“A tarde é de Sonia Abrão”: quando a sensibilidade é trocada pelo sensacionalismo
- 1 de novembro de 2023
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- Theillyson Lima
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Análise do trabalho da apresentadora e seu papel no caso Eloá.
Cristina Levano
Quem não gosta de fofoca? Seja nas conversas familiares ou num rolê com os amigos, as fofocas, assim como boatos e suposições, sempre estão presentes. Por isso, não me surpreende que os programas de fofoca tenham invadido as telas de televisão e preenchido as páginas de revistas e sites de notícias com uma avalanche incessante de escândalos e detalhes da vida privada de celebridades, e de pessoas em geral.
Sob o pretexto de entretenimento e informação, esses programas construíram impérios midiáticos com base na curiosidade humana por fofocas e na busca insaciável por notícias sobre figuras públicas. Mas o que realmente reside por trás das manchetes sensacionalistas e das conversas de bastidores que esses programas promovem? Qual é o impacto que esses programas têm na sociedade e os limites que frequentemente ultrapassam em busca de audiência?
Neste contexto, entra a “queridíssima” Sonia Abrão, jornalista e apresentadora brasileira, amada por alguns e odiada por outros. Sua carreira é extensa e sua popularidade significativa, mas, ao mesmo tempo, ela tem sido alvo de críticas por suas práticas jornalísticas controversas e por ultrapassar os limites éticos em sua busca pelo sensacionalismo.
Conhecendo a Sonia
Nascida em 5 de junho de 1961, em São Paulo, Sonia Abrão é apresentadora e deu seus primeiros passos na comunicação como repórter, trabalhando em diversas emissoras de televisão no Brasil. Ela gradualmente conquistou reconhecimento em sua cobertura de eventos sociais e de celebridades, demonstrando uma habilidade inata para explorar o universo das fofocas de celebridades. Foi durante essa fase inicial de sua carreira que ela começou a moldar seu estilo jornalístico, caracterizado por um tom sensacionalista e intrusivo.
Sonia Abrão se tornou uma figura conhecida nacionalmente quando assumiu a apresentação do programa “A Tarde é Sua”. Este programa, que se tornou um dos principais programas de entretenimento (para não falar “programa de fofoca”) no Brasil, focava em escândalos e nas vidas privadas de personalidades do entretenimento. Abrão se tornou a voz por trás da mesa de debates que discutia as últimas notícias e polêmicas do mundo das celebridades, onde – reforço – continuou a se destacar por sua abordagem sensacionalista e muitas vezes controversa, o que contribuiu significativamente para sua notoriedade.
Intrusão e fake news
A carreira de Sonia Abrão está marcada por uma série de polêmicas que envolvem sensacionalismo, intrusão na vida privada de celebridades, abordagens questionáveis de casos sensíveis e conflitos públicos. Inclusive uma das principais críticas é seu histórico escandaloso em sua abordagem jornalística. Enquanto o jornalismo de entretenimento tem um espaço reservado na mídia, ainda assim existe uma linha tênue entre reportagem informativa e sensacionalismo que muitas vezes é ultrapassada.
O sensacionalismo é caracterizado por uma ênfase exagerada em detalhes chocantes ou escandalosos, muitas vezes à custa da veracidade e da ética jornalística. Lamentavelmente ao longo dos anos, Sônia vem demonstrando uma inclinação em priorizar o escândalo em sua busca por audiência do que se importar pela veracidade dos fatos.
Um exemplo disso foi a fake news, que a apresentadora disse sobre a atriz Elizabeth Savalla. No programa “A Tarde é Sua”, Sonia repercutiu que Elizabeth teria recusado um papel na novela das 21h da Globo “Terra e paixão”, informação que tempo depois foi desmentida pela própria atriz no seu instagram postando uma foto do programa passando na tela. Na legenda, a atriz escreveu: “Não sei de onde tiraram isso, não é verdade, não procede, em momento algum fui consultada. Desculpe, mas sempre prefiro a verdade”.
Esse não foi o único caso de fake news a ser desmentido nas redes sociais. Em 2016, a Sonia contou no mesmo programa que o apresentador César Filho deixaria o “Hoje em dia” para trabalhar no “Domingo Espectacular”. A informação era falsa.
De igual forma, a falta de sensibilidade e excesso de intrusão da apresentadora é evidenciada continuamente na sua cobertura de inúmeros casos envolvendo celebridades, nos quais ela não hesitou em explorar as vidas privadas de indivíduos, muitas vezes sem o devido respeito à sua dignidade e privacidade. Isto levanta sérias questões sobre seu papel como jornalista e sobre a responsabilidade dos profissionais da mídia em reportar notícias de forma ética e imparcial.
Como “jornalista” Sonia, não demonstra respeitar a ética e o dever que vem de mãos dadas com a profissão, como respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão. A apresentadora poderia alegar serem “figuras públicas”, mas ainda são seres humanos.
Falta de sensibilidade no caso Eloá
A cobertura do caso Eloá Pimentel, uma jovem brasileira que foi mantida refém por mais de 100 horas por seu ex-namorado em 2008, que terminou tragicamente, com a morte de Eloá, é um exemplo contundente de como a falta de limite midiático pela busca de audiência, pode chegar a atrapalhar o trabalho da polícia.
