A mulher no cargo mais alto do país
- 11 de novembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Quando se trata de disputa, os partidos políticos sabem como o jogo funciona. Construir a imagem de seus candidatos é peça fundamental que envolve muita publicidade e alguns milhões de reais.
Camila Torres
No dia 31 de outubro de 2010, a economista e candidata do Partido dos Trabalhadores, Dilma Vana Rousseff, foi eleita a primeira mulher presidente do Brasil (ou presidenta, como ela prefere). Dilma foi perseguida na ditadura militar, foi a primeira mulher a comandar a Casa Civil (segundo posto mais elevado depois da presidência), liderou o carro-chefe do governo Lula – o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além de ter sido também ministra das Minas e Energia. A imagem dessa mulher, que comanda o país desde o dia 1º de janeiro de 2011, vem sendo construída e reconstruída pelo menos nos últimos seis anos.
Na campanha eleitoral de 2010, Dilma parece ter surgido da sombra do (até então) aclamado presidente Lula. Já em 2014, sua independência imagética pareceu crescer, mas nem tanto. A corrida eleitoral que acontece a cada quatro anos não se restringe apenas em comícios e debates acalorados entre os candidatos, já que a publicidade e a propaganda realizadas ao longo do(s) ano(s) ajudam a construir a imagem e influenciar a decisão das pessoas.
João Santana
Para ajudar nesse processo de construção imagética, a figura de um marqueteiro é fundamental. Por alguns milhões de reais, os partidos contratam os melhores do país. Não foi diferente no caso do Partido dos Trabalhadores (PT). Bem conhecido no rol político, João Santana se consagrou no ramo. O livro “João Santana: Um Marqueteiro no Poder” , escrito pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho, conta como ele conseguiu eleger seis presidentes. Em entrevista feita por Fernando Rodrigues, da Folha, em 06 de novembro 2010 Santana conta que o PT o contratou em 2009 e que lhe pagou 44 milhões de reais para cuidar do marketing e propaganda da campanha de Dilma. A empreitada exigiu uma demanda de 200 pessoas na equipe.
Mulher guerreira
Talvez a maior aposta estratégica na campanha de Dilma Rousseff foi o fator gênero. Em meio a pós-modernidade e com as mulheres lutando e conquistando cada vez mais espaço e direitos, a ideia de uma mulher dirigindo o país representaria então um grande progresso. Coisa a que nossa própria bandeira faz alusão.
O horário reservado à propaganda eleitoral gratuita (garantido pela Lei nº 9.504/97) destina-se a veiculação de conteúdos difundidos na televisão e no rádio e começa alguns meses antes da eleição. A imagem de Dilma, associada à de Lula, foi constante em ambas as campanhas. Porém, Santana apontou diferenças importante entre as ações de divulgação dos dois pleitos. “Apesar das aparências, a campanha de 2010 foi de uma complexidade estratégica, e principalmente tática, imensamente maior do que a de 2006. Eu diria até que do ponto de vista do marketing esta talvez tenha sido a campanha presidencial mais complexa dos últimos tempos no Brasil’, definiu.
Eleições e aparência pessoal
Em 2010, Dilma venceu José Serra (PSDB) com mais de 55 milhões e 700 mil votos (56,05%) contra 43 milhões e 700 mil (43,95%). Já em 2014, ao disputar a reeleição, Dilma venceu Aécio Neves (PSDB) na disputa mais acirrada da história, com apenas 3,28 pontos percentuais de diferença, o que revela a queda de popularidade da presidente. Em grande parte pelos inúmeros escândalos envolvendo seu partido e governo. Vale lembrar também da morte inesperada de Eduardo Campos (PSB) e sua substituição por Marina Silva que contribuíram para a perda de hegemonia da presidente.
Em meio a este contexto, Dilma “sofreu” uma repaginada. Os óculos passarram a ser acessório praticamente extinto de seu visual, o corte de cabelo mudou e as cirurgias plásticas suavizaram suas expressões faciais sisudas, características que lhe imprimiam aspecto negativo. Embora sua assessoria negue que essas alterações foram estratégias de campanha, está claro que uma imagem pode sim falar mais do que mil palavras.
Dilma Bolada
Na era das redes sociais, tudo “viraliza” em pouco tempo, dependendo do nível de repercussão. Foi exatamente o que aconteceu com o perfil “Dilma Bolada” nas redes sociais Facebook, Twitter e Instagram. O criador da página, Jeferson Monteiro, negou ter envolvimento com o PT, porém as controvérsias nesse caso deixam dúvidas, como a desativação do perfil por falta de “auxílio” financeiro por parte do partido.
Só a página no Facebook conta com 1,5 milhão de seguidores e traz a seguinte descrição de Dilma: “Brasileira, guerreira, revolucionária.” Em sua biografia digital traz mais traços de humor, misturados com o sentimento de mãe que cuida da nação com todo carinho. A soberania dela é ressaltada usando, por exemplo, termos como “rainha da nação” e “diva do povo”.
Fato é que o “personagem” já recebeu prêmios como youPIX por 2 anos consecutivos e Shorty Awards, o Oscar do Twitter. Em setembro de 2013, a presidente recebeu Monteiro em seu gabinete no Palácio do Planalto, haja vista sua influência nas mídias digitais, que poderia alavancar ou não a sua imagem com pouco cliques.
Seja na propaganda eleitoral gratuita, nos discursos proferidos ou na internet, a imagem da Dilma foi construída com máximo empenho e investimento, fazendo do campo da comunicação área fértil para estudo dessa temática.