Guerra é notícia hoje e sempre?
- 15 de maio de 2024
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- Theillyson Lima
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Talvez a cobertura factual de conflitos não esgote as possibilidades de abordagem jornalística.
Gabrielle Ramos
Atualmente, é praticamente impossível não estar ciente do conflito entre Israel e Palestina. Desde o ataque realizado pelo Hamas em 7 de outubro e a retaliação israelense, os meios de comunicação, incluindo portais de notícias e outros canais, têm mantido um acompanhamento constante desse assunto. No entanto, surge a questão: essa cobertura manteve a mesma intensidade desde o início do conflito, ou agora os bombardeios frequentes são vistos como algo comum?
Para compreender o que o jornalismo atual considera relevante em relação ao conflito, foram analisados os conteúdos dos dias 2 a 6 de maio no portal de notícias do grupo Globo, G1, e no canal de notícias CNN Brasil, reconhecido como um dos maiores do mundo.
Cobertura midiática atual
Ao analisar os conteúdos veiculados pelo G1 e CNN durante esses dias, é possível perceber que a quantidade de notícias sobre o conflito diminuiu. Observa-se que raramente as manchetes dos sites destacam assuntos relacionados à guerra, sendo mais comum encontrá-los apenas nas seções de notícias internacionais.
Em 2/05, ambos os portais apresentaram notícias sobre o conflito na página principal. Embora não fossem o destaque principal, essas notícias estavam em evidência. Isso se deve ao fato de que os protestos pró-Palestina que ocorriam nos EUA e em outros países geraram uma ampla repercussão em vários aspectos, como as ações policiais e as motivações por trás dessas manifestações.
Por outro lado, no dia 3/05, não havia nenhuma notícia relacionada a guerra na página principal dos portais de notícias. Já na seção sobre o mundo, ambos os canais ofereciam informações sobre a guerra, com foco principalmente em desdobramentos relacionados aos protestos. Apesar disso, eles pareciam não ser tão relevantes quanto no dia anterior.
Durante o fim de semana, ocorreram desenvolvimentos significativos no conflito, incluindo reuniões para buscar um cessar-fogo, relatos sobre o número de reféns e prisões após manifestações pró-Palestina em universidades, além de novos ataques. No entanto, esses assuntos não foram destacados como um tópico relevante nas páginas principais dos portais de notícias.
Isso aconteceu em razão das fortes chuvas no Rio Grande do Sul, que resultaram em enchentes, mortes e um grande número de desaparecidos. Além disso, o show da Madonna, com conteúdo polêmico e custos financeiros expressivos, também atraiu considerável atenção. Assim, a guerra perdeu a disputa no quesito relevância para esses portais.
Na segunda-feira, o G1 priorizou manchetes relacionadas às reportagens veiculadas no Fantástico, abordando as inundações no Rio Grande do Sul, entrevista com o motorista envolvido no acidente com Porsche e com a sobrinha do Tio Paulo, um idoso que faleceu dentro de uma agência bancária.
Já a CNN destacou na sua página inicial a ordem dos militares israelenses para evacuar Rafah imediatamente devido à possibilidade de novos bombardeios. Essa mesma informação também se encontra na editoria “mundo” no G1, mas não aparece na página principal.
Para além das manchetes
As matérias disponíveis no site do G1 durante este período adotam uma abordagem factual, ou seja, dedicam-se a relatar eventos recentes, fornecer explicações sobre o que ocorreu e discutir os possíveis desdobramentos. Esses conteúdos fornecem informações sobre as motivações por trás das manifestações, as ações da polícia e contextualizam o conflito em curso. Além disso, também tratam de questões diplomáticas, explorando a postura de diferentes países em relação ao apoio a Israel.
Na CNN, as notícias vão além das factuais, pois possuem conteúdos que se concentram mais em análises e opiniões sobre os acontecimentos. Entre estes, destacam-se exposições sobre mísseis e drones iranianos, bem como análises da complexidade das negociações para alcançar um cessar-fogo em Gaza.
A cobertura jornalística relacionada à guerra não deve ser interrompida, pois, embora os eventos sejam amplamente conhecidos e, por vezes, repetitivos, eles ainda representam a essência do jornalismo factual e mantêm sua relevância. No entanto, neste estágio do conflito, é crucial não apenas relatar os acontecimentos, mas também promover reflexões profundas sobre o assunto. A guerra e suas ramificações podem provocar uma reflexão mais profunda não apenas sobre a luta em si, mas também sobre outros temas interligados a ela.