FILME: O Nome da Rosa
- 5 de setembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Camila Torres
Um remoto mosteiro no norte da Itália no século XIV. Monges vivendo quase isolados do restante da humanidade e uma morte com explicações sobrenaturais. O pano de fundo para iniciar uma história de suspense intrigante.
O ano, 1327. William de Baskerville (Sean Connery), um franciscano, chega ao desconhecido mosteiro acompanhado de seu noviço Adso (Cristian Slater), filho mais novo do Barão de Melk. A morte do irmão Adelmo de Otranto levanta boatos quanto aos poderes das trevas operando dentro da Igreja naqueles que estavam cometendo pecados. Com tecnologias “mágicas”, um óculos medieval e conhecimento da medicina da época, William começa a procurar outra explicação para o ocorrido.
O filme, de 1986, é baseado no romance homônimo de Umberto Eco e contou com direção de Jean-Jacques Annaud. “O Nome da Rosa” (The Name of the Rose) é um triller recheado de mistérios, portas trancadas e clima de tensão, entre paredes milenares capazes de esconder segredos. Após Adelmo, sucessivas mortes acontecem, crimes que procuram referenciar o livro de Apocalipse. Finalmente, William acha uma explicação científica para tudo o que aconteceu. Porém, suas explicações são abafadas.
Na Idade Média, conhecida como Idade das Trevas, não sem motivo, somente a Inquisição podia pesquisar assuntos de grande relevância. Os monges deveriam obedecer e tudo ficaria bem, caso não discordassem. Segundo a tradição, não deveriam rir, pois o riso era considerado uma armadilha do demônio para levá-los à perdição.
Proibidos de ter acesso aos livros sagrados da Igreja e aqueles considerados profanos, (obras de Aristóteles e outros filósofos gregos), os irmãos que desafiaram as regras acabaram morrendo ao entrar em contato com as folhas envenenadas de um livro específico. Mesmo com explicações racionais e provas suficientes, os casos são encerrados com a atuação da “Santa Inquisição”, declarando que tudo foi resultado de bruxaria e ações do maligno. Nossa realidade não é muito diferente. Algumas justificativas continuam as mesmas, mascaradas por uma falsa interpretação da Bíblia.
As semelhanças são preocupantes. A Igreja Católica, tão criticada pela manipulação no pagamento de indulgências como meio para garantir salvação aos fiéis ou o paraíso a alguém já morto, hoje compartilha com inúmeras igrejas, em sua maioria evangélicas, a promessa de prosperidade e cura física para quem opta em ser generoso nas doações.
E mesmo as mensagens disseminadas ao público (em tempos pós-modernos, por meio das redes sociais e canais televisivos) são controladas e manipuladas ao bel-prazer das vertentes ideológicas das ditas religiões. As pessoas continuam presas a dogmas e falsas concepções espirituais tal qual no passado. As congregações televisivas e as mensagens distribuidas em massa ali, servem, unicamente, ao propósito de alienar, manipular e controlar o fluxo de conhecimento. Situação muito parecida ao controle que a Igreja Cristã na Idade Média exerceu ao confinar o conhecimento, toda literatura, à bibliotecas obscuras e misteriosas dentro das paredes dos mosteiros. A mídia se torna o acervo misterioso, mistificado.
As semelhanças não param por aí. Será que o tempo e a evolução da ciência e das tecnologias trouxe verdadeiro progresso? Talvez as pessoas prefiram continuar na “escuridão”, salvo poucos corajosos.
O que as mídias mostram (incoerentemente) são líderes que ostentam carros, mansões, roupas e acessórios caríssimos, enquanto milhares continuam na pobreza mendigando por uma “benção” do Senhor. Ironicamente, enquanto isso, tais líderes concentram e controlam um “suposto”conhecimento proibindo seus membros de estudarem mais a religião com a justificativa de que não é possível, nem a eles mesmos, entender o texto sagrado ou os mistérios do além. No entanto, sabem que na realidade aqueles que se dedicarem a um estudo mais profundo se libertarão do controle e dos enganos convenientemente perpetrados pela religião.
As explicações, sempre sobrenaturais, para a vida e para fenômenos naturais, aumentam cada vez mais a barreira entre a ciência e a religião.No filme, o acesso ao conhecimento é proibido pelos responsáveis pela biblioteca, mas hoje os artifícios são outros. Promessas e entretenimento são ofertados não só dentro das igrejas, mas em seus canais televisivos que, pelo menos no Brasil, lotaram a programação da TV aberta.
Se no século XIV aqueles que contrariavam os ditames da Igreja eram queimados vivos ou torturados até se retratarem. Hoje, a manipulação de informações é introduzida sutilmente nas mentes e aliena o espectador, que vira fantoche diante dos interesses egoístas de uma minoria que detém o poder.