DISNEY+ tá com fome
- 24 de abril de 2024
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- Theillyson Lima
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Não satisfeito em ser considerado um “império” por si só, Disney adiciona “conglomerado” a sua longa lista de características.
Cristina Levano
Durante os últimos anos temos visto o rápido crescimento do streaming, assim como a ascensão de “titãs digitais” que com a intenção de continuar no ar, tiveram que se adaptar ao mundo do entretenimento atual. Ainda assim, são poucos os que conseguem sobreviver a esta nova forma de consumo do entretenimento, e mais ainda, ao ter que concorrer com plataformas que estão melhores posicionadas, ou possuem uma voracidade expansionista como a Disney+.
Claro que quando se fala de plataformas de streaming, a Disney não é tão experiente quanto a Netflix, que tem anos nesse mercado é considerada como a “pioneira” em alterar a forma como as pessoas consomem produtos de entretenimento em todo o mundo. Ainda assim, o “streaming do Rato” tem se fortalecido nos últimos anos através das aquisição de marcas e propriedades que variam de Pixar e Marvel a Star Wars e National Geographic. Além disso, ao fazer “parcerias” com plataformas estabelecidas como Hulu e STAR+, a Disney está mais do que apenas consolidando seu império. Mas será que “se consolidar como plataforma de streaming” é o motivo principal da fome da Disney?
O início do “plus”
A chegada do Disney+ teve um início significativo no cenário do streaming, com uma entrada antecipada e estratégica no mercado. Assim, em 12 de novembro de 2019, se lançou a plataforma nos Estados Unidos, Canadá e Países Baixos, e com o tempo o serviço foi gradualmente expandido para outros territórios. Desde o início, o Disney+ foi acompanhado de uma considerável expectativa do público, alimentada pela promessa de acesso a uma vasta biblioteca de conteúdo, que iam desde filmes clássicos da Disney até novo conteúdo original exclusivo.
Essa abordagem, combinada com uma extensa campanha de marketing, gerou uma grande quantidade de interesse e entusiasmo em torno da plataforma antes mesmo de seu lançamento. O serviço foi concebido para oferecer uma alternativa atraente aos serviços de streaming já estabelecidos, capitalizando um extenso catálogo de entretenimento da empresa e suas subsidiárias.
No entanto, o lançamento do “plus” não esteve livre de desafios. Como ocorre com muitos lançamentos de plataformas de streaming, houve alguns contratempos técnicos iniciais, incluindo problemas de acesso e transmissão de conteúdo, confusão com o uso da plataforma, porque querendo ou não o público já estava acostumado a outro tipo de formato de streaming devido as plataformas predecessoras a Disney.
Essas questões, embora relativamente comuns em lançamentos de grande escala, foram amplamente notadas pelos usuários e destacaram a importância da infraestrutura técnica sólida para sustentar a demanda inicial, o que foi o início de uma longa lista de prós e contras, por conta dos usuários.
Fome de audiência
A plataforma sempre demonstrou uma fome insaciável por conquistar espectadores em todo o mundo e de todas as idades, e isso se reflete em suas estratégias agressivas de expansão e aquisição de conteúdo. Ao consolidar um vasto catálogo de propriedades de entretenimento sob suas orelhas a Disney+ tem como objetivo não apenas atrair, mas também reter uma base de assinantes leais. Além disso, não é novidade que a busca por audiência é impulsionada pela necessidade de competir em um mercado saturado de serviços de streaming, que cada vez é maior, o que leva a Disney+ a adotar uma abordagem multifacetada para garantir sua posição de destaque.
E a estratégia funciona. Uma clara prova disso foi agosto de 2022, quando Disney+ ultrapassou a marca de 221 milhões de usuários globais, somando suas três plataformas (Disney+, ESPN+ e Hulu), superando a Netflix, e ainda no último trimestre fiscal, a empresa adicionou 14,6 milhões de novas assinaturas, elevando o total combinado para 236 milhões de clientes nos três serviços.
Ainda assim, no relatório do trimestre fiscal de 2022 divulgado em novembro do mesmo ano pela plataforma, a empresa revelou um prejuízo de US$1,5 bilhão, apesar de ter adicionado 12,1 milhões de novos assinantes e manter a liderança do mercado em número de contas pagantes. Isso evidencia que, pelo menos na disputa pela fidelização da audiência, a Disney está demonstrando competência em suas estratégias de negócio.
Da mesma forma, a plataforma tem buscado ativamente expandir sua presença global, levando seu conteúdo para novos mercados e adaptando-o para atender às preferências culturais locais, visando não apenas aumentar sua base de assinantes, mas também fortalecer sua marca como uma potência indiscutível no mercado global de entretenimento.
Por exemplo, em fevereiro deste ano, Disney+ empatou com Max na competição pela terceira posição entre os serviços de streaming no Brasil, com 13% dos assinantes, segundo dados de uma pesquisa da guia de streaming, Just Watch, divulgados em março do mesmo ano.
Se considerarmos a soma dos aplicativos Disney+ e Star+, ambos da Disney, o segundo lugar seria ocupado por eles, com 22%. Esta pode ser uma especulação pertinente, tendo em conta que os dois aplicativos estão planejando a fusão de serviços ainda em 2024. E por mais que seja uma fusão, que nome vai primeiro na capa da revista? Sim, a Disney+.
De volta à TV cabo?
Atualmente, a oferta da Disney não se limita apenas ao entretenimento. Ela se tornou uma entidade midiaticamente presente, em especial depois da parceria com canais de televisão como ABC e ESPN, ampliando seu catálogo para atingir a uma maior quantia de faixas etárias. Inclusive, recentemente informou estar analisando proporcionar conteúdos mais voltados para o público adulto, deixando de lado a cara de ser uma plataforma que tem o público infantil como principal. Dessa forma, a empresa não apenas está moldando o futuro do streaming, mas ao mesmo tempo está trazendo a era do streaming, de volta para o cenário televisivo tradicional. Afinal, por que ser uma plataforma de streaming quando você pode ser uma entidade completa de entretenimento?
Essa estratégia da Disney, de incorporar tanto o conteúdo em alta demanda, poderia ser considerada como uma evolução peculiar no mundo do entretenimento. Enquanto o streaming tem sido amplamente considerado como o futuro dominante do consumo de mídia, a Disney optou por não apenas abraçar essa tendência, mas também reviver elementos do passado, pegando alguns costumes de quando o inovador era a televisão a cabo. Essa estratégia capitaliza a nostalgia associada à experiência televisiva convencional, ao juntar diversos conteúdos em um só lugar, por um preço aceitável.
Quantidade e qualidade
Por outro lado, essa busca incessante por audiência também traz à tona o problema com a saturação do mercado e a qualidade do conteúdo oferecido, isto considerando que as últimas produções originais da Disney têm sido desastrosas, e com uma queda considerável na boa recepção do público.
Embora seja melhor economicamente para o consumidor que a Disney+ engolisse outras plataformas, é preciso que ao mesmo tempo em que a expansão implacável continua, exista um equilíbrio entre quantidade e qualidade, garantindo que seu amplo e diversificado catálogo ainda seja capaz de cativar e entreter os espectadores em meio a uma variedade cada vez maior de opções de entretenimento. Mas será que a plataforma de streaming do Mickey vai dar conta de satisfazer o pedido e as necessidades dos seus diferentes públicos, se manter bem economicamente e ainda produzir conteúdo original de sucesso? Não sei, mas esse é o preço da fome da Disney +.