El Espectador: sem ataques ofensivos, a sutileza é suficiente
- 28 de outubro de 2020
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O jornal colombiano critica com classe, elegância e determinação
Hellen Piris
Fundado em 1886 e considerado o jornal de maior circulação nacional e o mais antigo do país, o periódico colombiano El Espectador se revela imparcial e acompanha de perto a situação das queimadas no Brasil. A primeira pessoa que disse que tudo neste mundo é política certamente continua em anônimo, porém a sua afirmação se perpetua presente e ativa em nosso meio.
Ao analisar a forma na qual um determinado país noticia fatos sobre outro, a relação política entre ambos é um fator decisivo para compreender a forma na qual os fatos são comunicados. Neste caso, a relação política entre o Brasil e a Colômbia aparenta ser saudável e até amigável. Desde 2010, o intercâmbio comercial e a cooperação militar com o objetivo de combater o crime na fronteira solidificaram o vínculo. Contudo, desde o momento em que o fogo começou a consumir a floresta tropical da Amazônia e o bioma do Pantanal no início deste ano, e a situação foi se intensificando até a atualidade, El Espectador informou periodicamente sobre os avanços do fogo e os estragos ocasionados no meio ambiente.
O jornal não se destaca pela frequência com a qual noticiam os acontecimentos, já que não são mais de uma ou duas matérias por semana sobre o assunto. O seu diferencial reside na aplicação da visão científica, detalhada e bem-explicada, com a qual os textos se apresentam ao público.
Críticas ao presidente
Diferente de outros países, dentro do território colombiano há 109.665 km² da Floresta Amazônica, o que constitui o denominado “Departamento de Amazonas”, o maior estado do país. Possuir este tesouro natural gera uma empatia maior com relação à situação crítica atual que o Brasil sofre. As críticas à pessoa do presidente Jair Bolsonaro não costumam ser diretas, porém os textos noticiando sobre os dados alarmantes de desflorestamento e rápido avanço do fogo e perdas no ecossistema falam por si só sobre o pouco controle que Bolsonaro tem sobre a situação, e a falta de importância que ele confere ao trágico cenário.
Em 1.° de outubro, El Espectador publicou uma matéria informando sobre o crescimento dos incêndios desde janeiro até setembro deste ano no Brasil, Paraguai e Bolívia. No último parágrafo do texto, com o título “El negacionismo de Bolsonaro”, o jornal critica fortemente o discurso do presidente brasileiro, que acusa as organizações não-governamentais e os próprios indígenas pela destruição das florestas.
Além disso, apontam a vitimização de Bolsonaro perante as críticas recebidas pela sua má-gestão ao não proteger a natureza. Tendo em conta que essa é uma das pouquíssimas vezes nas quais o jornal ataca diretamente o posicionamento de Bolsonaro, percebe-se que o diário mantém uma linha de imparcialidade moderada e constante. É generalista, e isso é claramente contemplado em seus textos e maneira de informar.
El Espectador não busca encontrar um culpado em meio às chamas nas quais ardem o Amazonas e o Pantanal, apenas procura manter os seus leitores informados sobre os últimos fatos relacionados à essa pauta, permitindo conclusões individuais e livres de interferências ideológicas.