Bombas assassinas em busca da Utopia
- 2 de setembro de 2019
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- Thamires Mattos
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O palco dado ao criminoso pode ser, ao mesmo tempo, proteção aos vulneráveis
Leonardo José
Se mencionar o nome Theodore Kaczynski, tenho a convicção de que a maioria dos leitores não reconhecem o indivíduo. Entretanto, ao utilizar o seu pseudônimo, Unabomber, isso lhe trará tons de familiaridade – seja aos que acompanharam a sua captura, em 1996, ou aos que assistiram a série Manhunt: Unabomber. Para os mais antigos, os detalhes das investigações e das falsificações das pistas sobre quem era Kaczynski também foi um marco.
Entre os anos de 1978 e 1996, Kaczynski, posteriormente apelidado como Unabomber, havia enviado 16 cartas-bombas. Essas foram responsáveis por três mortes. Outras 23 pessoas ficaram feridas. Apesar de ter optado pelo extremismo ideológico, ele foi um adolescente com capacidades acima da média. Era o melhor aluno de matemática do seu ensino médio. Foi aprovado para ser estudante em Harvard, a tradicionalíssima universidade norte-americana e referência mundial, onde se formou em Artes.
No ano de 1962, o Unabomber se mudou para Michigan, onde acabou se especializando em matemática. Fez mestrado e doutorado na Universidade de Berkeley. Lá, se tornou professor, porém, largou o cargo de forma inesperada. Abandonou tudo para morar em uma cabana, longe dos meios tecnológicos que as cidades propõem, invariavelmente. Há duas suposições para a sua abrupta mudança. Uma a de possíveis traumas adquiridos em Harvard, quando o mesmo foi utilizado para fortes experimentos psicológicos. A outra, descrita posteriormente por ele, era sua contrariedade aos meios tecnológicos, que, em sua opinião, iriam destruir a sociedade e o meio-ambiente.
Foi em 1978 que suas atividades terroristas iniciaram. Desde então, Kaczynski se tornou o maior objeto de desejo do FBI, demorando 18 anos para ser capturado. A perspicácia do Unabomber era tanta que, em todas as bombas que detonava, deixava grifado um “FC”. Essa simples manobra sem significado algum fazia o FBI perder muito tempo. Não à toa Kaczynski era tido como um gênio por professores e colegas que conviveram com ele nas universidades. Para se ter uma ideia, o QI dele era de 161, enquanto de demais serial killers tem a média de 94.
O que impressiona no famoso caso Unabomber era a sua ideologia. Foram motivações políticas, fundamentadas com referências respeitadas na sociologia, que o levaram ao extremismo. Autointitulado anarquista, ele afirmava que seu engajamento era direcionado a lutar contra a tecnologia e seus supostos males ao meio-ambiente e a sociedade. As liberdades individuais e políticas de todo cidadão devem ser resguardas, porém, neste caso, inegavelmente os excessos chegaram ao nível de extremismo.
No ano de 1995, Theodore combinou que pararia com os ataques, caso sua carta fosse publicada pelos maiores jornais dos Estados Unidos: New York Times e The Washington Post. O conteúdo dizia: “A revolução industrial e suas consequências foram um desastre para a raça humana. Aumentaram a esperança de vida dos que vivem em países avançados, mas desestabilizaram a sociedade e condenaram os seres humanos à indignidade”. Se tratando de sociologia, o pensamento dele não deve ser recriminado. Muitos intelectuais inclusive concordam com os dizeres desta frase. E, mais uma vez, temos a mídia agindo em cooperação com os investigadores a favor do público. A decisão de publicar os escritos do Unabomber pode ser eticamente questionável. No entanto, é impossível negar que a proteção aos indivíduos em perigo vem em primeiro lugar. Em casos como esses, o palco dado ao criminoso é, ao mesmo tempo, proteção aos que estão vulneráveis.
Com este caso, o que fica de lição é a necessidade de uma conscientização dos valores democráticos. A partir do momento em que Theodore optou pelo terrorismo, todo o seu ideal passou a ir contrário à dignidade e respeito que ele dizia querer ver instalado numa sociedade próspera e harmônica.