
A lista dos favoritos
- 14 de maio de 2025
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- Theillyson Lima
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Uma incógnita que a resposta mostra em que pé a igreja católica está atualmente.
Nátaly Nunes
Enquanto tudo era preparado para o velório do Papa Francisco, os cardeais de diversos lugares do mundo estavam a caminho do Vaticano não só para prestar sua última homenagem ao líder supremo da igreja católica, mas também para decidir o próximo dentre os favoritos.
Como candidatos temos simplesmente: todos os homens batizados e em comunhão com a igreja católica, de acordo com a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, escrita em 1996 pelo então Papa João Paulo ll. Mas, não tão “simplesmente” assim, desde 1389 os eleitos são apenas cardeais (que são bispos escolhidos a dedo pelo papa para serem seus assessores em questões importantes da igreja) .
Além disso, podemos chegar em outra conclusão sobre os candidatos. Esta constituição também alega que o limite de cardeais votantes é de 120, porém, nos últimos anos houveram novas nomeações que acabaram aumentando essa quantidade e automaticamente a quantidade de possíveis novos pontífices em relação a conclaves anteriores. 135 podem votar, mas dois não poderão estar presentes por conta de problemas de saúde.
Será que nunca foi tão difícil prever quem vai ser o novo papa? Uma nova e mais ampla perspectiva global aparece. 80% dos cardeais foram nomeados pelo Papa Francisco e essa será a primeira vez que eles participam do conclave. Um marco histórico está acontecendo. Pela primeira vez menos da metade dos cardeais com direito ao voto serão europeus. Consequência do legado de Francisco que elegeu um grupo muito mais diverso (diferente daquele que o elegeu em 2013). Presente no conclave temos: 52 cardeais da Europa, 14 da América do Norte, 23 da Ásia, 17 da África, 23 da América Latina e 4 da Oceania
Opções para todos os gostos
“Matteo Zuppi, cardeal italiano progressista e diplomata discreto”, título na Revista Exame de uma matéria publicada quase um mês antes da escolha do novo papa. Nomeado cardeal por Francisco em 2019, seu nome era mencionado como um dos mais populares da Itália. Se fosse escolhido, daria continuidade na defesa de assuntos do falecido papa argentino. Mesmo que em tom mais moderado, Dom Matteo, que é arcebispo da Arquidiocese de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, defende a acolhida de migrantes e homossexuais na igreja.
O projeto The College of Cardinals Report, escrito por jornalistas especialistas no Vaticano, fez o perfil dos principais candidatos ao papado. O escolhido Papa Leão XIV não foi mencionado, mas Péter Erdo, arcebispo de Esztergom-Budapeste e primaz da Hungria, tem sua história contada. Considerado um grande professor e um homem de muita cultura, seu jeito é comparado ao do Papa Bento XVI, mais conservador. A universalidade da igreja estar bem representada é um ponto negativo e preocupante para alguns. Para outros, existia uma preocupação quanto a continuidade das reformas feitas por Francisco. A Gazeta do Povo publicou com exclusividade no Brasil este perfil em seu site.
“Quem é o cardeal franco-argelino já apontado como preferido do Papa Francisco?”. Títulos sempre dizem muita coisa. Esse do Estadão, por exemplo, carrega um grande peso. Arcebispo metropolitano de Marselha, na França, defensor dos pobres, dos imigrantes e da necessidade de maior diálogo entre religiões, nesta matéria, o especialista entrevistado diz que Jean-Marc Aveline “é muito próximo do estilo do papa Francisco, mas com uma personalidade mais europeia, um pouco mais contido, mais tímido, mas com mentalidade parecida.”
Com a internet e a facilidade de conseguir várias informações, muitas pessoas têm a (falsa) sensação de que são especialistas ou que conseguem opinar em diversos assuntos. A escolha do novo papa não ficou de fora dessa análise e indo além, as pessoas estão colocando dinheiro em seus palpites. Em casas de apostas, questões como “qual o continente do novo papa” já acumula mais de 2 milhões de dólares, segundo o mercado de previsões Polymarket.
Talvez ironicamente, o continente mais cotado é a Europa, local onde estão os principais candidatos na visão do povo (o que reafirma a sentença de que são apenas palpites quando comparados a opinião de alguns especialistas que entendem que a igreja católica está deixando de ser centrada na Europa). Estendendo um pouco mais o assunto, dar o veredito de que agora a igreja está totalmente revolucionária e aberta ao mundo é um perigo.
O cardeal que lidera as bets em primeiro lugar entre os favoritos para vencer é Pietro Parolin. Conhecido como vice ou braço direito do papa Francisco, Parolin, que é contra o aborto e a comunhão de divorciados ou recasados, é secretário de Estado, o segundo posto mais importante no Vaticano.
