Viver é cancelar, e ser cancelado
- 29 de março de 2021
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Se você não se vê na posição de cancelador ou cancelado, tenho certeza que esta edição é a sua cara. Divirta-se.
Jenifer Costa
Todos somos canceladores e cancelados. A máxima é a conclusão de longas conversas que nós, autores desta edição do Canal da Imprensa, tivemos nas últimas semanas. O tema já estava na ponta da língua dos usuários mais ativos das redes sociais, mas um acontecimento culminou na escolha da pauta: o cancelamento da ex-bbb, Karol Conká, no final de fevereiro de 2020.
A cantora e apresentadora foi eliminada da edição com 99,17% dos votos, numa disputa entre três pessoas. Foi a maior rejeição da história do programa, em 21 edições. Isso me fez refletir sobre os limites do cancelamento. Até onde podemos ir ao cancelar alguém? O que é permitido? O que pode ser considerado ofensivo demais? Quem é o legislador? Existem regras? Existe algo bom nisso tudo?
É difícil não lembrar das teorias de Pierre Levy, em especial, da inteligência coletiva. O movimento de milhões de pessoas em grupo e em tempo real, como uma sinfonia de instrumentos perfeitamente afinados, executa passo a passo o processo do cancelamento digital. Digo que a sequência, alinhada ao conceito prático da inteligência coletiva, segue o seguinte ritmo: o alvo é escolhido, o debate é levantado, o consenso é estabelecido por influência ou imposição e a rejeição acontece. Tudo isso na internet, em conjunto e em uníssono.
Vale lembrar que o cancelamento não acontece apenas na internet e não é uma prática recente. Buscamos explorar isso também. Afinal, você já esteve numa roda de fofoca ou pode já ter sido o assunto dela. Além disso, sabemos que a palavra é um sinônimo de outros termos bem conhecidos, como rejeição, bullying, antipatia, e por aí vai… O que significa que a cultura do cancelamento sempre existiu.
No cancelamento, se você não é ator, é telespectador. Se não é nenhum dos dois, é o alvo. Não tem jeito. Num mundo onde a separação entre o real e o irreal é quase impossível, é complicado escapar dessa edição. Por isso, convidamos todos vocês, usuários interatores das redes sociais para refletir sobre este tema tão atual e relevante.
Adianto-lhe que não estamos aqui para – apenas – criticar o cancelamento. Procuramos enxergar e compreender os dois lados do jogo, porque pensamos em algum momento: será que existe algo bom nisso tudo? Pode ser que ao pensarmos nisso, você tenha acabado de nos cancelar mentalmente. Mas é isso mesmo, não é? Canceladores e cancelados.