Histeria não existe
- 14 de abril de 2020
- comments
- Thamires Mattos
- Posted in Editorial
- 0
A ansiedade bate à porta todos os dias. A vida se tornou um pouco mais pesada; mais caótica por dentro e parada por fora. Me parece a receita do desastre psicológico de uma geração, já plagueada pelas mudanças climáticas e problemas seríssimos de distribuição de renda. Mas as pessoas conseguem falar (e postar) que o pânico circundando a pandemia de Covid-19 é uma “histeria”.
Histeria, literalmente, não existe. A palavra fora criada na Grécia Antiga para se referir à doenças do útero; qualquer coisa que fosse um “exagero feminino”. Convenhamos: em uma sociedade em que mulheres eram majoritariamente vistas como corpos a serem fecundados, qualquer coisa seria exagero. A palavra continuou a ser usada, mesmo após a compreensão sobre a saúde da mulher. Esse é o primeiro erro ao usá-la, já que deveria ter sido abolida dos nossos dicionários.
O pânico moral é um fenômeno muito maior do que o apavoramento momentâneo que alguns insistem em chamar da palavra inominável acima; ele é um fenômeno social que pode não ter fundamento algum (como a Adalie Pritchard mostra aqui). Caso exista base, a movimentação será exagerada no pânico moral. Pode-se dizer que há traços disso no Brasil de hoje: gente que correu para estocar comida e papel higiênico, por exemplo. Mas quando lembramos de que o isolamento social está longe dos 70% recomendados pela OMS no país, esse argumento cai. Estamos com medo, mas, deveríamos levar esse sentimento mais a sério.
Que a Edição 183 do Canal da Imprensa te proporcione boas reflexões nessa quarentena. Fique em casa. Respire. Lave as mãos.
Boa leitura,
Thamires Mattos
Editora-chefe do Canal da Imprensa