O surto do século 21: a ideia Antivacina
- 17 de junho de 2019
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- Thamires Mattos
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A vacina colabora efetivamente para poupar vidas humanas de retornarem à períodos sombrios
Walace Ávila
Nos primórdios da história da humanidade, epidemias devastaram grandes nações e destruíram civilizações inteiras. A tão temida peste negra assolou o ocidente, com estimativa de 200 milhões de mortos na Europa e na Ásia entre os anos de 1343 a 1353. Falta de higiene e de recursos para o avanço da medicina e a simples ignorância difundida por homens que se intitulavam donos do saber são fatores que facilitaram o alcance da doença. Como se já não bastasse este marco epidêmico histórico, anos mais tarde, a varíola voltou a ter protagonismo e matou 500 milhões ao redor do mundo até o século 20. O número é maior que o de mortos nas duas grandes guerras mundiais.
Graças ao médico inglês Edward Jenner e suas observações em vacas e nas mulheres que as ordenhavam, foi descoberta a primeira vacina de que se tem registro histórico. Jenner observou que mulheres que trabalhavam nas fazendas não contraíam a varíola mortífera comum, somente uma versão mais amena da doença, da qual as vacas eram hospedeiras. Em testes, o médico retirou uma amostra do vírus da vaca e expôs a um garoto. Semanas depois, constatou que ele não teve reações tão severas, e, após 10 dias, estava curado. Depois, Jenner submeteu o garoto ao vírus mortífero da Varíola. Ele saiu intacto da interação.
Assim, o processo de imunização ficou evidente. A partir daí a medicina preventiva, guiada pelas vacinas, ganhou espaço. Graças à descoberta de Jenner, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que, em 1978, a Varíola havia sido erradicada. No Brasil, a Poliomielite, doença que causava paralisia infantil, desapareceu em 1990.
Por que vacinar?
Algumas são doloridas, outras podem causar febre e leve mal-estar. Umas picadas são na perna, outras, no braço… e há vacina que nem precisa de agulha! Quando pequeno, você provavelmente quis saber o porquê de todos termos uma marquinha parecida no braço direito. Desde o nascimento, possuímos a cartilha das vacinas com informações a respeito das que já tomamos e das que ainda virão. É fato que a vacina nos acompanha desde o momento da concepção e perdura até os dias de vida adulta. De maneira simplificada, a vacina nada mais é do que a injeção do próprio vírus, de forma inativa ou somente as substâncias por ele produzidas. Assim, o corpo produz anticorpos que são gravados por suas células de memória. Há vacinas que se tomam apenas uma vez. Outras, como a da gripe, devem ser tomadas ano após ano, pois o vírus sofre constantes mutações.
Hoje, a vacinação ajuda na prevenção de doenças como Sarampo; Tuberculose; Febre Amarela; Tétano; H1N1; Poliomielite e Hepatite. Além da prevenção, contribuem para que vírus já erradicados não voltem e perdurem ao ponto de sofrerem mutações que os tornam mais resistentes.
Quando se muda o foco em combater efeitos para agir na causa e precaver as possíveis implicações, milhares de vidas obtém a esperança de uma jornada mais segura baseada na prevenção de doenças. A vacina colabora efetivamente para poupar vidas humanas de retornarem aos períodos sombrios mencionados anteriormente. Garantimos maior paz e segurança para as gerações vindouras. Querer refutar a vacina é negar o direito a uma vida plena e protegida.
Vacine-se contra a pior doença: a ignorância!
Movimentos que pregam ideias conspiratórias à respeito das vacinas não são de hoje. No mesmo período em que a primeira vacina foi criada, grupos incitavam manifestações e difundiam opiniões contra a sua eficácia. Em 1998, o médico britânico Andrew Wakefield publicou um falso estudo sobre a tríplice viral (vacina que protege contra sarampo, rubéola e caxumba). Ele alegava que o imunizador era responsável por autismo em 12 crianças. Após várias investigações, confirmou-se a fraude e os interesses financeiros por de trás do estudo. Andrew teve sua licença médica cassada pelo Conselho Britânico de Medicina.
Infelizmente, esse acontecimento abriu precedentes para que grupos antivacina ganhassem destaque na mídia mundial. Alguns países já declararam queda nos dados de imunização infantil. No estado de Roraima, de fevereiro de 2018 até Maio deste ano, foram registrados mais de 300 casos de Sarampo – doença que estava quase extinta no Brasil.
A ideia antivacina perpetua, também, em meios religiosos. “Tomar vacina seria uma demonstração de falta de fé. Infelizmente, eu tenho ouvido isso da parte de muitos crentes”, comenta Wellington Romangnoli, Biólogo e Professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo campus Hortolândia (Unasp-HT) e co-autor dos fascículos didáticos do sistema Inter@tivo de Ensino. Ele reforça que, muitas vezes, essas crenças não são pautadas nas crenças das igrejas, e sim no “achismo” de membros. Inclusive, é isso que ocorre com a Igreja Adventista do Sétimo Dia, denominação da qual faz parte. “Nossas universidades, inclusive a Universidade de Loma Linda (EUA), famosa mundialmente, é pautada na medicina alopática, que é a medicina tradicional e baseada na ciência, pesquisas, e, inclusive, na descoberta de novos métodos cirúrgicos e remédios pesquisados”, acrescenta.
Romangnoli é enfático em seu suporte à vacinação: “Para mim, a vacina salvou, continua salvando e ainda vai salvar muita gente!”, afirma. Dar crédito à estes grupos e acatar suas falácias geram riscos à saúde mundial, de acordo com a OMS. Aparentemente, quanto mais dados, estatísticas, comprovações e argumentos fundamentados, cresce o número de pessoas que duvidam de tudo e disseminam ideologias sem embasamento científico. A preocupação com a própria vida e com a vida alheia cai por terra ao mesmo passo que a ascensão de mitos e fantasias vão ganhando espaço e prejudicando vidas inocentes.