
Deixa com quem entende do assunto
- 14 de maio de 2025
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- Theillyson Lima
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As expectativas em torno do novo papa deram voz ao assunto para quem nem é católico.
Raíssa Oliveira
Jorge Mario Bergoglio, conhecido como Papa Francisco, faleceu no dia 21 de abril de 2025. A partir desse fato histórico que mexe com os ânimos do mundo inteiro — até de quem professa outra fé ou está desligado dos assuntos religiosos — as notícias giram em torno do legado do líder católico e de quem possivelmente exercerá o novo mandato.
Esse último tópico gera tanta expectativa que, mesmo com os votos secretos e restritos aos cardeais da Igreja Católica, parece que a sociedade inteira integra a cúpula e está presente no Vaticano para definir o novo papa, pelo tanto que opinam abertamente sobre o assunto. Casas de apostas lucraram com as perspectivas do público, como se fosse um campeonato exclusivamente para entretenimento.
O perfil ideal de um novo papa para todos — menos para os católicos
Os noticiários também foram tomados com a dúvida de qual seria o perfil ideal para o papa. Cabe refletir até que ponto cabe ao jornalismo, e à mídia como um todo, se intrometer tanto em assuntos, que opinar apenas enfraquece a voz do lado da história que tem poder de fala. Quando algum jornalista pensa que tem o poder de dar tanto pitaco no que ele é claramente incompetente para falar e debater sobre, muita coisa é colocada em jogo, principalmente o entendimento do público sobre o assunto.
Isso ocorreu em um texto publicado pela Folha de S. Paulo, no qual o colunista afirma ser ateu, mas deposita expectativas na escolha do líder religioso, mesmo que de forma irônica, aguardando um papa que realize missa em latim. Entendo que esse é o trabalho dele e que não liga para a religião alheia, mas fica dúvida se é necessário reforçar esse tipo de opinião, até porque unicamente o seu apreço e contentamento não faz parte dos objetivos da igreja.
O nome do presidente Donald Trump, por exemplo, também aparece em muitas manchetes quando se fala das apostas para o novo líder, tendo em vista o contexto econômico atual e as relações internacionais. Outra coluna da Folha debate esses interesses políticos e reflete que um papa conservador seria uma boa alternativa para se opor ao presidente americano. Esse ideal e o conservadorismo também foram defendidos pelo The Economist no Estadão.
Vamos falar do que realmente importa
A cobertura é mais relevante quando vinda de especialistas e pessoas que entendem sobre o assunto, falando realmente sobre o que a igreja busca ou necessita, ou opinando a partir de fatos visíveis do legado de Francisco e dos princípios do catolicismo. O Estadão mostrou bem isso quando trouxe o depoimento do Frei Betto, defendendo que um novo papa precisa seguir na linha de Francisco e de maneira progressista, já que o conservadorismo afastou a igreja das bases populares.
Em contrapartida, mas ainda trazendo análise de quem entende do assunto e de quem será afetado diretamente por essa escolha, a Folha divulgou a aposta de alguns padres brasileiros sobre o novo papa, temendo pelo recente legado progressista e almejando o líder religioso de viés conservador e tradicional. De acordo com o que já foi citado anteriormente no texto, essas duas matérias traduzem bem a ideia das mídias repassarem o que realmente importa — que é a opinião de quem é afetado pela escolha, ao invés de quem brinca de espetáculo.
Finalmente a escolha foi feita
A fumaça branca da Capela Sistina indicou que o novo papa já foi escolhido pelos cardeais. Robert Francis Prevost, o primeiro papa americano da história, adotou o nome de Leão XIV e foi escolhido após dois dias de conclave. Apesar de ter nascido em Chicago, atuou muitos anos como missionário no Peru e mencionou apenas o país latino em seu primeiro discurso, inteiramente proferido em espanhol e italiano, sem qualquer referência aos Estados Unidos.
O pontífice estava fora dos nomes mais cotados para assumir o cargo máximo do Vaticano e da Igreja Católica, contrariando as expectativas do mercado de apostas, que apontava os cardeais Pietro Parolin e Luis Antonio Tagle como principais candidatos. Assim como o papa Francisco, que estava entre os menos cotados, Leão XIV perpetua o mistério do conclave e quebra a expectativa alta que se tinha em um líder católico europeu.
Além disso, se posicionou contra pensamentos do presidente Trump em suas redes sociais. Esse posicionamento cai por terra com a ideia apresentada pela Folha de S. Paulo, de que um líder conservador seria contra os ideais do presidente americano. Robert Prevost pode ser considerado até progressista para os moldes do catolicismo, porém, ainda é visto como mais conservador que Francisco. O papel do papa está longe de ser se opor a algum poder, mas ainda sim é um líder de Estado e responsável por um país.
Um papa moderado. Nem conservador e nem muito progressista, com o governo feito para alcançar as pessoas. Contra questões de ideologia de gênero e ordenação de mulheres na igreja, mas crítico em relação a restrições e maus tratos a imigrantes e ao racismo. Ele está no meio termo dos textos analisados sobre o que os especialistas opinaram, nem querendo aproximar das bases populares e nem buscando colocar de volta aos eixos com pulso firme. No fim das contas, o que mais importa é que os católicos possuem um novo líder e o resto do mundo já pode encontrar outro entretenimento para montar um palco nas redes sociais.