Que país é esse?
- 5 de outubro de 2022
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- Theillyson Lima
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Legião Urbana continua sendo exemplo quando o tema é música e política.
Bruna Moledo
Com mais de 3 milhões de ouvintes mensais no Spotify, a banda Legião Urbana continua reunindo fãs por todo o Brasil, mesmo após seu término. No top 5 do aplicativo, músicas conhecidas por todos coroam a lista, e imediatamente coloco Eduardo e Mônica para tocar. A canção é parada obrigatória nessa discografia.
Com letras repletas de política, críticas sociais e melancolia, a Legião Urbana foi um dos ápices do rock brasileiro nos anos 80/90, e marcou gerações. Nesse mês de outubro se completam 26 anos desde a morte do líder e vocalista da banda, Renato Russo, um acontecimento que a História ainda não esqueceu.
Que país é esse
Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Terceiro mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
A música acima é extremamente conhecida por todos e faz duras críticas à corrupção visível do país. Parte de sua influência é certamente notável, já que a banda foi formada em Brasília, a capital do país e ponto de concentração dos políticos. A letra foi escrita por Renato Russo em 1978, e faz menção às crenças irracionais no futuro da nação, enquanto a deturpação de princípios morais básicos enche o Brasil. Em 1987, Que país é esse foi a música nacional mais tocada, e em 2013, foi eleita a música de protesto mais marcante do Brasil.
Lançada em 1987, teve grande impacto na população. Uma das intenções da banda é clara, levando em consideração que o país havia acabado de sair de uma ditadura militar, e as opiniões políticas de Renato Russo e seus companheiros sempre foram expostas em suas criações de maneira clara.
Há tempos
Disseste que se tua voz tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira
E há tempos nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
E há tempos são os jovens que adoecem
E há tempos o encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Esse é apenas um trecho da música Há tempos, mas que já reflete um dos ângulos muito explorados pela Legião. A melancolia toma conta de diversas composições do grupo. Pautas, que não deixam de ser políticas, e que envolvem depressão, profunda tristeza, e uma espécie de desespero perante o tempo que devora a tudo e a todos. As canções, de certa forma, são um espelho de muito daquilo que o próprio Renato Russo vivenciava, espelhando outros milhares de jovens perdidos em sua própria solidão. Durante sua trajetória, o vocalista lutou contra a Aids, um vício em substâncias químicas e crises depressivas.
O famoso líder do grupo morreu em 11 de outubro de 1996, com apenas 36 anos de idade, devido a complicações causadas pelo HIV. A morte chocou o país e deixou milhares de fãs órfãos de uma das bandas mais politizadas e populares da época. Apesar disso, suas músicas continuam fazendo sentido, e as críticas podem ser consideradas mais atuais do que nunca.
Em meio à grande polarização atual, o discurso de ódio de muitos e a corrupção crescente, a banda Legião Urbana com certeza teria muito sobre o que compor. No entanto, suas letras apontam não apenas para o que há de pior no ser humano, mas também para a esperança intrínseca na vida humana. Suas composições geram reflexão e incentivam a mudança.