Emoção ou ciência?
- 25 de setembro de 2024
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- Theillyson Lima
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A diferença entre as editorias impactam na profundidade do entendimento sobre as queimadas nas florestas brasileiras.
Isabella Maciel
O Brasil tem sofrido com mais de 100 mil focos de incêndio nas últimas semanas. Você já deve ter percebido que o céu da sua cidade está com uma cor diferente, o ar mais denso, e pessoas ao seu redor com novos problemas respiratórios. Isso tudo é resultado das queimadas. Quanto a mídia tem falado sobre os impactos das queimadas? Para entender mais sobre o tema, fiz uma análise entre dois grandes portais de notícias, G1 e CNN, para descobrir se essa pauta é realmente abordada de uma forma precisa
Camada de ozônio e efeito estufa
No G1, a cobertura sobre a camada de ozônio e o efeito estufa enfatiza a importância de políticas públicas e ações globais para minimizar os impactos das mudanças climáticas. Através de textos que discutem acordos internacionais, como o Protocolo de Montreal, o G1 destaca a responsabilidade coletiva na preservação da camada de ozônio, relacionada com a redução de gases de efeito estufa. Essa abordagem foca em ações governamentais e iniciativas de conscientização, focando na necessidade de uma mobilização social para fazer algo sobre a crise climática.
Por outro lado, a CNN tem se concentrado em estudos científicos e relatórios de especialistas, trazendo uma perspectiva mais técnica sobre a degradação da camada de ozônio e o aquecimento global. A análise de dados e a apresentação de pesquisas recentes são características da cobertura da CNN, que busca informar o público sobre as consequências diretas e indiretas do efeito estufa. Essa ênfase na pesquisa científica pode ajudar a criar um entendimento mais profundo, mas, em contrapartida, pode alienar leitores menos familiarizados com termos técnicos.
Ambos os veículos reconhecem a gravidade da questão, mas suas abordagens são diferentes. Enquanto o G1 se foca em uma narrativa mais acessível e voltada para a mobilização social, a CNN foca na análise crítica baseada em dados e estudos.
Mudanças climáticas e El Niño
Em relação às mudanças climáticas e ao fenômeno El Niño, o G1 frequentemente apresenta reportagens que conectam eventos climáticos extremos a políticas ambientais e seus desdobramentos. Os textos destacam como as oscilações climáticas, como o El Niño, afetam diretamente a agricultura, a segurança hídrica e os ecossistemas. A abordagem busca não apenas informar os impactos, mas também provocar a reflexão sobre a vulnerabilidade do Brasil a essas mudanças, promovendo uma discussão sobre a necessidade de medidas adaptativas.
Já a CNN, foca em análises globais sobre o fenômeno, trazendo perspectivas internacionais sobre como o El Niño impacta diferentes regiões do mundo. A cobertura é acompanhada por gráficos e dados, o que proporciona uma visão ampla e detalhada dos efeitos das mudanças climáticas em um contexto global. Além disso, a CNN apresenta entrevistas com climatologistas e especialistas, oferecendo uma base sólida para a compreensão das interações entre o fenômeno e as mudanças climáticas.
Enquanto o G1 contextualiza as mudanças climáticas dentro da realidade brasileira, a CNN adota uma abordagem mais ampla e científica. Essa diferença na cobertura pode influenciar o público de maneiras distintas, com o G1 incentivando uma consciência local e a CNN promovendo uma perspectiva global sobre um tema que afeta todos os países. A diversidade de abordagens é fundamental para que a sociedade compreenda a complexidade das mudanças climáticas.
Fumaça e saúde
A cobertura sobre fumaça e saúde é outro aspecto onde os dois veículos se diferenciam. O G1 frequentemente relaciona a poluição do ar, provocada por queimadas e outros fatores, a consequências diretas para a saúde pública, como doenças respiratórias e cardiovasculares. A narrativa é muito acompanhada por relatos de especialistas e estatísticas que evidenciam a urgência do problema, promovendo a conscientização sobre a importância de ações de controle e prevenção.
A CNN também trata do impacto da fumaça na saúde, mas tende a explorar mais a fundo os mecanismos científicos que explicam esses efeitos. Reportagens que incluem análises de pesquisas sobre como a poluição afeta a saúde a longo prazo, discutindo não apenas os sintomas, mas também as consequências sistêmicas da exposição à fumaça. Essa ênfase em estudos e evidências científicas promove a discussão, embora possa ser mais densa e exigir um nível maior de entendimento do leitor.
As coberturas abordam os impactos da fumaça das queimadas na saúde, mas o G1 foca mais na urgência e nas consequências diretas para a população, enquanto a CNN oferece uma análise mais detalhada e técnica. Essa diferença pode ser vantajosa em termos de informar e educar o público, mas é importante que ambos os veículos encontrem um equilíbrio entre acessibilidade e profundidade para promover uma compreensão efetiva dos riscos associados à poluição do ar.
Preservação dos animais
O G1 destaca casos específicos de espécies ameaçadas, abordando a relação entre desmatamento, queimadas e a perda de habitat. As reportagens costumam incluir apelos emocionais, com histórias de resgates de animais e iniciativas de conservação que visam engajar o público em causas ambientais. Essa estratégia pode incentivar leitores a se tornarem defensores da preservação da fauna, mas às vezes faltam dados científicos que sustentem as matérias.
Por outro lado, a CNN tem se concentrado em falar sobre as implicações das ações humanas sobre a biodiversidade, apresentando estudos que discutem a conexão entre a perda de habitat e as mudanças climáticas. A cobertura é mais orientada para análises de políticas de conservação e os desafios que elas enfrentam em escala global. Isso permite uma compreensão mais profunda das complexidades envolvidas na preservação dos animais e os esforços necessários para reverter a ameaça das espécies.
As diferentes abordagens dos veículos na cobertura da preservação dos animais refletem suas respectivas editorias. O G1 opta por uma narrativa mais emocional e acessível, enquanto a CNN se aprofunda nas questões estruturais e políticas que afetam a biodiversidade. Essa diversidade na cobertura é essencial para atender a diferentes segmentos do público, contribuindo para uma conscientização mais ampla sobre a importância da conservação.
Para que a mídia cumpra seu papel de informar e educar, é fundamental que haja um equilíbrio entre a acessibilidade das informações e a profundidade dos fatos. Os veículos de comunicação devem se esforçar para traduzir dados científicos complexos em narrativas que sejam compreensíveis para o público em geral. Além disso, a promoção de ações concretas e a transparência sobre políticas ambientais são essenciais para construir uma sociedade mais consciente e engajada para a melhora.
Assim, o caminho para a melhora na cobertura midiática sobre questões ambientais envolve um compromisso com a clareza, a precisão e a responsabilidade social. A diversidade nas abordagens é boa, mas é fundamental que as narrativas se unam em prol de uma causa comum: a sustentabilidade e a preservação do nosso planeta.