A importância da cobertura abrangente nas eleições
- 16 de outubro de 2024
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- Theillyson Lima
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Excluir candidatos polêmicos dos debates no período das eleições compromete a democracia e limita o acesso a escolhas informadas.
Natália Goes
Nos últimos anos, o crescimento de candidatos que utilizam as palavras como arma marcou e transformou o cenário político e as coberturas jornalísticas em diversos países, principalmente no Brasil. Esse fenômeno preocupa boa parte dos jornalistas, mas é importante reconhecer que, mesmo os temas mais banais ou absurdos que despertam o interesse dos eleitores, merecem atenção e exploração adequada.
O papel do jornalista é informar, e no contexto político, isso não é diferente. A cobertura jornalística durante uma eleição é crucial para que o público possa tomar decisões informadas. Para isso, é necessário incluir uma diversidade de vozes, posicionamentos e opiniões, a fim de oferecer uma visão abrangente. Isso amplia a compreensão, promove diálogos e debates.
Participação nos debates
Os debates políticos durante a corrida eleitoral são aguardados com expectativa pela população. No Brasil, as estruturas desses debates, organizados pelas emissoras são variadas. Mas em geral há um mediador, para estabelecer as regras e conduzir os candidatos.
De acordo com o artigo 46 da Lei Eleitoral, “independentemente da veiculação de propaganda eleitoral gratuita no horário definido nesta lei, é facultada a transmissão por emissora de rádio ou televisão de debates sobre as eleições majoritária ou proporcional, assegurada a participação de candidatos dos partidos com representação no Congresso Nacional, de, no mínimo cinco parlamentares, e facultada a dos demais”. No entanto, os debates transmitidos pela internet não estão sujeitos a regras tão rigorosas sobre quem deve ser convidado.
Apesar das regras, vemos candidatos de partidos menores ou sem representação no Congresso participando de alguns debates. Isso acontece porque os veículos de comunicação, em geral, estabelecem critérios próprios para convidar um candidato, como o interesse público ou sua posição nas principais pesquisas de intenção de voto.
Por exemplo, Pablo Marçal, influenciador que disputava o cargo de prefeito da cidade de São Paulo, poderia ter sido excluído dos debates, já que seu partido, o PRTB, não possuía representantes no Legislativo. Porém, ele foi convidado para os embates por aparecer entre os três primeiros colocados nas principais pesquisas de intenção de voto.
Importância dos debates
A participação de todos os candidatos nos debates, polêmicos ou não, é parte fundamental do trabalho jornalístico de informar o público. Os debates são oportunidades para que os eleitores conheçam as propostas dos candidatos e votem de maneira consciente.
Esse momento é essencial para que os eleitores tenham a oportunidade de comparar os posicionamentos dos candidatos e cheguem a conclusões informadas. Além disso, o debate eleitoral é uma ocasião em que os candidatos estão mais expostos ao público. A imagem que os eleitores formam não pode depender apenas de propagandas ou comícios.
Enquanto nas propagandas tudo é cuidadosamente preparado para apresentar os candidatos de forma favorável, nos debates, os candidatos precisam improvisar e responder a questões em tempo real. Isso torna o debate um momento crucial, pois não há como fugir do que é transmitido para milhões de pessoas. O candidato precisa ter agilidade para elaborar boas respostas e apresentar propostas consistentes.
Excluir candidatos polêmicos ou “malucos” dos debates priva o eleitor de uma visão mais ampla da disputa. A presença de todos os candidatos, independentemente de suas controvérsias, é vital para a formação de uma opinião informada.
Importância da cobertura jornalística dos candidatos
O voto consciente é fruto de uma opinião individual formada a partir de dados e informações verdadeiras e checadas. Esse é o trabalho do jornalista, informar com precisão e isenção. A cobertura jornalística de todos os candidatos durante as eleições é essencial para combater a disseminação de desinformação, como o uso de inteligência artificial para criar conteúdos falsos ou documentos fraudulentos que possam distorcer ou manipular o eleitorado.
É nesse cenário que o jornalismo profissional exerce seu papel com rigor e técnica, buscando sempre a verdade. Um exemplo foi o caso das eleições da cidade de São Paulo, quando Pablo Marçal, durante um debate, divulgou um laudo falso contra seu oponente Guilherme Boulos, candidato do partido PSOL.
Estratégia das emissoras
Assim como qualquer empresa, as emissoras de comunicação precisam de estratégias para se manterem competitivas. As decisões de excluir um candidato dos debates ou deixar de cobrir suas ações durante a corrida eleitoral podem revelar preferências políticas ou até preconceitos das emissoras, o que pode prejudicar sua reputação, dependendo de qual lado ela tomar partido.
Ao incluir todos os candidatos nos debates e na cobertura jornalística, os veículos de comunicação não só cumprem seu papel social, mas também podem aumentar a audiência, principalmente ao cobrir candidatos considerados polêmicos. Isso, por sua vez, pode resultar em maior faturamento para os veículos de comunicação, que se tornam bem-sucedidos além de prestar um serviço importante à sociedade.
É notável a importância dos debates políticos e da cobertura jornalística de todos os candidatos, independentemente de suas polêmicas; e por isso ela deve ser feita. A cobertura jornalística total de todos os candidatos contribui e permite que informações falsas sejam desmentidas ou corrigidas. Nesse processo, o jornalista atua em nome do público, garantindo que a sociedade tenha acesso a informações corretas e que seu trabalho seja devidamente reconhecido. Em um cenário político cada vez mais polarizado, excluir candidatos polêmicos dos debates compromete a democracia e limita o acesso dos eleitores a escolhas informadas.