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No jornalismo a COP 30 só aparece para preencher buracos

  • 25 de novembro de 2025
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  • Theillyson Lima
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A ausência de padronização no destaque dado à conferência evidencia a inconsistência da cobertura jornalística sobre o evento.

Gabrielle Ramos

Se a COP 30 não parece mobilizar grande atenção nem mesmo no Brasil, como esperar que ganhe destaque em outros países? Esta análise parte desse questionamento para avaliar a real relevância da Conferência das Partes, realizada de 10 a 21 de novembro em Belém, no Pará. Como critério central, considera-se a presença, ou ausência, do tema na cobertura jornalística do país-sede.

Para isso, foram analisados três portais de notícias, G1, CNN e UOL, ao longo de 15 dias. O objetivo foi comparar a produção de conteúdo no período pré-evento e durante a conferência, além de identificar as diferenças na cobertura e no grau de destaque atribuído ao tema.

A explosão de cobertura no pré-evento

Quando se trata de destaque, não há como negar que os três portais aproveitaram o fato da trigésima edição da COP ocorrer no Brasil para intensificar suas publicações. Todos os sites criaram abas especiais dedicadas exclusivamente a assuntos relacionados à conferência. Ao todo, cada um publicou mais de 150 conteúdos sobre o assunto. Além disso, o G1 inseriu um bloco na página inicial totalmente destinado a essas informações.

Entre os dias 5 e 9 de novembro, pouco mais de uma semana antes do início oficial do evento, foi possível perceber que a COP 30 se tornou o assunto do momento. Inúmeras matérias foram publicadas em todos os portais, abordando questões básicas, como um texto do G1 que explica o que é a COP e por que ela importa, e outro da CNN que mostra quem financia o evento no Brasil.

Além disso, temas mais complexos também foram abordados com frequência. O UOL publicou uma matéria intitulada “A quatro dias da COP, área da conferência tem tapumes e problemas”, a qual mostra a dificuldade com a infraestrutura na cidade. Já o G1 destacou o aumento dos preços de hospedagem e alimentação.

Durante esse período, também foi comum encontrar, como matéria de destaque ou entre as principais da home, notícias sobre a COP ou conteúdos que utilizavam a temática ambiental como gancho. 

Uma possível explicação para esse aumento significativo de cobertura é a realização da cúpula pré-COP nesse intervalo. No dia 6, por exemplo, o G1 publicou quatro matérias consecutivas sobre a COP, o que levanta questionamentos sobre se essa atenção se deve à relevância do tema ou à ausência de outras pautas no dia da publicação.

Cobertura esfria antes do fim

No primeiro dia, a cobertura se manteve intensa pois refletiu o impacto inicial do evento, com a cerimônia de abertura e tomada de decisões. Todos os portais analisados destacaram matérias sobre o assunto na home, mas o G1 se diferenciou pela quantidade e abrangência de conteúdos ao longo da página. Isso aconteceu por meio de resumos, intitulados “Termômetro da COP”, explicações sobre o funcionamento das negociações e tradições da conferência. Já a CNN e o UOL limitaram-se a tratar de metas ou do orçamento da COP.

Entretanto, nos dias seguintes a situação mudou. No dia 12, apenas o UOL manteve uma matéria sobre a conferência na home; na CNN, não havia menção alguma, e no G1 havia conteúdos com temas relacionados ao meio ambiente, mas não à Conferência das Partes em si. Isso aconteceu mesmo que a noite anterior tenha recebido destaque por causa de uma manifestação no evento.

Em todos os casos, ao acessar as abas específicas sobre a COP 30, foi possível encontrar notícias detalhadas sobre os acontecimentos. Apesar disso, a maioria delas não apareceram em destaque na home, sendo apresentadas em formato de resumos diários que detalharam o que aconteceu em determinado dia.

Isso não é totalmente negativo, afinal, para quem não se interessa naturalmente pelo tema, essa exposição pode ser uma oportunidade de tomar contato com o assunto. O problema é que, nesse movimento, o conteúdo tende a se tornar superficial o que dificulta a compreensão para quem não está familiarizado com o contexto da conferência ou com a pauta ambiental.

Já na segunda semana, a cobertura se tornou ainda mais reduzida. No G1, por exemplo, matérias sobre a COP receberam menos destaque que notícias de entretenimento, como foi o caso da manchete “Wagner Moura tem foto publicada em perfil do Oscar, e fãs pedem que ator seja indicado ao prêmio”. Isso levanta a pergunta: seria esse assunto realmente mais relevante que a fala negativa do chanceler da Alemanha sobre a experiência da COP no Brasil?

Um dia antes do término evento, quando as matérias já haviam perdido destaque nos portais, um incêndio no pavilhão da COP recolocou o assunto no topo das manchetes. O G1 publicou “Incêndio atinge Pavilhão dos Países na COP30; organização diz que fogo foi controlado”, o UOL destacou “Incêndio atinge pavilhão da COP; autoridades dizem que fogo foi controlado” e a CNN abordou “Incêndio na COP amplia indisposição entre governo e ONU”.

