Crise no bioma e insensibilidade no governo
- 28 de outubro de 2020
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Grandes portais do Brasil abordam a crise ambiental das queimadas. É justa a crítica aberta ao governo?
Esther Fernandes
O Pantanal vive um drama. As queimadas na área atingiram grandes dimensões, tendo seu primeiro incêndio iniciado em 21 de julho e perdura dois meses. Hoje, 26,5% do bioma já foi consumido pelo fogo. Alguns fatores podem ser apontados como causas dessa tragédia, mas o objetivo aqui é entender o discurso midiático frente à catástrofe ambiental.
Os meios de comunicação acenderam de forma imensurável nos últimos anos. A globalização promoveu mudanças e quebrou fronteiras geográficas e espaciais. Manter-se informado dos acontecimentos regionais não é suficiente, é necessária a atualização em nível nacional e mundial. Os portais de notícias atuam de maneira que vai além da circulação de fatos. Eles promovem o debate, a discussão e a reflexão dentro de contextos sociais, econômicos, políticos e de meio ambiente.
O jornal Folha de S.Paulo foi criado em 19 de fevereiro de 1921, inicialmente com o nome Folha da Noite. Em julho de 1925 surgiu o Folha da Manhã, edição com as notícias matutinas. Posteriormente, o Folha da Tarde e, em 1960, os três nomes se unificaram dando origem ao Folha de S.Paulo. A versão digital do jornal foi estruturada em 1995 e manteve os objetivos iniciais de respeitar os princípios adotados do jornalismo. Atualmente, o portal publica certa de 500 notícias por dia e, segundo o jornal, o Folha.com tem audiência de 17 milhões de visitantes únicos e 173 milhões de páginas vistas por mês. Sem dúvida, um dos principais canais de notícias do Brasil.
Tratando-se das queimadas no Pantanal, o portal de notícias se dedicou a estar sempre proporcionando atualizações sobre os fatos e novos desdobramentos dos mesmos. Depois de dois meses de queimadas, novas matérias e reportagens ainda surgem como notícias principais.
Jornal enviesado
Há 43 anos o jornal El País nasceu junto à Espanha Democrática após décadas de ditadura. Apesar de sua fama “esquerdista”, Juan Luis Cebrián, primeiro diretor do jornal, declara que o jornal tem uma linha editorial plural. Durante uma entrevista ao programa de Jordi Evole, La Sexta, Cebrián explicou que, “quando começamos, a esquerda não tinha voz e tomamos a decisão de lhe dar, mas acredito que nunca foi nem deva ser um jornal de esquerda. Alinhou-se com as posições liberais progressistas e defendeu a democracia quando esta não existia”.
Observando os dois portais de notícias e seus dois vieses em relação às últimas queimadas, as páginas iniciais de El País se debruçam sobre os danos ambientais e as consequências para o ecossistema. Dados e porcentagens são apresentados e histórias pessoais se encaixam durante as reportagens. Duras críticas ao governo também são pautas nas reportagens acerca das queimadas, o que não surpreende, já que o jornal adotou uma linha crítica a Bolsonaro, como comenta a diretora do jornal Soledad Gallego-Díaz.
A Folha se torna ainda mais incisiva e crítica às políticas públicas do governo frente à essa catástrofe. Levantando a discussão sobre as ações do ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, o portal questiona a agenda do ministro, que não passou mais do que uma semana nas aéreas prejudicadas, tanto na Amazônia quanto no Pantanal.
Sendo ambos portais de notícias de grande visibilidade no Brasil, é essencial a investigação minuciosa acerca das mais variadas motivações que levam uma matéria a ir ao ar, porém é necessário o olhar crítico e a razoabilidade de se enxergar a real condição do Brasil e a insensibilidade por parte do governo diante dessas catástrofes ambientais.