Streaming dá lucro?
- 24 de abril de 2024
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- Theillyson Lima
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Popularidade se mostra insuficiente para gerar rentabilidade às grandes empresas.
Gabrielle Ramos
Que os serviços de streaming revolucionaram a indústria do entretenimento, isso você já sabe. Ao oferecer acesso a diversos conteúdos em um único lugar, por meio do pagamento de assinaturas, essas plataformas se tornaram as “queridinhas” dos consumidores. Não é atoa que mais de 31,1 milhões de indivíduos aderiram a serviços de streaming pagos, em 2022, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com toda a praticidade e facilidade que os serviços de streaming oferecem aos usuários, surge uma questão intrigante: como exatamente as grandes empresas proprietárias dessas plataformas geram lucro? Afinal, saber como elas conseguem cobrir os custos envolvidos na produção de conteúdo e na aquisição de direitos de transmissão apenas com a receita gerada pelas assinaturas é uma incógnita.
Guerra no streaming
A Netflix foi pioneira nesse mercado e, desde o início, tem sido a referência para os consumidores. Entretanto, com o passar dos anos, grandes conglomerados têm buscado desbancar esse serviço de streaming. Para isso, estão se unindo com o objetivo de conquistar assinantes, uma vez que não há um número suficiente para sustentar tantas plataformas, nem recursos financeiros para produções de alta qualidade.
Um exemplo claro é o caso da Warner Bros. Discovery (WBD), que registrou um prejuízo de US$ 3,42 bilhões no segundo trimestre de 2022. Esse resultado foi impulsionado por despesas não previstas relacionadas à aquisição da Warner pela Discovery. Isso mostra que a receita recebida pelos streamings não é suficiente para arcar com os gastos e garantir lucratividade
Nesse cenário, os lucros das grandes empresas de streaming despencaram em cerca de 90% desde a última década. Em 2013, essas empresas alcançaram um lucro de aproximadamente 23,4 bilhões de dólares, porém, segundo a Bloomberg, atualmente o lucro combinado é de apenas 2,6 bilhões de dólares.
Promessa do lucro pro futuro
A ascensão do streaming trouxe aos consumidores uma nova forma de assistir seus programas, filmes e séries favoritos, sem interrupções, levando muitos a abandonarem a televisão em favor dessa conveniência. Esse fenômeno causou um “boom” na indústria do streaming, como mencionado anteriormente. Mas essa realidade não durou muito, e a promessa de que os investimentos resultariam em lucros futuros ficou para trás.
A competitividade para expandir o catálogo e enfrentar outras empresas levou a investimentos em produções caras, visando atrair assinantes. No entanto, por mais que estas possam gerar um aumento temporário no número de assinaturas, é desafiador manter esses assinantes sem oferecer um catálogo que realmente os interesse.
Nesse sentido, as plataformas dependem praticamente da receita gerada por seu conteúdo, ou seja, do financiamento de investidores, das assinaturas e das parcerias para alcançar lucratividade. Mas isso tende a limitar as oportunidades de lucratividade das plataformas, uma vez que empresas de outros setores podem explorar diversas outras fontes de receita, como a publicidade.
É nesse contexto que essas empresas se empenham em buscar soluções para minimizar perdas financeiras. Segundo a Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2023-2027 da PwC, é previsto que cerca de um terço das receitas desse setor nos próximos anos venha da publicidade comercial. Essa mudança representa uma transformação significativa no panorama do streaming, contradizendo a filosofia inicialmente adotada.
Solucionando o problema
Para resolver a falta de lucro, os streamings estão inserindo anúncios em seus produtos. Desde o ano passado, a Amazon anunciou que vai incluir anúncios no serviço Prime Video em pelo menos 10 mercados no mundo. Já a Netflix, possui um plano de anúncios desde o final de 2022, a fim de receber dinheiro de duas formas: por meio das propagandas e do pagamento das mensalidades.
A introdução de anúncios também resultou no barateamento dos custos dos serviços de streaming, tornando-os mais acessíveis para alguns usuários. Um exemplo disso é o Peacock, serviço da NBCUniversal, que registrou um aumento de 80% no número de assinantes, mesmo com a oferta de um plano com anúncios e a expansão das opções sem eles.
Além disso, os serviços de streaming estão adotando estratégias para combater o compartilhamento de senhas. A Netflix, por exemplo, implementou medidas para controlar esse compartilhamento e o uso de contas em múltiplos dispositivos. Essas ações resultaram na abertura de novas contas por parte de muitos usuários. A empresa reportou um ganho de quase 9 milhões de novos assinantes como resultado dessas iniciativas.
A gigante retorna
A Netflix encerrou o quarto trimestre de 2023 com uma receita de US$9,2 bilhões, uma alta de 17,6% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em comunicado, a empresa expressou otimismo, prevendo um crescimento saudável de dois dígitos ao longo de todo o ano de 2024. Esse desempenho foi impulsionado pelo crescimento inesperado no número de assinantes e introdução de anúncios nos planos de assinatura.
Apesar da posição de destaque no mercado de streaming da Netflix, a realidade é desafiadora para muitas outras empresas do setor. Exemplo disso é a HBO Max, que aumentou o preço de sua assinatura duas vezes; o Disney+, que anunciou reajuste nos preços ao se unir como Star+ e AppleTV+, que aumentou em 47% a assinatura no ano passado.
Essa situação evidencia que a televisão tradicional, seja de forma aberta ou por assinatura, ainda desempenha um papel relevante, especialmente com o surgimento de distribuidores virtuais de programação de vídeo multicanal (vMVPDs) e canais de televisão por streaming com suporte de publicidade gratuita (FAST). Essas opções oferecem aos espectadores variedade de conteúdos, em vez de uma programação linear restrita.
Além disso, vale ressaltar que embora os novos mecanismos de publicidade estejam proporcionando às empresas de streaming uma vantagem para cobrir os custos de produção e aquisição de conteúdo, essa dinâmica ainda é relativamente nova. Portanto, não há garantia de que essa fórmula se manterá bem-sucedida no futuro, especialmente à medida que surgem novos formatos e modelos de negócios na indústria do entretenimento.