Bom, a imprevisibilidade desse conclave era fato em todo o mundo. O The New York Times traz que os observadores analisaram os trechos de declarações para saber se os cardeais estavam se inclinando para candidatos mais tradicionais ou mais parecidos com Francisco. O nome de Luis Antonio Gokim Tagle, das Filipinas, apareceu no assunto, sendo conhecido como “Francisco Asiático”. Com sua vasta experiência pastoral e administrativa, ele é um negociador astuto e Arcebispo Metropolitano de Manila. Não necessariamente é um homem 100% sério. Seu jeito brincalhão já o levou a dançar com jovens ou celebrar a missa de forma folclórica e casual.
Nos primeiros parágrafos de uma matéria do EuroNews de Portugal é apresentada uma lista (esperançosa) dos favoritos possíveis portugueses para assumir como pontífices. Tolentino de Mendonça era um dos apontados como o principal para se eleger de acordo com jornalistas especialistas e investigadores católicos do site. Paralelamente, a fonte principal da matéria é o padre José Manuel Pereira de Almeida, que em sua opinião “a escolha não irá recair num cardeal europeu, por causa da evolução que a própria Igreja Católica tem tido nos outros continentes, como em África e na Ásia”.
E distante desse “padrão europeu” temos como candidato Robert Sarah, Prefeito Emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Ortodoxo e conservador. Um dos favoritos da extrema direita deseja que a igreja retome os seus princípios e evite o secularismo, sendo um grande opositor do falecido papa. Aos 34 anos o cardeal nascido na Guiné, foi o mais jovem bispo do mundo.
Também do continente affricano, Peter Turkson, chanceler das Pontifícias Academias de Ciências e de Ciências Sociais, é considerado um cardeal biblista e sempre tentando alinhar a ciência e a fé em seus pensamentos. Sua opinião moderada acaba sofrendo resistência tanto de conservadores como de progressistas.
Vale apontar que se um desses dois nomes presentes nas listas dos favoritos fosse eleito, seria o primeiro papa negro da história.
Representando o Brasil temos 7 cardeais eleitores no conclave. Nomeados pelo Papa Francisco temos: Dom Paulo Cezar Costa, Dom Jaime Spengler, Dom Sérgio Rosa, Dom Orani João Tempesta e Dom Leonardo Ulrich Steiner. Os outros dois que faltam foram nomeados por Bento XVI que são: Dom João de Aviz e Dom Odilo Pedro Scherer. Nesta lista está faltando Dom Raymundo Damasceno Assis, mas, por conta da idade avançada, ele não participa do conclave, apenas tem chance de receber votos e ser eleito.
Dom Sérgio da Rocha aparece na lista de favoritos. Nascido no interior de São Paulo, foi proclamado cardeal em 2016 e atualmente é arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil. Ele se tornou o primeiro brasileiro a ser indicado para integrar o Conselho de Cardeais em 2023, um grupo criado para auxiliar diretamente o papa no governo da igreja. Para os interessados no assunto, Sérgio é torcedor do Palmeiras.
Como curiosidade, é válido saber que o primeiro latino-americano a ser nomeado e a participar de um conclave foi um pernambucano. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti (1850-1930), arcebispo do Rio de Janeiro. Na eleição em que ele participou o Papa Bento XV foi eleito sucedendo o Papa Pio X.
Nova fase
São Pedro, o apóstolo de Jesus é considerado o primeiro papa. Desde então, 266 homens já passaram pelo cargo. Na eleição do Papa Francisco, em 2013, o argentino não era um dos favoritos para suceder Bento XVI. O bispo de Milão, Angelo Scola, o prefeito do dicastério canadense Marc Ouellet e o arcebispo de São Paulo Odilo Scherer eram os favoritos do momento com suas ideias tradicionais alinhadas ao papa anterior.
Essa reviravolta com a escolha de Jorge Mario Bergoglio pode ser entendida pois “os cardeais buscavam uma nova visão e energia para a Igreja”, segundo o UOL, e “um papa que inspirasse renovação, proximidade com os pobres e uma Igreja voltada às periferias”, de acordo com o InfoMoney.
O resultado
A análise de mídia de alguns dos principais candidatos está feita. Ao final, só um foi escolhido. O habemus papam veio como uma surpresa elegendo o cardeal Robert Francis Prevost Martínez, o novo Papa Leão XIV. O primeiro papa norte americano é considerado moderado e discreto.
Diante das muitas especulações, preocupações, teorias e muitos candidatos com diversas opiniões, finalizo com a frase de Dom Odilo Scherer em entrevista à Folha de São Paulo “Tudo isso está na atenção da Igreja e de sua missão. E o papa, como pastor da Igreja, saberá como fazê-lo. Mas está claro que os cardeais têm o encargo de escolher o papa da Igreja, não o governante do mundo inteiro”.