Glenn Greenwald: autor da newsletter que não intercepta conteúdos antiéticos
- 8 de junho de 2022
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Jornalista deixa veículo de comunicação tradicional e passa a publicar o que quiser em plataforma que não regulamenta a informação.
Paula Orling
A newsletter é um material que apresenta um boletim informativo, normalmente veiculado via e-mail, e que viabiliza a informação rápida, opinativa e condensada. Apesar da simplicidade e facilidade que os leitores encontram ao consumirem estes conteúdos, vários processos jornalísticos são suprimidos na relação entre newsletter e leitor, especialmente a restrição que a linha editorial representa. Assim, figuras optaram por deixar o tradicionalismo dos veículos de comunicação dos quais faziam parte e se aventurar no mundo das newsletters. Este é o caso do jornalista Glenn Greenwald.
Ele, que é jornalista, advogado constitucionalista, escritor de best-sellers do New York Times e um dos fundadores do The Intercept (2013), largou a estabilidade para opinar. Na Substack, novo ambiente que ele escolheu , os jornalistas têm a liberdade de expor qualquer tipo de opinião, mesmo que fuja da ética jornalística.
Saída da Intercept
A respeito da sua saída da Intercept, Greenwald divulgou em outubro de 2020 que deixava o grupo porque ficou insatisfeito com o veto a um texto que criticava o presidente estadunidense Joe Biden, do partido Democrata.
Assim, o norte-americano radicado no Brasil passou a divulgar conteúdos na Substack – uma startup americana fundada em 2017, que viabiliza o jornalismo em forma de newsletter. Sua primeira publicação na plataforma foi uma crítica à Intercept, quando alegou sofrer pela censura. “As mesmas tendências de repressão, censura e homogeneidade ideológica que assolam a imprensa nacional geralmente engolfam o meio de comunicação que cofundei, culminando na censura de meus próprios artigos”, desabafou, justificando, em seguida, que o artigo questionava a conduta de Biden a partir de testemunhas e e-mails. O jornalista postou esta mesma declaração em sua rede social.
A partir da opção de usar um boletim informativo como plataforma de veiculação de informações, o jornalista dispensou qualquer hierarquia e padrão pré-estabelecido de regras de conduta que teve em seus trabalhos anteriores na Intercept, no The Guardian e no portal Salon. No novo sistema, se viu livre da linha editorial e da restrição a pensamentos extremistas que são comuns no seu discurso, limitações estas que chamou de “censura”.
Livre das condutas que questionavam a ética do profissional e restringiam a falta de apuração sobre alguns dos pontos trazidos no artigo, o jornalista optou por publicar seu artigo contra Biden no seu perfil da Substack, em 29 de outubro de 2020.
Neste artigo, além de colocar em pauta o posicionamento de Biden, que julgou incorreto, o comunicador também atacou outros jornalistas de seu país. Um como Christiane Amanpour, jornalista da CNN, quando esta desconsiderou a possibilidade de Biden fazer o que Greenwald o acusou de ter feito.
Em resposta à saída do jornalista, a Intercept afirmou que ele “exige o direito absoluto de determinar o que vai publicar”. O grupo ainda diz que ele “acredita que qualquer pessoa que discorde dele é corrupta e qualquer pessoa que pretenda editar suas palavras é um censor”.
Conteúdos veiculados no perfil da Substack de Glenn Greenwald
Em formatos de áudio e texto, Greenwald expressa seu posicionamento na Substack, principalmente quando o assunto é política. Temáticas como o presidencialismo norte-americano, guerra na Ucrânia, posicionamentos judiciais e liberalismo são recorrentes no perfil do jornalista.
Textos e áudios não têm uma regularidade fixa no perfil. Além de conteúdos liberados para quem quiser consumir, Greenwald também oferece conteúdos exclusivos para assinantes.
Apesar das pautas relevantes em um cenário atual, como é o caso do último texto publicado, a respeito dos atores Johnny Depp e Amber Heard, a opinião é densa e extremamente unilateral. A pauta promoveu seu podcast ao vivo, Callin, às 19h do dia 1º de junho. Por meio da transmissão, abriu espaço para sua massa seguidora de pensamento igualmente unilateral comentar sua opinião concordante e reafirmar seus argumentos sem qualquer filtro de uma linha editorial, a não ser a medida de sua própria consciência.
Durante a discussão, Greenwald questionou a justiça americana em relação à absolvição do advogado de Hillary Clinton, acusou a DCN e a mídia de fraudar o banco Trump/Alpha. Contudo, o foco do episódio do podcast foi questionar os atributos do julgamento entre os atores hollywoodianos, direcionando parte da programação ao caráter deles, além das estratégias jurídicas, citando seus conhecimentos na área da advocacia.
Posição em relação a Biden
Em outra situação recorrente entre as publicações de Greenwald está a crítica a Biden. Em seu último texto postado na Substack fazendo referência ao presidente, ele questiona a posição do político sobre sua relação com a Ucrânia. Já no título, acusa o político de imprudência e os EUA de “usarem” o país do leste europeu. Acusou o governo americano de não avaliar corretamente a sua participação na guerra, além de favorecer um lado para ter atenção da mídia.
Ele ainda destaca que Biden é uma “figura perfeita” para colocar em prática algumas atitudes que considera riscos à política nacional e internacional.
A guerra neoliberal
Ao tratar do tema do neoliberalismo contra uma dissidência no oeste, Greenwald acusou os que atualmente estão lutando contra o fascismo na região tendem ao despotismo.
Seguindo sua tendência, opinou que os jornalistas são tratados com censura ao cobrirem casos no Oriente Médio. Ao mesmo tempo, usa palavras duras ao se referir aos conteúdos publicados no ocidente em relação, mesmo que afirme que os posicionamentos autoritários na região são prejudiciais na construção das sociedades.
Posição incongruente do jornalista
Apesar de utilizar o benefício que a plataforma disponibiliza de poder transmitir opiniões livremente, o jornalista abre mão de ter seu material analisado por mais pessoas e filtrado por uma linha editorial, que tem por objetivo guiar os produtos jornalísticos, para que eles não contradigam um pensamento coletivo, preestabelecido por um grupo e mantido pelo editor.
Sem avaliar este processo importante da construção jornalística, Glenn Greenwald ultrapassa as restrições do que é ético e adentra em campos distantes do seu lugar de fala, como economia, ou mesmo ao julgar posições políticas e relações internacionais. Desta forma, passa dos limites da denúncia jornalística que beneficia a sociedade e passa a expor pessoas e situações de maneira pouco profissional, contrariando os princípios da ética jornalística.