Incêndios no Brasil: uma cobertura quase completa
- 25 de setembro de 2024
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- Theillyson Lima
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Nem o G1 nem a CNN analisaram as medidas do governo brasileiro sobre os incêndios em sua cobertura midiática.
Gabrielle Ramos
Com o alto índice de incêndios florestais no Brasil, iniciados no final de agosto, uma série de questionamentos emergiu na mídia nacional. Segundo estimativa da Confederação Nacional dos Municípios, ao menos 11 milhões de pessoas foram diretamente afetadas. Além disso, praticamente todas as regiões do país lidaram com a presença de fumaça e alterações climáticas.
Nesse cenário, os jornais brasileiros se empenharam para oferecer uma cobertura completa, incluindo notícias atualizadas em tempo real, busca pelas causas dos incêndios e os diversos impactos. No entanto, surge a questão: eles realmente conseguiram abordar todos os aspectos necessários?
Para responder a essa pergunta, foram analisadas as coberturas da CNN e do G1 entre os dias 25 de agosto e 5 de setembro. Durante esse período, a CNN publicou mais de 130 textos relacionados aos incêndios, enquanto o G1 seguiu uma frequência semelhante, com mais de 80 publicações.
As hard news dos incêndios
Logo que os incêndios no Brasil tiveram início, as notícias assumiram um caráter de hard news. Ou seja, tanto o G1 quanto a CNN concentraram suas matérias no que estava acontecendo em tempo real, informando sobre os estados e localidades afetados, com dados e índices.
Os veículos também mostraram as ações dos governos estaduais no combate aos incêndios, além de destacar que o governo federal considerava a possibilidade do alto número de focos ser resultado de ações criminosas.
Mesmo com menos de uma semana desde o início dos focos, o G1 e a CNN já destacavam os impactos ambientais sobre a fauna e flora. Além disso, mostraram como as comunidades locais estavam sendo afetadas, tanto na saúde, devido à fumaça, quanto na infraestrutura e economia.
Nesse aspecto, o G1 foi além ao tentar alertar as comunidades sobre o risco de incêndios em determinadas áreas, fornecendo orientações sobre o que fazer nesses casos, incluindo para quais números ligar e outras instruções importantes.
Outro ponto que diferencia a cobertura dos jornais é que a CNN entrevistou especialistas para explicar as causas dos incêndios, além de abordar a possível relação entre esses eventos e a onda de calor que atingiu grande parte do Brasil.
Cobertura contínua
À medida que os focos de incêndio não diminuíram, os portais continuaram a veicular notícias do mesmo caráter. Mas reforçaram a cobertura sobre a suspeita de que o índice pudesse estar relacionado a crimes planejados. Além disso, o G1 relacionou as altas temperaturas, a falta de chuva e a péssima qualidade do ar aos incêndios.
Outro ponto é que os portais focaram em apresentar as medidas do governo. No entanto, estas apareciam como possibilidades, por meio das expressões ‘vão fazer’, ‘irão se reunir’ e ‘planejam instituir’. Apesar dessa aparente indecisão, ambos os portais evitaram criticar a demora do governo federal em implementar soluções concretas.
E o governo com isso?
Durante o período analisado, a CNN publicou majoritariamente conteúdos que envolvessem índices, além da suspeita de crimes. Já o G1 abordou quase igualmente temáticas sobre dados estatísticos e a conexão entre os incêndios e o clima do país.
Em contrapartida, a ausência de medidas governamentais foi deixada de lado. O texto da CNN que mais aborda essa questão é uma entrevista com Marina Silva. No texto, a Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima defende a atuação do governo Lula no combate às queimadas e ao desmatamento, e considera injusta a comparação entre a abordagem deste governo e a do anterior.
Entretanto, há uma escassez de matérias nos dois jornais sobre esse assunto. Em vez de cobrar ações do governo e fornecer dados comparativos, o G1, por exemplo, focou na especulação de que esses acontecimentos poderiam ser o próximo tema da redação do ENEM.
Essa abordagem contrasta com a cobertura dos incêndios em 2022, durante o governo Bolsonaro. Naquele ano, o jornal publicou a manchete: ‘Desmatamento na Amazônia cresce quase 57% no governo Bolsonaro, diz Ipam‘. Em contraste, neste ano, um dos títulos foi: ‘Com queimadas em diversas regiões, Lula visita centro de monitoramento de incêndios florestais‘.
É perceptível uma mudança na abordagem, apesar da responsabilidade dos governos ser a mesma. Enquanto, há dois anos, os jornais responsabilizavam Bolsonaro pelos índices alarmantes, neste ano, as ações do governo Lula são destacadas de forma positiva, mesmo com os índices preocupantes. Irônico, não?