Ar: o item mais valioso e mais escasso para o brasileiro
- 25 de setembro de 2024
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- Theillyson Lima
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Após as queimadas nas florestas brasileiras, é possível entender que para o aumento da riqueza de poucos, o ar de muitos precisa acabar.
Késia Grigoletto
Ano após ano o brasileiro enfrenta a mesma situação. Com a chegada dos meses de agosto e setembro, as queimadas começam a trazer diversos tipos de problemas. Uma das principais áreas afetadas é a saúde, afinal, não é muito incomum que hospitais passem a operar com um limite acima de sua capacidade normal e que leitos de UTI fiquem escassos.
No entanto, esse ano o país se superou. Essa é considerada a pior seca do Brasil em 70 anos. A Agência Brasil publicou que foi feito um levantamento entre vários hospitais brasileiros, e o número de pessoas internadas durante os meses de agosto e setembro em 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado, aumentou em 28%. Idosos e crianças são os que mais sofrem com doenças respiratórias.
Segundo o MapBiomas, o Brasil está respondendo por pelo menos 49% das queimadas na América do Sul. Apenas em agosto desse ano, o Brasil incendiou 5,65 milhões de hectares, o que equivale ao território do estado da Paraíba inteiro.
A falta de responsabilidade com a saúde não atinge apenas o brasileiro, no entanto, ultrapassa as fronteiras de nosso país. Segundo o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais até o início deste mês, o Brasil já havia registrado 154 mil focos de calor neste ano. A região amazônica foi a mais afetada, somando 42,7% dos focos.
Apesar do Ministério da saúde e grandes canais de comunicação orientarem as precauções que devem ser tomadas pelas pessoas durante essa época, diante desse cenário que no mínimo, é um tanto quanto caótico, a pergunta que prevalece é: se o cerne do problema está na prática indevida e errada do agronegócio e em uma fiscalização deficiente, por qual razão a população é que paga o dano maior ?
“Há um impacto significativo no sistema de saúde e nas unidades de atendimento, com uma maior procura. Minha preocupação não é só com os efeitos imediatos, mas também com os impactos de médio prazo na saúde das pessoas”, essa foi uma fala da Ministra da Saúde, Nísia Trindade durante uma conferência de saúde pública, publicada por uma parte considerável da imprensa.
Ainda que uma fala como essa se faça necessária, assim como sua publicação, um outro questionamento precisa ser feito. Será que 1.468 brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) são realmente suficientes para toda a região amazônica com seus 5.015.146,008 km² ocupando 58,93% da extensão nacional ?
Em áreas de difícil acesso a água potável, lugares em que os riscos de desidratação são maiores, apenas orientações e precauções bastam? Em uma situação tão alarmante como essa, é mais preocupante pessoas morrerem por falta de uma coisa tão básica quanto o ar ou a Planisa publicar que o aumento de internações por problemas respiratórios em 2024 custou 11 milhões de reais a mais do que no passado ?
Os números citados para alguns podem não passar de apenas números, contudo, para uma parte da população significa, um filho no leito de uma UTI, uma mãe ou um pai intubado, um tio que morreu por causa de uma pneumonia, um sobrinho com uma bronquiolite gravíssima. Pela falta de consciência de poucos, a saúde de muitos paga um alto preço.