Robert Downey Jr.: o ator problemático
- 6 de abril de 2022
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A vida de Downey antes do Homem de Ferro.
Camilly Inacio
Filho de um conhecido cineasta e uma atriz, Robert Downey Jr. nasceu dia 4 de abril de 1965 e desde pequeno esteve inserido no meio artístico. Teve sua primeira participação como ator aos 5 anos de idade no filme “Pound”, escrito e dirigido por seu pai, Robert Downey Sr.
Downey Sr. era usuário de drogas e deixou o filho experimentar um cigarro de maconha aos 6 anos de idade. Em uma frase do livro The New Breed: Actors Coming of Age, Downey Jr. afirmou que, quando ele e o pai se drogavam juntos, era como se Robert Sr. expressasse o amor da única forma que sabia.
Em consequência desse contato prematuro com as drogas, foi preso diversas vezes e quase teve sua carreira arruinada. O astro, no presente, é conhecido principalmente por interpretar o papel de Tony Stark, o Homem de Ferro. No entanto, quem o conhece nos filmes da Marvel não imagina seu passado envolvendo centros de reabilitação e celas.
Consequências para a carreira
Robert Downey Jr. foi preso pela primeira vez em junho de 1996, aos 31 anos, quando foi abordado na posse de cocaína, heroína e uma pistola em seu carro. Semanas depois foi encontrado desmaiado na casa de um vizinho. Ele estava sob a influência de drogas, e três dias depois foi preso por deixar um centro de recuperação.
Robert havia sido indicado ao Oscar em 1993 por interpretar o papel principal no filme “Chaplin”, e, logo após os episódios citados, o jornal Los Angeles Times publicou uma matéria onde o chamavam de “Ator Problemático” no título. Ainda nos primeiros parágrafos do mesmo texto, também afirmam que agentes de Hollywood temiam pela carreira do artista por causa das prisões.
As prisões de 1996 foram apenas o início de anos turbulentos para a vida do ator. Após o ocorrido, ele ficou três meses no centro de reabilitação e passou para o regime de liberdade condicional, mas, no ano seguinte, foi condenado a seis meses de prisão após o descumprimento da norma.
Mesmo com reincidências criminais, Downey não parou de receber propostas e gravar. Ainda para o Los Angeles Times, “o ator de 32 anos nunca foi tão requisitado, trabalhando com diretores como Robert Altman, Mike Figgis e Neil Jordan”.
Para o jornal, a situação de Downey se tornou motivo de zombaria para o sistema de justiça, pois foram criados meios para garantir segurança de gravações para o ator caso fosse preso novamente.
Hollywood e seus astros problemáticos
Em 1997, o Los Angeles Times citou entrevista do ator dada à revista Playboy. Ele comentava sobre a facilidade de usar drogas em Hollywood, pois ninguém se preocupava com isso. No mesmo texto, uma fonte disse que a percepção de que Hollywood mima seus astros problemáticos nem sempre é correta, e que Downey era reconhecido como um talento especial a ser valorizado.
A maioria dos textos do Los Angeles Times que falam sobre Robert Downey Jr. e seus problemas envolvendo as drogas e prisões também questionam seu tratamento prisional, evidenciando privilégios. Eles também deixam claro que a carreira do ator foi alavancada em diversos sentidos após a primeira prisão, o oposto do imaginado na época do episódio.
Em um texto publicado no ano de 2000, o jornal declarou que era difícil sentir empatia por um homem de 35 anos que parecia estar caminhando para a autodestruição, apesar de todos que o ajudavam. Parte da reportagem expunha: “‘Ele é o garoto desolado de Hollywood – um viciado que realmente não consegue se conter – ou uma estrela mimada que teve muitas segundas chances?’ pergunta a revista People ao lado de uma foto de capa de Downey parecendo quase diabólico”.
Após diversas recaídas e prisões por causa das drogas, o ator teve que cumprir um ano de reclusão na prisão. Por isso, não pôde mais fazer parte das gravações da série Ally McBeal. Neste contexto, o jornal trouxe como fonte o diretor de um centro de reabilitação que Downey entrou antes de ir para a prisão. Ele afirmou que “Robert é apenas mais um viciado que não parou de usar e está pagando o preço”.
Finalmente, em 2003, Downey Jr. parou de usar drogas. Em 2008, fez o papel do Homem de Ferro e viveu a renovação de sua carreira. A partir de então, o personagem – até então, de quadrinhos – Tony Stark se tornou conhecido em diversas partes do globo, e seu passado com as drogas (que, ironicamente, é compartilhado pelo ator e pelo personagem) quase foi esquecido.
De informação a opinião
Percebe-se que todos os textos que abordavam as prisões e recaídas de Robert Downey Jr., o jornal Los Angeles Times trouxeram o ator como favorecido por Hollywood, que teve a carreira alavancada em consequências das prisões e não ligava para a ajuda oferecida por quem o cercava.
Existem problemas delicados ao lidar com informações pessoais de uma figura pública. Na relação entre Downey Jr. e o jornal mencionado, diversas notícias e reportagens não levaram em consideração o momento difícil pelo qual o ator estava passando, e que, mesmo tentando ficar limpo das drogas, ele não conseguia.
Além do mais, com o passar dos anos, a cobertura sobre a vida de Downey Jr. com as drogas passou de informativa a opinativa. Ele foi associado a adjetivos depreciativos como “problemático” ou “mimado”, desconsiderando o contexto de sua vida a inserção no mundo das drogas.