Ameaça ao regime ou ameaçados pelo regime?
- 22 de setembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Juliana Dorneles
The MazeRunner, traduzido como Correr ou Morrer, é uma das trilogias que ganhou espaço nas bancas e no cinema nos últimos tempos. Igualmente a Divergente, Jogos Vorazes e algumas outras obras contemporâneas, a história apresenta uma sociedade com um sistema de governo diferente do vigente. Talvez pelas histórias de superação e heroísmo, este tipo de material têm chamado a atenção e ganhado a apreciação do público.
A trilogia conta o caso de um grupo de meninos que, misteriosamente, foi parar em ambiente cercado por muros enormes. Os garotos não se lembram de onde vieram, como foram parar ali e, sequer, o próprio nome. A única possível forma de sair do local, que eles apelidaram de Clareira, é por um labirinto que abre as portas pela manhã e as fecha a noite. Ninguém que tivesse ficado preso durante a noite sobreviveu para contar o que acontecia lá dentro. Além disto, o labirinto muda de forma a cada vez que se fecha. Outro ponto de dificuldade para o desbravamento é uma espécie de aranha gigante mecânica, a que os garotos nomearam de Verdugos.
A vida na Clareira é regida por regras e respeito à uma hierarquia. Eles são separados em grupos, de acordo com suas habilidades, para executarem funções e cooperar para uma boa convivência. Uma equipe cuida da terra, outra é responsável pela administraçãoda comida. Ha também os madeireiros e os carpinteiros. Acima destes estão os Corredores. Escolhidos por seu condicionamento físico, eles tem a função de correr pelo labirinto a fim de tentar encontrar a saída. Ninguém além dos corredores pode passar dos limites da Clareira, exceto Alby, que tem autonomia por ser o líder.
A ideia de que cada um deve fazer a sua parte e se contentar com as limitações de sua função é pregada e embutida na cabeça dos meninos. Todos concordam e respeitam o princípio, até a chegada deThomas, o último garoto a ser mandado. Diferente dos outros ele questiona, não se satisfaz em apenas fazer o seu trabalho, quer ir além, tem gana de escapar dali.
O uso da violência, medo, totalitarismo, chantagem, imposição religiosa, dentre outras, são formas de controle e de padronização de comportamentos. A trilogia de The MazeRunner apresentou outra maneira, a qual, diga-se de passagem, nós, muitas vezes, também somos atingidos: o reconhecimento do trabalho em equipe e do companheirismo. Qual é o mal disso? No exemplo do filme, os meninos valorizavam-se, engrandeciam o serviço de cada um, fazendo com que os trabalhadores se contentassem e acreditassem que era o máximo que podiam fazer. Assim, os garotos consideravam-se úteis, satisfaziam-se com seu trabalho e como consequência diminuía o risco de uma revolução. Limitados, eles deixavam de ser uma ameaça ao regime.
Thomas desobedeceu às regras, entrou no labirinto sem ser um Corredor, matou um Verdugo e por fim encontrou a saída. Ele não se deixou levar cegamente pela imposição de seus superiores. Trazendo para a atual realidade, não basta apenas executar seu trabalhado honesto e aceitar tudo o que o governo impõe. É preciso pensar, ir além do mediano, ponderar, agir conscientemente, com sensatez eencontrar a saída. O povo deve cumprir seus deveres, cobrar seus direitos e se preciso, sim, ser uma ameaça ao regime.