Abrace sem medo
- 14 de abril de 2020
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Mesmo com avanços científicos, ainda há estigmas que envolvem o HIV
Victória Oliveira
Não é de hoje que a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) causa pavor. Desde meados de 1981, já era realidade para muita gente. A doença foi descoberta no EUA, e sua primeira “onda” atingiu predominantemente jovens do sexo masculino e homossexuais.
Sua origem ainda possui mistérios: algumas pesquisas mostram que o vírus precursor passou dos primatas para o humano, mas não há justificativa plausível para demonstrar que isso de fato teria ocorrido. Existem várias hipóteses. Há, inclusive, quem defenda que as transfusões sanguíneas experimentais feitas para malária naquele período influenciaram diretamente a propagação da doença. Infelizmente, nenhuma hipótese foi capaz de explicar sua origem, alimentando apenas o mistério da AIDS.
Hoje, um programa nacional de referência mundial em HIV/AIDS oferece de maneira gratuita a distribuição de preservativos e medicamentos à sociedade, dando suporte aos pacientes e proporcionando melhor qualidade de vida para quem é soropositivo. Além disso, terapias e possíveis vacinas são alvo de pesquisas.
Há quase 30 anos, o panorama era outro: um patógeno relativamente desconhecido, carregado de preconceitos e estigmas, infectava e matava pessoas, comprometendo a qualidade do sangue. A insegurança e os desafios da comunidade científica eram muitos, já que não havia estruturas para manusear um agente tão temerário.
Apesar dos inúmeros percalços, uma equipe de pesquisadores e estudantes do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), comandada pelo imunologista Bernardo Galvão, realizou o isolamento do vírus (HIV-1), fato de importância ímpar para a história dessa epidemia no cenário brasileiro. Assim, a Fiocruz assumiu bravamente o papel de enfrentar a AIDS em 1983, após a confirmação no primeiro paciente infectado no Brasil.
Sobre isso, Bernardo Galvão, à época chefe do departamento de imunologia do IOC, relatou que havia muito pânico e preconceito a respeito da AIDS, e que até cientistas eram discriminados pelo simples fato de lidarem com pacientes soropositivos.
Mesmo com tantos avanços, ainda há estigmas que envolvem o vírus. Muitos/as jovens entram em um verdadeiro estágio de pânico, e acabam realizando diversos exames, mesmo sem terem ao menos vivenciado situações de risco de contágio. Antes de saber ao certo como se dava a contaminação, havia desespero e medo. Quem era diagnosticado pela doença sofria muito preconceito, pois a crença popular era de que as transmissões poderiam ocorrer por abraços, troca de talheres, entre outros. Para o infectologista Alexandre Naime, professor da Universidade Paulista, um dos geradores de insegurança na população são as informações propagadas na internet, que, muitas vezes, são erradas e tendenciosas.
O fato é que ainda há muito o que avançar. Ainda que tenhamos superado muitos paradigmas científicos para tratar a AIDS, o preconceito permanece.