A hipocrisia capitalista na Rede Massa
- 26 de outubro de 2022
- comments
- Theillyson Lima
- Posted in Análises
- 2
A rede do Ratinho movimenta setores de comunicação em um claro monopólio.
Paula Orling
Em um país politicamente polarizado como o Brasil, os meios de comunicação se destacam por seu poder de influenciar os espectadores. É bem verdade que o propósito jornalístico de imparcialidade é pouco visto nos meios comunicativos. Contudo, a diversidade de possibilidades de canais de telejornalismo ameniza o poder que um único veículo exerce sobre um grupo de pessoas. Assim, se a pessoa não está satisfeita com um conteúdo, ela pode simplesmente buscar informação em outros lugares.
Quando apenas uma família domina vários setores da comunicação, no entanto, esta possibilidade de troca de opiniões do próprio espectador é diretamente afetada. É exatamente este cenário da família Massa, monopolista da cidade de Curitiba, com influência que se expande para o Paraná, para o sul e, então, para todo o Brasil.
A Rede Massa é uma rede de televisão com sede na capital paranaense. A Massa é afiliada ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Ela pertence a Carlos Roberto Massa, o famoso Ratinho. O detalhe que muda o perfil da rede é o herdeiro de todo esse poder: Carlos Roberto Massa Júnior.
Neste monopólio, o próprio dono é apresentador de um programa nacional, o Programa do Ratinho. Nele, mesmo que não regional, é possível observar características claras da grade de programação da emissora: busca pelo humor, conteúdo jornalístico insuficiente e atrações clássicas que geram clickbait, como discursos polêmicos. Tantos brasileiros conhecem e apreciam o programa que o Ratinho teve a presença dos principais presidenciáveis das Eleições Gerais 2022. O mesmo benefício foi alcançado pelo Jornal Nacional, o maior telejornal do país.
E este não é o único programa com estas características que é divulgado para todo o Brasil. O The Noite, apresentado por Danilo Gentili, também oferece comédia, em um formato de talk show, com muitas piadas por minuto, em um horário muito propenso a gerar risos histéricos: o final da noite.
Alcance da rede
No seu perfil do LinkedIn, a Rede Massa divulgou o tamanho de sua empresa, considerando seus produtos. Ela divulgou:
“A Rede Massa nasceu do sonho de fazer a diferença na vida dos mais de 10 milhões de paranaenses, de nascimento ou de coração.
Feita por quem vive e entende o dia a dia dos paranaenses, a Rede Massa é o SBT no Paraná.
Formada por 5 emissoras de TV, é a única rede a cobrir 100% dos 399 municípios paranaenses, e também a maior produtora de conteúdo local do estado, com 625 horas mensais de produção em HD: na TV Iguaçu, com sede em Curitiba; na TV Tibagi, em Maringá; na TV Cidade, em Londrina; na TV Naipi, em Foz do Iguaçu, e na TV Guará, em Ponta Grossa.”
Rendimento e poder financeiro da Massa
Ainda seguindo o fio de dominação, a Rede Massa lidera rankings de lucro e espaço de divulgação. Em 2021, por exemplo, adquiriu o direito do Campeonato Paranaense pelo valor de R$ 5 milhões, valor que foi dividido entre os 12 clubes participantes.
Com crescimentos exponenciais, a empresa chegou ao total ativo referente ao valor de R$38.546.619,58 em 2019, de acordo com o Balanço Patrimonial da rede, divulgado aos acionistas em 2020. Este valor representa um crescimento do valor aproximado de 11,93% em relação ao ano anterior.
Além dos valores táteis, as perspectivas dos colaboradores da rede também são otimistas. Segundo o diretor nacional da área de negócios da companhia, Alan Dall’Alba Ceppini, “o business plan da Massa FM está desenhado para a expansão da rede com foco na rentabilidade das emissoras espalhadas pelo Brasil.”
Rede Massa no cenário regional
Para compor a grade televisiva em Curitiba e da região metropolitana, a Rede Massa acrescenta programas locais que se intercalam com os nacionais do SBT. Um destes programas é o Tribuna da Massa Curitiba. O programa criado pelo próprio Ratinho vai ao ar de segunda-feira a sábado às 12h30.
Em site oficial, a rede destaca o seguinte como propósito do programa:
“O programa se destaca pela cobertura completa dos casos, notícias em primeira mão, entrevistas exclusivas, com opinião e análise, e equipes de reportagem ao vivo em cima dos fatos. Além disso, o programa mantém uma interação com o telespectador, que sugere pautas e participa ativamente por meio de telefone, e-mail e redes sociais.”
Entretanto, pouco do que é proposto, além da interatividade com o público, é completamente real. Em relação à apuração, apresenta-se como rasa e básica. Sobre as notícias exclusivas, na verdade, não são tão exclusivas assim. As exclusivas de fato são únicas devido à sua irrelevância e ao sensacionalismo – aspecto quase que idolatrado pelo noticiário. Caso o que eles objetivem com os termos “opinião” e “análise” seja a parcialidade e a unilateralidade, o programa é certeiro.
Com programas de duração irregular que excedem qualquer limite da paciência do espectador – às vezes com mais de duas horas – o Tribuna da Massa Curitiba utiliza figuras de linguagem em diversos momentos. Além disso, o âncora Lucas Rocha utiliza uma linguagem que talvez considere jornalística ao usar expressões como “meu amigo voz de berrante” ou dizer que “o foguetão do Tribuna da Massa já tá decolando apontado pro céu”. Ele também é responsável por usar a sua influência para vender produtos ao longo do programa, inclusive da própria Loja da Massa.
O conteúdo comum e de diversidade pouco explorada ainda é um dos maiores da Rede Massa local, fator alavancado pelo sensacionalismo e pela especulação.
Rede Massa e a política
Esta situação se acentua quando a política é diretamente ligada à comunicação, por meio das relações familiares. O interessante é que este monopólio não se restringe aos setores de comunicação, mas ultrapassa os limites da ética e invade o mundo político. O filho do Carlos Roberto Massa, Carlos Roberto Massa Júnior, com quem ele tem uma ótima relação, foi reeleito como governador do Paraná para os próximos quatro anos.
Um detalhe, talvez pouco apurado pelos milhões de espectadores fiéis, é a pouca contrariedade que a rede apresenta em relação à política do herdeiro. De uma forma quase exclusiva em relação a outros telejornais, a Rede Massa parece ser uma grande apoiadora da política vigente e, com sua influência, continua a manobrar as opiniões sociais da região que alcança.
O princípio (datado) da não concorrência
Em um país que adota um sistema capitalista, o grande herdeiro da Rede Massa se coloca como representante político. No modelo liberal, diretamente relacionado ao capitalismo, uma das bases econômicas é a livre concorrência, que gera competitividade e, portanto, maior qualidade e menores custos.
Apesar de defender politicamente essa ideia, a família Massa adota posicionamentos hipócritas em relação à sua própria empresa. A consolidação do monopólio da Massa aconteceu quando a rede comprou o Grupo Paulo Pimentel. Assim, passou a dominar toda a comunicação de um estado, que se expande para o restante da região e já alcança proeminência nacional.
Assim, sem concorrência, a Massa não tem a necessidade de aprimorar sua qualidade. Ela se contenta com a produção de conteúdos medíocres que não são questionados depois das carteiradas que o dono oferece para os concorrentes, que desaparecem ano após ano. Neste sentido, as informações que milhões de paranaenses, sulistas e brasileiros são cada vez mais monopolizados, tendendo a apenas um lado da polarização nacional.