Viva: A vida é uma festa. E a morte também
- 7 de outubro de 2021
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Nunca há perdas. Nem na vida, nem na morte. Com amor para você, Disney e Pixar
Hellen Piris
Há muitas explicações difíceis de dar às crianças. Suas mentes curiosas, porém infantis e inocentes demais não compreendem várias coisas que fazem parte “do mundo de gente grande”. A gravidez, o sexo, a política, a economia, a morte. Contudo, para a partida final do ser humano não há segundas oportunidades, pois ela finaliza a existência da vida. Por isso é tão difícil explicá-la.
Solução para os pais, respostas para as crianças
A companhia multinacional americana, The Walt Disney Company e o estúdio americano de animação Pixar Animation Studios produz há quase 100 anos filmes e animações que trazem entretenimento, além de satisfazer os interesses dos mais pequenos. Mas, além do objetivo de diverti-los, também procuram abordar alguns assuntos complexos que geralmente são um grande desafio para os pais.
Em 2017 foi lançado o filme musical “Coco”, ou na sua tradução para o português, “Viva: A vida é uma festa”. A produção se desenvolve na cidade de Santa Cecília, no México, e conta a história de Miguel, uma criança que no afã de se tornar um músico, acaba entrando ao “mundo de los muertos”. O incidente acontece durante a típica celebração mexicana de “El dia de los muertos”, e lá ele descobre a verdade sobre o passado da sua família e porque eles odiavam tanto a música. A animação, além da criatividade da narrativa e os elementos inseridos, foi sumamente aclamada pela valorização da cultura mexicana.
A morte e os vivos
O produto audiovisual direcionado para crianças traz uma possibilidade para entender o que acontece quando uma pessoa morre e como lidar com a perda. Toda a trama é desenvolvida sob a ideia da morte. A animação de fato aborda a crença e cultura mexicana sobre os mortos e qual é a relação deles com os vivos. Contudo, oferece uma saída para aqueles que desejam acreditar em um final feliz para e com os seus seres amados.
Desde a hora em que o indivíduo nasce até a pré-adolescência, seus progenitores e a sociedade tentam projetar um mundo ideal e feliz. O desejo por conservar essa inocência infantil e o esforço para esconder a realidade sobre o mundo cruel, acaba sendo inevitável na maioria das famílias.
Em “Viva: A vida é uma festa”, a relação entre os seres amados não acaba após a morte. Quem morre passa a morar em um mundo “ainda melhor”. Colorido, festivo, iluminado e com a possibilidade de rever família e amigos no dia dos mortos. Já os vivos, mesmo sem poder vê-los, os enxergam através da fé de uma cultura e tradição. Tudo o que precisam fazer é não esquecer seus entes queridos, e garantir que a sua participação na família continue ativa.
“Recuerdame, hoy me tengo que ir mi amor”, mas eu volto, tá?
A morte é apresentada como uma fase a mais da vida. Assim, se sustenta que não é preciso sofrer tanto ou dar tudo por perdido, já que sempre há uma possibilidade de reencontro, de viver felizes para sempre. É uma maneira agradável, açucarada, e principalmente aceitável de transmitir a morte às crianças, de fugir por um pouco mais de tempo da verdade. O ser humano sempre tenta evitar a dor, a perda, e se precisa engolir-la, busca a forma de romantizá-la. Se você morrer, tudo bem, vai para um lugar muito melhor. Se alguém que você ama morrer, tudo bem, você pode reencontrá-lo novamente.