Período de teste
- 9 de março de 2020
- comments
- Thamires Mattos
- Posted in Análises
- 0
The Bachelor é um retrato da sociedade atual por demonstrar a forma como escolhemos parceiros/as: através de experimentação e eliminação
Lucas Abrahão
Um homem, que parece ter saído direto de filmes de ação dos anos 90, entra em uma casa com vinte e cinco mulheres. Todas são lindas, o desejam, e vão “lutar até a morte” por ele. Seria o sonho de todo homem? Ou de toda mulher? Esse é The Bachelor (em tradução livre, “O Solteirão”), um reality show transmitido nos Estados Unidos pelo canal ABC.
Bom, se você é homem e deseja participar do reality, basta ter nascido branco, medir mais de um e oitenta de altura e ter um queixo proporcional ao seu ego, que deve ser o maior possível. Outra característica desejável para o programa é ter uma profissão hollywoodiana, como Peter Weber, o Bachelor da última temporada e piloto de avião.
Se você é uma mulher em busca do amor, é muito simples. Além de atender ao padrão de beleza, você deve ter uma profissão que não atinja o egocentrismo do pretendente. A última temporada contou com várias aeromoças. Depois de preencher todos estes requisitos, seja bem-vindo/a à The Bachelor. Agora você terá de competir com outras 24 mulheres pelo amor da sua vida. No programa, o homem e as candidatas irão se cruzar várias vezes. A produção organiza encontros privados e em grupo. Sim, o Bachelor e as candidatas podem se relacionar de maneira íntima. Sim, o homem escolhe quem continua no programa, até propor casamento a uma delas (e terminar depois de alguns meses, na maioria dos casos).
Atualmente na 24ª temporada, The Bachelor é um dos programas mais comentados nas redes sociais nos Estados Unidos. Seu formato foi vendido para emissoras de vários países, incluindo o Brasil. Por apenas um ano, a RedeTV! produziu e transmitiu o programa, o que resultou em um dos reality shows mais bizarros da televisão do país.
Poucas coisas podem ser observadas como paralelo entre a versão brasileira e a versão da ABC, e, com certeza, a qualidade da produção não é uma delas. Na emissora tradicional, apesar de tudo, o programa é extremamente bem executado, com bons cenários e uma edição criativa.
Outra disparidade da versão tupiniquim, foi a falta de relacionamento íntimo entre o Bachelor e as demais participantes. Seria esse um retrato do pensamento brasileiro, mais “tradicional”? Talvez, mas vale observar que The Bachelor não é progressista. O programa não prega a desconstrução dos valores tradicionais em relação à família. Apesar do Bachelor “experimentar” todas as concorrentes, ainda se fantasia o amor verdadeiro, a fidelidade, entre outras coisas. O programa é liberal apenas em situações que irão angariar público. Não é moderno; é libertino e aproveitador.
Acima de tudo, The Bachelor é um retrato da sociedade atual por demonstrar a forma como escolhemos parceiros/as: através de experimentação e eliminação. Nós transformamos o ato de escolher alguém para dividir a vida em uma ação mecânica, industrializada e dramática. Aliás, drama é o que não falta aqui: no programa, são criadas situações dignas de novelas. Este fator dá ao show uma descrição de “divertido” por boa parte do público.
Mas será que essa aparente “diversão” é proposital? Estariam os produtores tentando retratar a decadência das relações humanas? Um texto como esse deveria incentivar o/a leitor/a a assistir o programa analisado. E você, querido/a leitor/a, deve assistí-lo, principalmente para rir diante das cinzas da nossa sociedade. The Bachelor vai lhe dar a melhor prova da capacidade humana de se vender por uns trocados e alguns minutos na televisão.