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Falar sobre estética aproxima o jornalismo da publicidade e do sensacionalismo

  • 5 de novembro de 2025
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  • Theillyson Lima
  • Posted in Análises
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O grande apelo dessas pautas ao público torna mais desafiador o exercício ético da profissão jornalística.

Gabrielle Ramos

De um ano pra cá, maquiagens leves e naturais, com “glow” na pele se tornaram aesthetic. Fazer um “spa day” com velas, livros e taça de água com limão também. Na verdade, tudo parece ter se tornado assim. Mas o que muita gente não percebe é que essa palavra em inglês nada mais é do que “estética” no bom português. Seja no nome, nas ações ou nos produtos, esse conceito tomou conta da rotina e das redes sociais. Alguns podem achar isso fútil, mas o tema vai muito além, pois está até mesmo no jornalismo, nas matérias sobre comportamento, cultura e saúde. Mas será que isso de fato é pauta?

Esta análise tem como objetivo responder a essa e outras perguntas ao investigar se a forma como o tema é abordado por jornais e portais de notícia está de acordo com os princípios da ética jornalística ou se, em alguns casos, aproxima-se mais do sensacionalismo ou da publicidade.

Procedimentos estéticos e a narrativa negativa da mídia

Quando se pensa em estética, é comum associar o conceito aos procedimentos estéticos, afinal, eles têm se tornado cada vez mais frequentes. Segundo o relatório da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, o Brasil é o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo. Em 2024, foram registrados mais de 2 milhões de procedimentos cirúrgicos. Além disso, o país também ocupa o segundo lugar em procedimentos não cirúrgicos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Esse número reflete na quantidade de matérias que explicam os procedimentos estéticos, como são realizados, para que servem e quem os realiza. O problema é que, na maioria das vezes, esses assuntos são abordados de forma negativa. Isso porque os textos frequentemente abordam a conduta de profissionais, casos de pessoas que faleceram e relatos pessoais sobre complicações.

Essa abordagem confere ao tema um caráter excessivamente alarmista e, muitas vezes, acaba por problematizar situações que nem sempre configuram um real problema. A impressão transmitida é de que muitas pessoas morrem durante os procedimentos, ou que os médicos são incompetentes, quando a realidade não é bem assim.

Outro aspecto abordado são as questões sociais relacionadas ao tema, como a idade adequada ou a real necessidade para realizar certos procedimentos. Ou seja, trata-se de uma tentativa de definir o que é certo ou errado, o que reflete principalmente opiniões e julgamentos subjetivos.

No entanto, há quem considere que isso realmente é um problema social, como é o caso do presidente do Conselho Federal de Medicina. Esses posicionamentos, muitas vezes fundamentados em outras questões, como o impacto das redes sociais, incentivam a criação de conteúdos que também abordam influenciadores e celebridades, geralmente em um tom de preocupação.

O jornalismo entre polêmica e promoção

O contraditório é que, ao mesmo tempo em que há inúmeras matérias que problematizam o tema, o jornalismo também dá grande destaque a celebridades e influenciadores que os promovem. Ou seja, ao mesmo tempo em que critica o aumento dos procedimentos estéticos e a adultização das crianças, também reforça esse comportamento ao divulgar ações de famosos relacionados à estética.

Isso ocasiona um dilema, de, por vezes, o jornalismo se confundir com publicidade. O fato de um produto ser muito aguardado, gerar grande repercussão ou de famosos fazerem ou deixarem de fazer algo não significa, necessariamente, que devam se tornar pauta. Afinal, há temas que acabam soando apenas como uma forma de promoção.

Dentro desse contexto, outro aspecto de reflexão são as polêmicas. Quando algum produto relacionado a estética recebe avaliações negativas do público, isso se transforma em pauta; o mesmo ocorre quando celebridades realizam procedimentos estéticos. Um exemplo disso são as matérias publicadas por veículos como O Globo e Veja, que abordam a cirurgia plástica realizada pela cantora Anitta.

Já no G1, o caso de uma loja que vendeu um gloss de uma influenciadora famosa por dez reais também se tornou matéria, com vídeo e pronunciamento da criadora de conteúdo, Franciny Ehlke.