Essa repercussão fez com que, no dia seguinte, o de encerramento do evento, as publicações de destaque não se limitassem aos acordos firmados, como mostrou a matéria da CNN “COP30: Retirada de plano sobre combustíveis fósseis do texto amplia tensões”. UOL e G1 seguiram a mesma linha, enfatizando os impasses e as problemáticas da proposta. Além disso, as páginas principais dos portais também reuniam críticas de especialistas e de representantes de outros governos, tanto sobre a condução da conferência no Brasil quanto sobre as decisões tomadas.

A COP é realmente importante?

A cobertura jornalística durante o período pré-COP indica que o tema só parecia relevante quando relacionado a outros fatores, como infraestrutura, segurança e questões políticas. Em outras palavras, a conferência, por si só, não foi tratada como pauta de alta relevância. Durante os dias de programação, sua aparição na home foi bem menor e, quando ocorria, na maioria das vezes, estava vinculada a temas paralelos ou a acontecimentos extraordinários.

Isso sugere que o evento é mais voltado a um público específico, que busca informações detalhadas sobre meio ambiente e consegue encontrá-las nas abas específicas dos portais. Afinal, se mesmo quando o evento é sediado pelo Brasil, não recebe o destaque que poderia, é possível imaginar que, quando acontece em outro país, sua visibilidade seja ainda menor para o público brasileiro.

Dessa forma, leva à percepção de que a conferência é apenas um “hype” ou um engajamento social que, no fim das contas, não gera resultados concretos. Essa percepção é influenciada, em parte, pela forma como o jornalismo cobre o assunto, pois ao dar maior destaque a certos temas em detrimento de outros, os veículos acabam moldando a percepção pública sobre a relevância do evento.

Além disso, as problemáticas que envolveram a realização do evento no Brasil também podem transmitir a impressão de que a conferência não teve a relevância esperada ou de que seus resultados ficaram aquém do previsto em razão desses entraves.

Quando a COP vira notícia

Por outro lado, surge outro dilema. Afinal, em 12 dias de programação, seria realmente necessário que o evento estivesse em destaque na home todos os dias, ou isso significaria forçar visibilidade para algo que nem sempre gera informações de grande relevância?

Pautar o que é notícia e o que merece maior destaque não é tarefa simples pois depende do julgamento editorial de cada redação e jornalistas. Por isso, é natural que a cobertura varie entre os portais. Ainda assim, neste caso, percebe-se certa padronização. Na maioria das vezes em que um veículo considerava um assunto relevante, os outros também o faziam. Assim, não se pode afirmar que a escolha dos destaques foi aleatória ou sem critérios; ao contrário, houve convergência nas decisões editoriais.

Por este motivo, de modo geral, analisa-se que a COP 30 se tornou assunto nos portais de notícias principalmente quando aconteceu algo marcante ou fora do esperado para o período da conferência. No dia a dia, outras matérias ganharam destaque e isso é compreensível, afinal, há acontecimentos relevantes na política, saúde e outras áreas.

Apesar disso, a menor presença de conteúdos em destaque ajuda a explicar por que parte do público ainda tem dificuldade em compreender plenamente o significado e a importância do evento. Pesquisas recentes indicam que o interesse espontâneo por temas ambientais é baixo no Brasil. Um levantamento do instituto Real Time Big Data mostra que apenas 4% da população considera o meio ambiente a principal prioridade do governo federal. Da mesma forma, uma pesquisa da Bulbe, realizada com 500 pessoas de diferentes regiões, faixas etárias e classes sociais, revela que pautas ambientais estão entre os assuntos menos buscados ativamente no país em 2025. 

Esse cenário sugere que, quando não recebem destaque, conteúdos de qualidade sobre o tema tendem a alcançar apenas quem já os procura de forma intencional, sem conseguir romper a barreira da página inicial dos portais de notícias.

Ao mesmo tempo, esse padrão de cobertura dialoga com críticas já identificadas em pesquisas sobre comunicação climática. No livro Jornalismo e riscos climáticos: percepções e entendimentos de jornalistas, fontes e leitores, Eloisa Beling Loose demonstra que a visibilidade das pautas ambientais costuma depender de acontecimentos excepcionais, como conferências, episódios extremos ou anúncios de grande impacto. 

Segundo a autora, isso ocorre porque o jornalismo ainda opera sob lógicas que privilegiam eventos imediatos e crises pontuais, enquanto temas estruturais da agenda climática recebem menor atenção. A pesquisa também aponta que essa dinâmica contribui para a dificuldade de engajar o público em assuntos ambientais, já que somente conteúdos associados a momentos críticos tendem a alcançar maior destaque nas páginas dos portais.

Diante disso, a pergunta que iniciou esse texto encontra uma resposta complexa, pois a relevância política e científica da conferência não garante, por si só, sua centralidade na cobertura jornalística. Compreender essa distância entre relevância e visibilidade é um passo essencial para pensar novos caminhos de comunicação sobre clima em um país onde a pauta ambiental ainda luta para ocupar o espaço que sua urgência exige.

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