Ecocídio como papel de parede
- 30 de setembro de 2019
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- Thamires Mattos
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A Revista Exame não produziu nenhuma reportagem especial sobre as queimadas. Porém, busca explicar o que houve
Andressa Viana
Os incêndios na Amazônia ganharam maior destaque e atenção da mídia e da população a partir do final do mês de agosto de 2019. A não novidade de queimadas constantes na Floresta Amazônica chocou o mundo após uma água cinza com forte cheiro de fumaça escurecer o céu de São Paulo no meio da tarde. A partir desse evento, que despertou suspeitas, a Revista Exame começou a prestar atenção no que ocorria ao norte do país.
A cobertura começou com uma contextualização histórica. Logo de início, replicou uma matéria da agência internacional Reuters, que trouxe dados dos últimos sete anos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostrando que o Brasil atingiu o recorde de queimadas dos últimos sete anos. Em relação a 2018, o número de focos cresceu 83%. A revista não produziu nenhuma reportagem especial no período de análise (18 de agosto à 1º de outubro). Porém, buscou trazer especialistas como fontes necessárias para explanação dos acontecimentos. Dados da Agência Espacial Americana (Nasa) também foram bem aproveitados na hora de mostrar a expansão de danos.
Apenas após alguns dias de cobertura, a Exame publicou o primeiro parecer governamental. O presidente Jair Bolsonaro falou à mídia. Ele afirmou que ONGs de preservação estariam por trás das queimadas. A Exame acrescentou, ao lado das palavras de Bolsonaro, que a alegação presidencial não tinha evidências concretas. Essa informação foi repetidamente usada em outras reportagens, adicionando ao texto a informação de que, desde a campanha presidencial, Bolsonaro pretendia flexibilizar o Código Florestal Brasileiro. Em outras apurações, a Exame também divulgou que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que “as notícias sobre os resultados das queimadas eram falsas e criticou o sensacionalismo ambiental sobre o tema”.
A cena estava montada. O Brasil pegando fogo, e tudo que o público conseguia enxergar – ainda que turvo pela fumaça – era uma oportunidade de ajudar o chamado “pulmão do mundo” a se recuperar do câncer há muito adquirido, mas, há pouco notado.
Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra. Esses são países que, segundo a Exame, se manifestaram midiaticamente culpando o governo Bolsonaro pelas queimadas. Com diversas citações de jornais foram colocadas, como o New York Times, que afirmou: “O desmatamento na Amazônia aumentou rapidamente desde Bolsonaro [sic], eleito em outubro, assumiu seu cargo como presidente da República”. Pronunciamentos de líderes das nações que suspenderam o repasse de recursos para o Fundo Amazônia por serem contra as políticas adotadas pelo presidente brasileiro também foram citadas.
Apesar das muitas informações negativas ao atual governo, foi noticiado também, ainda que de forma sucinta, o ato presidencial de enviar as Forças Armadas para ajudar a combater o fogo. No entanto, a Exame não evidenciou sua maneira de atuação.
A digital partidária da Revista Exame não está situada ao lado do presidente Jair Bolsonaro. E, nesse contexto, o ecocídio brasileiro pareceu apenas um papel de parede em uma casa bagunçada, onde os moradores querem sempre ter uma opinião mais reconhecida que o outro. No final das contas, o problema real vai para escanteio.