Estereótipos jornalísticos: a raiz do exagero
- 8 de março de 2023
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- Theillyson Lima
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Uma análise híbrida sobre a visão exibida nas obras audiovisuais e os efeitos que essa imagem supostamente pode gerar sobre o profissional do jornalismo.
Camylla Silva
A figura do jornalista é fundamental na transmissão de notícias e informações verídicas. Isso se intensifica em um momento no qual as fake news vem tomando conta de tudo; a função do jornalista cresce ainda mais neste cenário.
Mas nesse processo, alguns podem ter dúvidas sobre qual realmente seria o papel do jornalista na sociedade. A maioria das pessoas tem como padrão, ou estereótipo, um profissional da imprensa, apresentador âncora posturado que sempre está por dentro do factual; um repórter que vive nas ruas a todo tempo, sempre na cobertura de acontecimentos; ou até mesmo um radialista que informa os ouvintes por meio do rádio. Conceitos que não só a TV, mas filmes e séries transmitem, e que de fato podem ser reais.
O que é o estereótipo?
Para esclarecer melhor sobre o conceito de estereótipo, esse termo é um tipo de padrão que nossa cabeça constrói. É uma imagem preconcebida que coloca as pessoas em uma “caixa”, criando rótulos, ditando seus comportamentos e padronizando sua forma de ser. São ideias cristalizadas que condicionam a maneira como vemos o outro e o mundo ao nosso redor.
Constantemente, focamos nisso por uma certa defesa de posições e interesses sociais. Mas em outras situações não enxergamos do lado de fora da bolha e deixamos ser contaminados de forma excessiva por idéias e concepções que nem sempre existem.
Jornalismo televisivo e estereótipo: o primeiro transmite e reforça o segundo
Esses conceitos e estereótipos são criados através de um retorno de informações ou realimentação. Nele, o próprio jornalismo televisivo exibe um modelo de jornalista, que no fim das contas, é reproduzido nos conteúdos das plataformas de streaming, reforçando ainda mais as imagens e estereótipos atribuídos aos profissionais.
Nesse sentido, devemos ter em mente que o estereótipo reproduzido por obras audiovisuais não surgiu do nada: essa visão veio a partir do real papel do profissional. A partir do momento que o jornalista passa a ser visto através das produções audiovisuais ele deixa de ser um profissional comum e passa a ter uma representação que retrata como realmente é a sua vida. Em alguns casos, o profissional é colocado como uma celebridade com uma vida instável, o que caracteriza, mas não o representa.
Além disso, embora os estereótipos possam representar, eles são exagerados – afinal, são veiculados em obras de ficção -, mas isso não significa que não tenham seu “fundo de verdade”. Em contraponto ao “jornalista celebridade”, existe o estereótipo do jornalista desvalorizado. Coisas como a diminuição do profissional de jornalismo, por exemplo, são reais e muito bem percebidas em nosso cotidiano.
O valor do jornalismo e o preço do jornalista
Devido a concorrência da internet, a mídia convencional foi perdendo audiência com o passar do tempo. Com fake news sendo disseminadas, e o jornalista entrando no desmascaramento das práticas de desinformação, os ataques têm sido constantes ao diploma do jornalista. O que tem contribuído para que as pessoas tenham desprestígio e uma consequente desvalorização.
Portanto, dentro desses fatores, nada se compara com a média salarial e principalmente a qualidade de vida que os jornalistas possuem em alguns veículos de comunicação. É o que mais “choca” os bons profissionais dentro desse âmbito, o que mais causa sobrecarga de trabalho e responsabilidade, e que resulta em enganos, contradições ou controles editoriais que afetam a ética profissional e afundam a credibilidade deste campo do conhecimento.
Nesse território movediço de crise, fake news e desprestígio, os jornalistas têm sido prejudicados pela redução da sua condição de vida e claro, por ter que ficar cara a cara com uma limitação medíocre imposta pela condição de produção sobre sua atuação profissional. No entanto, o maior problema se espelha na própria imagem que a mídia televisiva constrói e na sociedade, que perde a capacidade de perceber o real valor do jornalismo e de quem constrói uma notícia.
Exagero com base na realidade
Existe um processo de criação por trás de cada informação que é transmitida pela TV, no qual os autores são diversos jornalistas que exercem no desenvolvimento e construção da notícia. São profissionais que elaboram pautas, reportagens externas, organização visual do que vemos nos VTs, até chegar ao editor que faz a seleção do que deve e não deve ser passado para a esfera pública.
Portanto, os telejornais mudam a realidade dos acontecimentos, por meio de recursos ideológicos ou submetendo programas a estilos que atendem de alguma forma, os interesses dos proprietários das emissoras e da audiência, rotulando pensamentos e mutilando aos poucos, a realidade. É perceptível como a TV coloca o seu espectador em contato com um mundo concreto de imagens, criando perfis bem definidos de um profissional. A notícia pode chegar ao espectador de forma automática ou monótona. Mas não é bem assim.
Os estereótipos criados nos filmes e séries podem até sair do comum, trazendo exageros e casos fictícios. Entretanto, essa imagem não foge muito da realidade, visto que, é construída a partir da visão do que eles acompanham e do que o próprio jornalismo faz e transmite pela TV. A imagem irrisória do jornalista retrata o dia a dia de muitos profissionais que deixam suas vidas de lado, para buscar a pauta perfeita ou o furo jornalístico.