Olé: a caneta nas pernas do Brasil pela Argentina
- 16 de março de 2022
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O jornal que fere o orgulho do torcedor brasileiro.
Lucas Pazzaglini
O futebol nasceu em berço britânico, mas isso não impediu que ele se torna-se o esporte do brasileiro. O samba, a música e a bola no pé são características culturais fortemente abordadas pelos estrangeiros que se referem ao Brasil. A paixão que o brasileiro sente, pela modalidade, rendeu o título de “país do futebol”, uma nomenclatura que tem sido por muitos questionada.
O jornal argentino “Olé” é um dos grandes contribuintes para nossa má fama. Capas foram ilustradas e páginas preenchidas com conteúdos charmosos sobre os maiores fracassos do Brasil. O diário se esforça para retirar uma das poucas imagens positivas que ainda existem com relação ao nosso país: somos os melhores em algo, nesse caso, no futebol.
No 7 a 1, o pesadelo de todo brasileiro, o Olé estava lá, e quem não estava. “Brasil sofre golpe histórico contra a Alemanha: perde de 7 e é humilhado pelos alemães“, esse foi o título dado ao vexame, além de acrescentar que “alguns brasileiros se foram chorando do Mineirão”, e talvez tudo isso seja pouco criativo, mas é o suficiente para mudar a visão do mundo em relação ao “país do futebol”.
“Papelão mundial” e “vergonha brasileira” também já foram assuntos dentro da revista. O episódio ocorreu no ano passado em meio a pandemia, quando as seleções foram se enfrentar na Neo Química Arena, em São Paulo, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Aos 5 minutos da partida agentes da fiscalização sanitária entraram em campo para retirar três jogadores argentinos que haviam descumprido as regras de quarentena e por isso seriam isolados e enviados de volta para seu país.
O erro não estava na atuação da segurança brasileira e sim na conduta dos jogadores argentinos. Entretanto, o periódico incita a provocação. O Olé não nega seus viés nacionalista, todo torcedor ama a sua pátria, mas a forma que os fatos são abordados dentro do jornal, nos coloca mais uma vez como um país “chorão”
Abordagem pejorativa
No dia 25 de fevereiro o diário atualizou seu site com a seguinte informação: “Tite não quer jogar duas vezes contra a Argentina antes do mundial”. Não existe problema nenhum nesse título, pois é um conteúdo verídico e a fala do técnico com relação a situação foi inserida: “Gostaríamos de jogar contra um time europeu, mas não há possibilidade. Jogar contra a Argentina duas vezes é contraproducente. Não nos fará nenhum bem. “
Em meio a matéria foram inseridos dados que não fazem nenhum mal à primeira vista e tem apenas o viés informacional, mas para um bom leitor as entrelinhas são as mais fáceis de serem lidas.
“À frente da Seleção Brasileira, Tite dirigiu 70 jogos, com 51 vitórias, 14 empates e apenas cinco derrotas. Um fato marcante é que desses cinco jogos que perdeu, três foram contra a Argentina.” Essa foi a informação fornecida pelo periódico, além de citar as derrotas em detalhes e deixar bem claro que “o treinador brasileiro nunca venceu em solo argentino”.
Não existe ataque ao técnico, apenas dados que de fato fazem sentido para o tema, mas o torcedor sabe o que o jornal quer dizer que “Tite está com medo de enfrentar nossa seleção”.
A forma que a plataforma aborda o personagem e o tema chega a ser cômica por transparecer o objetivo da revista: difamar o Brasil e elevar a Argentina.
Limites
Mas até onde vai o amor pelo seu país ou a repulsa pelo outro? Em 1996 o Olé cometeu um de seus maiores erros ao produzir uma capa que incitou o time brasileiro. “Que venham os macacos” era a manchete que comemorava a vitória da Argentina contra Portugal, durante as Olimpíadas, e ao mesmo tempo afirmava que o Brasil não conseguiria nada além do segundo lugar no campeonato.
Quando a retratação do jornal foi publicada, o secretário de redação da época, Mariano Hamilton, disse que chamar os brasileiros de macacos era algo institucionalizado na Argentina e que não havia nenhum conteúdo racista no termo usado. Qual é a verdade? Difícil de dizer, mas mesmo confiando na palavra do redator é fato que nenhum país se sente confortável ao ser lembrado como um macaco, e retratar toda uma nação dessa forma é, no mínimo, irresponsável.
O Olé traz um conteúdo inteligente cheio de trocadilhos e humor, com informações completas para o torcedor argentino, e não falha em trazer atualizações sobre o mundo do futebol.
Mas, ter uma plataforma institucional que é comprometida a desvalorizar o estilo de jogo do Brasil só alimenta a rivalidade. Talvez essa não seja a atitude mais saudável a ser tomada no momento.
O futebol já foi uma forma de reduzir tensões sociais, chegou até a acalmar guerras, mas hoje ele incita novas. Não guerras armadas obviamente, mas a queda do respeito de um país pelo outro, mesmo que seja de forma mínima e banal, nunca foi uma boa notícia.