A interferência das ONGs
- 28 de outubro de 2020
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Somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal
Djuliane Rodrigues
As declarações que o presidente Jair Bolsonaro fez em seu discurso para a ONU a respeito dos incêndios no Brasil repercutiram. Em sua fala, ele disse que “somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”. De acordo com ele, há, por trás das ONGs internacionais, interesses pela riqueza que o bioma amazônico possui, visto que, de todos os territórios florestais do mundo, o Brasil abriga um dos mais importantes deles. Isso explica o porquê de ONGs internacionais terem tanto interesse em interferir nas reservas florestais do Brasil e nos negócios dos povos indígenas. Antes mesmo da ascensão do governo Bolsonaro, alegações semelhantes às que ele cita já eram denunciadas pelos próprios indígenas. Maynard Marques Santa Rosa, ex-secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa, sustenta que o maior objetivo dessas organizações deveria ser a defesa ao meio ambiente. Contudo, “muitas têm interesses ocultos com o tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, tráfico de armas e de pessoas, e até mesmo espionagem”, declara.
Em 2008, época em que Lula ainda era presidente da República, indígenas denunciaram a ação ilegal da ONG francesa Guayapi Tropical. Na ocasião, eles afirmaram que a entidade fez desvio do lucro da venda de guaraná produzido por setecentas famílias da tribo sateré-mawé, nos municípios de Barreirinha, Maués e Parintins, no interior do Amazonas. O próprio governo brasileiro deveria repassar um percentual sobre o valor total das vendas do produto na Europa às comunidades produtoras, entretanto isso que não aconteceu. “Nós vendíamos o quilo do guaraná em pó a R$ 22. Eles estavam comercializando o produto a 35 euros (cerca de R$ 99) a cada 100 gramas. É um absurdo”, afirma Jecinaldo Barbosa, presidente da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) na ocasião. Seis anos antes, (em 2002) também foi apresentada queixa contra ONGs em Roraima. Desta vez, a alegação era de que instituições que dizem tratar da saúde dos primitivos receberam recursos públicos da Fundação Nacional de Saúde, mas se recusaram a prestar atendimento a alguns índios, em uma atitude discriminatória. O problema central foi causado pelos padres catequistas que chegaram à região em 1970 a fim de impedir o desenvolvimento dos povos indígenas. A igreja, com as ONGs, explorou a ingenuidade daqueles índios, levando-os a viverem em total miséria. Enquanto um grupo sobrevivia em total limitação de desenvolvimento, outras povoações passavam por grande desenvolvimento. Pois lá, os próprios indígenas faziam pastagem e criavam gado a fim de lançar produtos no mercado.
Inimigas do Brasil
Sobre a demarcação de terras e o isolamento desses povos, representantes da Aliança de Integração e Desenvolvimento das Comunidades Indígenas de Roraima (Alicidir) afirmam o seguinte: “Isolamento dos índios não resolve os problemas. Os próprios também usam os ianomâmis como exemplo, pois na sua opinião os índios dispõem de uma grande área com potencial para fazer com que as comunidades progridam, mas o que se vê é o contrário.” Sobre isso, em 2019, Jair Bolsonaro chegou, inclusive, a receber a visita de indígenas que denunciavam ONGs que os multavam e os desmotivavam a trabalhar. O presidente disse então que eles não eram animais pré-históricos e acrescentou: “O índio não pode continuar sendo pobre em cima de terra rica. Todas as ONGs que trabalham contra vocês são nossas inimigas.”
A Amazônia, equivocadamente chamado de pulmão do mundo, não possui tal papel. Esta comparação está incorreta, uma vez que os responsáveis por este benefício são as algas marinhas, pois elas fabricam ar além do necessário e os jogam na atmosfera quase 55% de oxigênio de todo o planeta. Este bioma não produz 20% de gás do mundo, pois todas as selvas e bosques do planeta, juntos, de acordo com cientistas, produzem 24% de todo o oxigênio necessário. Contudo, derrubar a floresta impacta o clima do planeta. Quando não alimentam a indústria legal ou ilegal de madeira, árvores derrubadas se decompõem, liberando gás carbônico. Portanto, o que o presidente motiva é a exploração legal das florestas brasileiras e, como o próprio já disse, as queimadas deste período do ano são naturais, causadas pela seca. Além disso, a Amazônia é capaz de produzir sua própria chuva para influenciar o regime pluviométrico de outras regiões, como o Pantanal. Por fim, sabendo dos incêndios no Pantanal, o Canal da Imprensa fez uma breve pesquisa nos principais jornais do mundo e nada se falou sobre o caso. Se não há interesse por trás dos movimentos fomentados por grandes celebridades, por que a indiferença quanto ao bioma pantaneiro?