Jack, o queridinho da mídia
- 2 de setembro de 2019
- comments
- Thamires Mattos
- Posted in Análises
- 0
Os assassinatos foram ganhando mais repercussão após receberem uma cobertura sem precedentes da imprensa
Thalita Gameleira
Em meados do século 19, a Inglaterra passou por uma grande mudança social e econômica. Um enorme fluxo de irlandeses, refugiados judeus e imigrantes da Europa Ocidental superpovoavam os grandes centros do país. Um exemplo era a periferia de Whitechapel, distrito de Londres, que se tornou hiper-habitada. A situação econômica foi piorando com a dificuldade da população em encontrar moradia e emprego, o que aumentou a taxa de pobreza na região. Como resultado, houve também alta no número de roubos, violência e alcoolismo. Essas condições levaram muitas mulheres à prostituição. Segundo a Polícia Metropolitana de Londres, em 1888 a região contava com 62 bordéis e 1200 mulheres trabalhando como prostitutas em Whitechapel. Foi neste cenário que um dos mais misteriosos e conhecidos assassinos do mundo realizou suas atrocidades.
Não se sabe ao certo o número de vítimas e nem quando esses ataques começaram, mas, ao menos onze homicídios similares, ocorridos entre 3 de abril de 1888 e 13 de fevereiro de 1891 foram registrados pela Polícia Metropolitana de Londres. Ainda não se sabe se eles foram realizados por um mesmo autor, porém, cinco deles, ocorridos em Whitechapel, são conhecidos como “os cincos canônicos”. Popularmente, são atribuídos à Jack, o Estripador. As investigações duraram anos, e devido a forma como os crimes ocorreram, açougueiros, cirurgiões e médicos foram os principais suspeitos. Mas todos foram inocentados com o decorrer do inquérito, e, até hoje, não se sabe quem é responsável por essa onda de crueldades.
A fama de Jack, o Estripador deve-se principalmente pelo destaque nos principais veículos de notícias. Isso aconteceu, principalmente, porque durante as datas dos assassinatos, a policia, jornais e outros receberam centenas de cartas assinadas pelo suposto autor dos crimes. Três desses escritos chamaram a atenção da polícia: a carta Dear Boss, o cartão-postal Saucy Jacky e a carta From Hell. Dear Boss, datada em 25 de setembro de 1888 e carimbada dois dias depois, foi recebida pela Central News Agency (Agência Central de Notícias), que foi um serviço de distribuição de notícias do Reino Unido. Jack, o Estripador não foi o primeiro caso de assassino em série, mas acabou sendo o primeiro a cultivar uma popularidade na mídia internacional. Com a reforma tributária na década de 1850, a circulação de jornais aumentou, já que seu custo de produção era baixo. Isso aumentou a fama do Estripador à um patamar sem paralelos na época.
Com o objetivo de encontrar o furo das investigações e desbancar a concorrência, os jornais começaram a publicar noticias duvidosas. Uma dessas notícias resultou na prisão de um judeu, morador da região, que, depois de alguns dias, foi solto. Ele teve seu álibi confirmado. Jack, o Estripador também deu início à tendência de apelidar assassinos em série na imprensa. A mídia sensacionalista, junto ao fato do desconhecido paradeiro do assassino, confundiu as investigações da época.
Mesmo com o tempo, a fama de Jack não foi esquecida. Um pub localizado na Commercial Street em Londres, o Tem Bells, frequentado por pelo menos uma das vítimas, se tornou atração turística por alguns anos. E, em 2015, o Jack the Ripper Museum (Museu Jack, o Estripador) foi inaugurado na região leste de Londres. Na câmara de horrores do museu de cera Madame Tussauds não existe estátua de Jack, o Estripador, diferente de outros assassinos menos famosos. Por não possuir uma identidade comprovada, é retratado como uma sombra..
A imagem do Estripador foi usada como inspiração para personagens de histórias de terror. Obras de ficção e não-ficção, em diversos gêneros, desde romances policiais de Sherlock Holmes até filme de terror eróticos japoneses, retratam o famoso assassino em diversas facetas. Estas são mostradas tanto na literatura quanto no cinema. Ele também aparece em romances, poemas, histórias em quadrinhos, jogos, canções, peças de teatro, óperas e programas televisivos. Um dos produtos mais conhecidos é o longa-metragem From Hell (Do Inferno), lançado em 2001 e protagonizado pelo ator Johnny Depp. O filme norte-americano, dirigido pelos irmãos Hughes, é baseado na história em quadrinhos de Alan Moore, que leva o mesmo título. Com isso, vemos que, apesar de seus crimes terem ocorrido há dois séculos, a fama de um estripador anônimo continua em alta. A fascinação da mídia por seu primeiro “queridinho” dos assassinos em série não morre.