Nesses casos, há ao menos alguns elementos que podem justificar a cobertura jornalística, como questões relacionadas à saúde, à legislação ou à notoriedade das figuras envolvidas. Ainda assim, cabe questionar: será que é realmente mais relevante publicar tantas matérias sobre esses temas do que abordar outros assuntos de maior impacto social?

Uma das possíveis razões para esse tipo de abordagem é o fato de que esses assuntos atraem mais visualizações e, consequentemente, geram maior rentabilidade. Afinal, não se pode negar que matérias com avaliações, fotos de novos produtos ou vídeos de famosos, especialmente quando são exagerados, curiosos ou chamativos, tendem a despertar mais interesse do público do que temas relacionados à política ou à economia, por exemplo.

Quando a estética se torna pauta jornalística

Diante da dificuldade de classificar esse tipo de conteúdo como notícia de interesse público, muitas matérias buscam relacionar o tema da estética a outras questões. Em veículos como a CNN e o G1, por exemplo, é comum encontrar reportagens que tratam de crimes cometidos durante procedimentos estéticos, discussões em conselhos de medicina ou processos envolvendo marcas do setor.

Nesses casos, a notícia tende a se enquadrar mais claramente no campo do jornalismo, pois aborda questões de interesse público, como a segurança nos procedimentos estéticos, a fiscalização dos produtos comercializados e os debates sobre o exercício profissional na área.

Desmistificando a estética

Nos outros exemplos, entretanto, torna-se difícil determinar até que ponto o jornalismo consegue abordar a estética sem perder sua essência. Isso porque não cabe ao jornalista definir o que é bonito ou quais influenciadores e celebridades merecem ser seguidos. Quando essa linha é ultrapassada, as notícias acabam contribuindo para a construção e a manutenção de padrões estéticos reforçados pelas redes sociais, além de divulgar tendências impulsionadas por figuras públicas.

Por isso, é fundamental que o conteúdo contribua para desmistificar o tema da estética, abordando-o de maneira crítica e fundamentada em dados. Isso, no entanto, não implica que toda abordagem precise problematizar ou tratar o assunto de forma negativa. 

Uma alternativa é abordar a estética sob a perspectiva da saúde ao destacar como certos hábitos podem contribuir para o bem-estar e, consequentemente, para a aparência física.

Essa possibilidade não é novidade, pois alguns portais de notícias já exploram o tema dessa forma. É o caso do Correio Braziliense, que publicou uma matéria sobre o poder do treino de membros superiores para mulheres além da estética, e do UOL, que abordou o uso da “luz de balada” nas academias.

Além disso, é possível abordar procedimentos estéticos de forma positiva, especialmente ao compartilhar histórias de pessoas que tiveram sua autoestima transformada por meio deles. Isso, no entanto, não elimina a importância de problematizar o impacto das redes sociais na formação do pensamento coletivo, mas propõe um olhar equilibrado, que apresente os dois lados da mesma questão.

Outro ponto relevante é a forma de apresentar produtos, como itens de skincare ou maquiagem, de maneira menos opinativa. Isso evita julgamentos simplistas sobre serem “bons” ou “ruins”. Em vez disso, o foco pode estar em como determinadas marcas têm buscado garantir diversidade nos tons de base ou em como empresas coreanas vêm ganhando espaço no mercado brasileiro.

Esses exemplos unem a temática da estética a elementos que conferem caráter jornalístico às matérias, tornando-as mais profundas e analíticas, em vez de meros reviews ou narrativas centradas em tragédias e exageros. Apesar de existirem produções com esse equilíbrio, ainda são menos frequentes do que as abordagens superficiais ou sensacionalistas.

Por isso, a cobertura jornalística sobre estética deve ser cuidadosa, para não fazer com que o público associe o jornalismo à publicidade ou ao sensacionalismo. Assim, evitar reproduzir apenas tendências passageiras ou conteúdos voltados exclusivamente à viralização.

Afinal, embora o jornalismo seja um reflexo da sociedade, ele não deve ser uma simples cópia do que circula na internet. Cabe ao jornalista pensar criticamente as pautas e tratá-las com a responsabilidade e a profundidade que a profissão exige.

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