Durante as horas em que Eloá se encontrava sequestrada, a polícia estabeleceu contato com o sequestrador, Lindemberg Alves, através de negociações e tentativas de estabelecer um diálogo para libertar Eloá e suas amigas que também estavam no apartamento. A polícia estava fora da casa em que ela foi presa, mas eles não eram os únicos, junto a eles estava um grupo de jornalistas, acompanhando os acontecimentos. Mas o que tem a ver a Sonia em tudo isto? Qual foi seu papel nessa cobertura?
A cobertura do caso Eloá por Sonia Abrão e sua equipe de produção gerou críticas generalizadas pela falta ética jornalística e responsabilidade na cobertura de notícias sensíveis. A jornalista e seu programa “A Tarde é Sua” em vez de adotar uma abordagem equilibrada e ética para relatar os eventos, pareceu mais interessada em criar manchetes sensacionalistas, explorando detalhes pessoais e emocionais da vítima e de sua família. Sonia Abrão foi até criticada por realizar entrevistas invasivas com familiares de Eloá, deixando de lado como os familiares poderiam estar se sentindo naquele momento de incerteza e tensão. Sonia também não hesitou em pressioná-los para obter informações que poderiam aumentar a dramaticidade de sua cobertura. Essa abordagem agressiva contribuiu para a atmosfera de hostilidade e sensacionalismo que cercou o caso.
A sensibilidade foi sacrificada em prol do sensacionalismo. Sonia estava mais preocupada em criar um drama cativante para sua audiência do que em fornecer uma análise informativa e equilibrada dos acontecimentos. Esta falta de limites compromete a integridade do jornalismo e afeta a confiança do público nas notícias e informações apresentadas pela mídia.
O maior “erro” de Sonia Abrão
Não é novidade que a mídia desempenha um papel significativo na moldagem da opinião pública e, por vezes, na influência sobre o andamento de casos judiciais. A exposição excessiva e a abordagem sensacionalista podem pressionar os profissionais do Direito, influenciar testemunhas e criar um ambiente hostil que pode não ser propício à justiça.
Porém, a insistência de Sonia Abrão em apresentar o caso Eloá de uma maneira sensacionalista e emocional teve potencial impacto negativo no desenvolvimento do processo judicial relacionado ao sequestro e à morte da jovem. A abordagem pode ter contribuído para a polarização da opinião pública e para um clima de julgamento público antes mesmo que o sistema legal tivesse a oportunidade de examinar os fatos de forma justa e imparcial.
Mas esse não foi o que é considerado o maior erro da apresentadora. Durante o sequestro de Eloá, em um determinado momento, a apresentadora Sonia Abrão telefonou ao vivo para o apartamento onde o sequestro estava ocorrendo, na tentativa de falar com Lindemberg Alves. Acredita-se que a intenção da chamada ao vivo era criar um vínculo emocional entre Lindemberg e a apresentadora para ajudar na negociação e na libertação das reféns. No fim, ela conseguiu falar com a Eloá por uns segundos.
No entanto,a cobertura foi criticada por muitos, incluindo especialistas em segurança e a polícia, que acreditaram que isso colocaria em risco a vida das vítimas e interferiria nas negociações em curso. “Teve um momento em que uma apresentadora de televisão se colocou como negociadora e interrompeu a negociação com a polícia. Nesse dia, no dia 15, havia um acordo feito entre o capitão, o irmão da Eloá e o Lindemberg para ele se render”, disse o promotor de Justiça Antonio Nobre Folgado, em entrevista, na Linha Direta.
Ele explicou que pouco tempo depois desse acordo ser feito, entra “essa apresentadora e tenta resolver ela própria a situação. O Lindemberg percebe que está ao vivo para o Brasil inteiro e resolve prolongar essa situação, porque ele era o centro das atenções”.
Mas o que muitos chamam de “erro” na carreira da jornalista, ela chama de “cobertura perfeita”, e apesar de todas as críticas e polêmicas envolvendo a forma que ela cobriu a tragédia, ela não se arrepende do que fez. “De jeito nenhum [me arrependi], fiz uma cobertura perfeita, isso que as pessoas não aceitam”, disse ela durante uma participação no programa “Morning Show” da rádio Jovem Pan.
Conflitos constantes
Sua abordagem ousada e provocadora muitas vezes levou a confrontos com outras personalidades da mídia e celebridades, criando um ambiente de controvérsia e hostilidade. Enquanto alguns a aplaudiam por sua franqueza, outros a acusavam de cruzar os limites éticos da reportagem.
Sonia Abrão também se envolveu em diversos conflitos públicos com outros profissionais da mídia e celebridades ao longo de sua carreira. Suas desavenças e discussões públicas, muitas vezes acompanhadas de trocas de insultos e acusações, a transformaram em uma figura controversa no cenário midiático brasileiro.
Nos últimos anos, Sonia Abrão expandiu sua presença nas redes sociais, onde compartilha opiniões, notícias e comentários sobre eventos e celebridades. Sua atuação nas mídias eletrônicas também gerou controvérsias devido à maneira como ela utiliza essas plataformas para promover seus pontos de vista e opiniões pessoais, muitas vezes adotando uma postura sensacionalista e polarizadora. Será que isto terá um fim?
Foto: Chico Audi- divulgação