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A máscara caiu, mas o show continuou

  • 10 de março de 2020
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  • Thamires Mattos
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O espetáculo precisa ser discutido e não somente condenado

Thaina Reis

 Falar de espetáculo pode despertar muitas imagens na nossa cabeça: um show, muitas luzes, música, teatro, palco e plateia. Substitua tudo isso por uma televisão e deixe o show continuar. É comum encontrarmos programas televisivos que incorporem a lógica de “novelas” ao informarem um caso. Entre as muitas histórias espetacularizadas, estão as de Isabella Nardoni, Eloá Cristina, Marcus Matsunaga, e tantas outras.

Guy Debord – revolucionário, filósofo francês e cineasta – apresenta, em sua magnum opus, “A Sociedade do Espetáculo”, a visão de uma sociedade de aparências. “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresentam como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era vivido diretamente tornou-se representação”, explica. Para ele, o natural e o autêntico se tornaram uma ilusão.

O espetáculo é definido por Debord como uma relação social entre pessoas mediadas por imagens. As relações de pessoas não são autênticas, e sim de aparência. Pergunto-me: qual seria a análise de Guy ao navegar pelo Instagram?

A forte crítica é apresentada como um resultado dos modos de produção existentes. Ele vê o “show” como um meio de dominação da sociedade e uma forma de afirmação das escolhas já feitas na hora da produção. Traduzindo: o espetáculo atua a favor do capitalismo, e o consumo é consequência. Um exemplo foi vivenciado no reality show Big Brother Brasil. Uma das participantes, Bianca Andrade – influenciadora e empresária – declarou em redes sociais que sua marca Boca Rosa Beauty triplicou as vendas durante sua estadia no programa. Isso se deve ao fato de que, durante a permanência na “vitrine” da Globo, só usou os produtos da sua loja, e, em tempo real, a equipe postava fotos com as peças de roupas e acessórios que a participante usava no confinamento. Essa estratégia rendeu 2 milhões de seguidores a mais para a influencer no Instagram. As ideias radicais que Debord propunha há mais de 50 anos são exibidas nos reality shows de 2020. Seria ele um filósofo à frente de seu tempo, ou são os roteiristas e produtores de hoje que estão atrasados?

Um dos princípios do fetichismo da mercadoria é deixar o público refém da contemplação do espetáculo. Ele atua na criação de necessidades de consumo dos mesmos através da publicidade. O fetichismo é um agente da indústria cultural, e tem vínculos profundos com a obtenção de lucro por parte de seus idealizadores. A semelhança com nossas redes sociais é inegável.

Para lucrar com os espectadores, as artimanhas do espetáculo estão constantemente atuando na luta pela identificação de seus receptores com a sociedade de consumo. No palco, sempre encontraremos o mocinho, a patricinha, o machista, o negro pobre, a mulher bem-sucedida. Todos são personagens que fazem parte de um nicho da sociedade, roteirizados para gerar identificações. A alienação é o meio para esta constante identificação, e o lucro é o fim primordial. Para que assistir algo que não te represente?

Pode-se argumentar que Guy Debord foi ingênuo, apesar de brilhante. Em sua obra, desconsidera a importância do espetáculo em diversos momentos da vida das sociedades e a importância da midiatização no contexto social. O espetáculo precisa ser discutido e não somente condenado. O livro “Antes de Depois do Espetáculo”, de Juremir Silva, contém críticas ao pensamento Debordiano. O francês partira da ideia de espetáculo como algo suavemente manipulatório, da qual todos participam efetivamente, uns como atores e os demais como platéia. Ao “desmascarar” o espetáculo, Guy Debord sonhava com uma redenção, emancipação e libertação. Entretanto, depois do espetáculo, a obra apresenta o hiperespetáculo em tempo real e 24 horas por dia. Silva enfatiza que a emancipação é impossível quando todos escolhem mergulhar em uma tela líquida e transparente.

O livro define o espetáculo como um mundo invisível, o oposto do hiperespetáculo. Este, por sua vez, revela que tudo é imaginário: não há nada por trás das imagens, nenhum truque a desvendar, não é necessário fazer justiça. O que Debord propunha era sair do sofá e ver o mundo atrás dos bastidores; questionar. Os espectadores são sujeitos pensantes, a platéia não será hipnotizada desta vez. Olhar para a tela e enxergar a manipulação de cada personagem é, a seu próprio modo, jogar.

A obra de Silva ainda explica que o hiperespetáculo não é o fim da história: “é uma história sem fim ou fim de uma novela, que terá continuação na seguinte”. A televisão é responsável pela transição do espetáculo para o hiperespetáculo. Os reality shows são fabricados com temas diferentes para públicos de todas as idades. E, para usar o meme: Cinéfilos ou não, todos os espectadores reconhecem esse reality.

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