Jornalismo econômico: um cofrinho cheio de governo
- 10 de maio de 2023
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- Theillyson Lima
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As principais pautas dessa editoria estão relacionadas a assuntos governamentais. Mas a economia se resume a isto?
Gabrielle Ramos Venceslau
O jornalismo econômico é uma especialização da cobertura jornalística que aborda assuntos da economia de uma região específica, do país e até mesmo do mundo. É por meio dessa editoria que as decisões da política financeira são exploradas em conteúdos mais teóricos. Entretanto, também há a possibilidade dos veículos também produzirem produtos mais inovadores e diferentes.
Mas o que seria inovador? Para responder essa pergunta, primeiro é preciso entender o que é o comum. No caso da abordagem desta editoria no país, o corriqueiro é replicar as decisões do governo relacionadas à economia. Dessa forma, inovar seria construir pautas relevantes que abrangessem os mais diversos aspectos desta área, visando a variedade de informações para a sociedade.
Entretanto, isso é algo que os veículos brasileiros não estão fazendo. Para chegar a esta conclusão, três canais diferentes de conteúdo midiático por website foram analisados ao longo de vários dias, entre o dia 19/04 a 02/05. São eles: o portal de notícias do grupo Globo, G1; a maior empresa brasileira de conteúdo, serviços digitais e tecnologia, Uol, e o maior canal de notícias do mundo, a CNN.
A economia pautada no governo
A maioria das pautas abordadas nos três canais estão diretamente relacionadas com as decisões governamentais. Ou seja, se o governo aprova ou desaprova alguma questão, isso é noticiado de forma abrangente no jornalismo econômico. Apesar disso ser um padrão nos diferentes veículos, alguns focam majoritariamente nisso em relação a outros.
Este é o caso do G1 e da CNN, pois direcionam totalmente a atenção para o assunto que está em alta no momento, que em 99% das vezes é relacionado ao governo brasileiro. Exemplo disso foi quando os dois sites produziram cerca de 8 conteúdos no mesmo dia sobre a aprovação do novo arcabouço fiscal pelo Congresso Nacional.
Diferentemente deles, na mesma situação, o Uol abordou o que estava acontecendo, contudo, não se limitou apenas a esse assunto, pois também noticiou outros assuntos importantes para o dia, como a alta do dólar. Também publicou matérias com temáticas próprias.
Nesses 1% de vezes em que o assunto em alta não está relacionado com o governo, a história se repete. Esse foi o caso da polêmica relacionada ao CEO da Hurb que ficou popularmente conhecida nos portais de notícias e nas redes sociais. O G1 e a CNN abordaram predominantemente esse conteúdo e o Uol buscou diversificar.
Preguiça ou falta de criatividade?
Quando pautas governamentais estão em alta ou outro assunto se torna popular, a quantidade de conteúdo produzido aumenta. Entretanto, quando isso não acontece, essa produção é pequena. Isso reflete uma certa comodidade dos veículos que ao invés de buscar novos assuntos para noticiar, ficam esperando a notícia cair “de mão beijada”. Ou seja, a maioria dos assuntos são informados pelo governo e pouco propostos pelos canais.
Mas quando há uma proposta diferente e inovadora dos canais, mesmo que de forma modesta, as pautas tratadas são diferentes entre eles. Isso não é algo ruim, afinal, dá oportunidade para o leitor se inteirar dos mais diversos assuntos que irão variar de acordo com a abordagem do veículo. Assim, há a possibilidade de escolher o que acompanhar ao invés de se cansar facilmente ao ver matérias sobre um único assunto.
Diferenciais de cada veículo
Ao tentar inovar em suas produções, os veículos buscam elaborar conteúdos diversificados e exclusivos. Entretanto, dos analisados, a CNN é a que mais falha nesse aspecto, pois não possui muitos produtos que se diferenciam do usual. O único ponto que chama mais atenção é uma aba de vídeos em destaque ou de webstories. Contudo, esse material é um reaproveitamento da TV e das redes sociais.
Assim como a CNN, o G1 também mostra vídeos que são reaproveitados de conteúdos feitos para a TV. No entanto, não se limita a isso, uma vez que tem produtos singulares voltados a editoria. Dentre eles estão o podcast “Educação Financeira”, que como o nome já diz, fala sobre temas que estão alinhados ao dia a dia da população e também produz uma grade de matérias dedicada ao orçamento pessoal, visando explicar termos e tendências do mercado, cujo nome é “De olho no orçamento”.
Já o UOL busca inovar ao falar de temáticas que muitas vezes ao primeiro olhar nem parecem estar relacionadas à economia. Isso acontece porque o canal utiliza as pautas que estão em alta para a criação de novas, que possuem temas relacionados à tecnologia, empresas famosas, dentre outros. Além disso, promove aulões ao vivo sobre temas do cotidiano e dedica uma seção inteira para explicações sobre o imposto de renda de 2023, por meio de matérias didáticas e explicativas.
O que é igual e o que poderia ser mudado
Além das pautas governamentais que são as mesmas, os veículos analisados também têm outras temáticas em comum. Eles falam sobre temas da economia que estão ligados ao comércio exterior, sustentabilidade, investimento, agronegócio e até mesmo jogos de sorte, como a mega-sena. Outro ponto em comum é a divulgação de vagas de empregos para as mais variadas regiões do Brasil.
Em relação ao layout da editoria nos sites, todos são parecidos, pois informam o leitor sobre os principais índices econômicos, como a Taxa Selic, o Ibovespa, as commodities, o valor das moedas de diferentes países, dentre outros. Também separam um espaço para destacar as matérias mais relevantes, as colunas feitas pelos jornalistas e para promover os conteúdos próprios.
Com esta análise, é possível perceber que apesar da existência de alguns conteúdos inovadores, o jornalismo econômico no Brasil está majoritariamente pautado nas ações governamentais. Dessa forma, fica evidente a importância de parar de ser modesto na criação de conteúdos e começar a empenhar esse papel de forma mais diligente.
Ou seja, é hora de começar a encher esse cofrinho (porquinho ou miaeiro, a depender do jeito que você conhece) com conteúdos além dos governamentais, mas que sejam tão importantes quanto. Assim, agregar informações que façam diferença na vida da população brasileira.