caracterizam uma sociedade ou grupo social, como valores, crenças, costumes e arte, o entretenimento é uma forma de lazer que busca proporcionar momentos de distração para as pessoas, através de produtos como filmes, músicas, séries de TV, entre outros. 

Embora haja formas de entretenimento que fazem parte da cultura de uma sociedade, nem todo entretenimento tem valor cultural ou artístico em si mesmo, podendo ser produzido apenas com fins lucrativos. São conceitos distintos e que devem ser compreendidos de forma separada.

Por essa razão muitas vezes os conceitos se confundem em um meio jornalístico, e ao procurar uma editoria específica de entretenimento nos três canais citados acima, tive dificuldade. Na Folha de São Paulo, entre as editorias encontrei uma chamada “f5”. Quem não conhece não sabe do que se trata, pois não existem especificações, e apenas ao clicar neste link somos redirecionados a uma nova página intitulada “f5 entretenimento e cultura pop na Folha”. 

Da mesma forma acontece na página do jornal O Estado de São Paulo, conhecido comumente como Estadão. Entre as editorias existe uma chamada “E+”, que redireciona o internauta para uma página de notícias sobre entretenimento e curiosidades. Por último, a página do portal de notícias “Metrópoles” traz uma categoria chamada “celebridades”, onde os textos se aproximam mais com fofocas que notícias.

Folha de São Paulo: F5 

Quando entramos nesta página logo podemos encontrar notícias de todos os tipos de celebridades, no entanto, não é possível escolher um período específico que se deseja ver. A página possui a divisão de categorias: Últimas, BBB 23, Astrologia, Bichos, Celebridades, Cinema/Séries, Estilo, Música, Televisão, Viva Bem, Você Viu? e Colunistas.

Ao observar o período de uma semana das últimas notícias, pode-se encontrar títulos como, “Priyanka Chopra reclama de cardápio do Met Gala e diz que sentiu fome: ‘Não havia pão’”, “Kylie Jenner é criticada por internautas ao sofrer para entrar em espartilho: ‘Consegue respirar?’”, “Shakira é vista com Tom Cruise em corrida de Fórmula 1 e fãs torcem por novo casal”, “Bianca Andrade nega ter tubarões dentro de casa” e “Mãe de Nick Carter, integrante dos Backstreet Boys, é presa por motivo excêntrico”.

Além disso, é possível perceber que em períodos de grandes eventos ou falecimento de alguma celebridade, vários textos sobre o mesmo assunto são publicados, como a morte da famosa cantora Rita Lee que gerou mais de 15 textos para a página. 

Estadão: E+ 

Pelo contrário, o recurso E+ do Estadão, mesmo sendo difícil de ser encontrado, se concentra em notícias mais “importantes” que intrigam, vendem, mas não são totalmente inúteis. A página é dividida nas categorias: “Últimas, Bem-estar, Blogs, Colunas, Bora.aí, Casa & Decoração, Comportamento, Gente, Moda & Beleza, Horóscopo e TV”. 

É de se admirar que tal página de entretenimento consiga fazer um bom equilíbrio entre o que o público quer ler e o que não tem necessidade de ser publicado. As notícias são curiosas e na maioria das vezes sobre famosos, mas ainda assim são notícias, não apenas fofocas e escândalos não confirmados. 

Metrópoles 

Entre as editorias apresentadas pelo portal do Metrópoles, estão duas interessantes, a de entretenimento e outra específica para celebridades, nesse caso, analisaremos os textos publicados na segunda citada. Os títulos são os melhores caça-cliques, e o conteúdo dos textos é inútil e em sua maioria esmagadora com pouquíssimas informações, além de nem sempre abordar o que foi dito no título. 

Entre alguns interessantes estão: “João Guilherme mostra novo visual com barba e divide opiniões na web”, “Rapper L7nnon se pronuncia após rumores de affair com Bruna Marquezine”, “Filha de Dennis DJ revela que recebe mensagens de jogador casado”, “Mesmo com filho milionário, pai de Gusttavo Lima leva vida simples”, “Poliana Rocha desabafa sobre relacionamentos: ‘Gente complicada’”, “Henrique, dupla de Juliano, revela o que fazia em festa universitária”, “Luciele di Camargo mostra treino e manda recado para Jojo Todynho”, “Musa do OnlyFans expulsa de supermercado diz que sofre ‘gostosofobia’”, “Mulher Abacaxi confirma divórcio após caso polêmico de topless” e “Cleo diz que “única coisa” que falta fazer na carreira é filme pornô”.

Léo Dias 

Mas dentro do próprio Metrópoles existe um colunista que não pode ser deixado de lado, Leo Dias, jornalista brasileiro conhecido justamente por seu trabalho na área de entretenimento e celebridades. Ele é conhecido por sua abordagem polêmica e por publicar notícias exclusivas sobre a vida pessoal e profissional de celebridades brasileiras. Além de suas atividades como jornalista, também é autor de livros sobre o universo das celebridades. 

Com várias polêmicas envolvendo exposição da vida de celebridades e até notícias falsas, o jornalista (se é que podemos chamá-lo assim), tem alguns títulos interessantes em sua coluna como “Modelo e reservada: saiba quem é a mulher de Nikolas Ferreira”. Este é o exemplo perfeito de uma matéria que não aborda o que o título propõe. Ele diz que a mulher do deputado é reservada e então faz uma chamada para saber quem é, como se o texto fosse trazer informações relevantes, mas ao terminar de ler o texto, o internauta continua sem saber quem é a modelo reservada.  

Além desse, existem outros títulos interessantes da coluna: “‘Quem quiser ser o pai, é só depositar o Pix’, diz mãe de bebê de Vitão”, “Luan Santana aparecerá na Globo duas vezes no domingo. Saiba detalhes”, “Descobrimos quem é o novo amor de Gkay”, “Em meio a notícias de separação, como está o casamento de Preta Gil?”, “Ex de Marina Ruy Barbosa, Guilherme Mussi vive romance com Mariana Rios”, “Natália, esposa de Zé Neto, revela quantos quilos perdeu. Saiba quanto”, “Após polêmica com ex, Bia Miranda prepara festão de R$ 1 milhão” e “Mel Maia obriga MC Daniel a cancelar show em puteiro. Entenda!”. 

Jornalismo especializado ou fofoca sofisticada?

As celebridades exercem uma grande influência na sociedade, moldando comportamentos e atitudes, o que torna qualquer notícia relacionada ao mundo dos famosos atrativa e popular para o público. Essa popularidade pode levar a uma mistura de notícias relevantes com notícias de entretenimento, desafiando a distinção entre jornalismo e entretenimento.

No entanto, o compromisso do jornalista com a sociedade é fundamental, e deve se basear na transmissão de informações próximas à realidade. Embora a verdade absoluta seja difícil de alcançar, é importante que o jornalista se esforce para transmitir notícias relevantes, ao invés de ocupar espaço com notícias consideradas “inúteis”. Essa postura é necessária para que o jornalismo cumpra sua função social de informar e contribuir para os rumos da sociedade.

O jornalismo tem a função de informar e o entretenimento de divertir. Com o aumento da informalidade e dramaticidade no jornalismo, pode ser difícil distinguir entre notícias relevantes e notícias que são misturadas com entretenimento. Isso pode resultar em uma confusão entre a realidade e a ficção, e tornar difícil distinguir entre os dois.

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