A arma de guerra
- 1 de dezembro de 2016
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- Thamires Mattos
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“As Farc não querem paz, eles querem poder”
Thaís Alencar
O mundo foi surpreendido com a decisão dos colombianos de dizerem “Não” ao acordo de paz proposto entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Esta facção tem sido responsável pela guerra civil que vitimou milhares de pessoas de 60 anos para cá. Além de sequestrarem famosos e anônimos, causando dor e sofrimento às famílias dos envolvidos, as Farc sãoresponsáveis por grande parte do tráfico de drogas que acontece na América Latina.
O resultado do plebiscito que consultou a população a respeito do acordo ganhou espaço no noticiário nacional e internacional. No programa Profissão Repórter (TV Globo) do dia cinco de outubro, uma equipe foi enviada para cobrir, não só a votação, mas, os últimos esforços realizados por defensores do “sim” ou do “não” para convencer a sociedade de que a sua alternativa era a melhor. Depois de assistir o programa, os argumentos de ambos os lados se tornaram mais claros, pois para nós, por estarmos em uma realidade afastada da situação, talvez o “não” expresso nas urnas não tenha feito muito sentido.
No entanto, o interesse da mídia pelas Farc não é de hoje. No mesmo programa, a TV Globo exibiu trechos de uma grande reportagem realizada na década de 80. Nem é preciso fazer uma pesquisa muito profunda na internet para confirmar que a relaçãoentre Mídia e Farc já se desenha há algum tempo. Grande parte das matérias cobriam o desenrolar dramático do sequestro de alguma personalidade. Um caso emblemático para exemplificar isso, foi o resgate de Ingrid Bittencourt, figura política da Colômbia. Ela passou seis anos em cativeiro e após a infiltração do exército e um longo período de negociações, foi liberta em julho de 2008. Nesta mesma ocasião, foram soltos outros presos que estavam em poder da guerrilha há mais de dez anos.
Outro chamariz para a mídia é entender o que está por trás e quais as verdadeiras motivações da guerrilha. Assim, não é difícil encontrar material antigo e recente cujo objetivo é retratar os costumes e a rotina de um acampamento das Farc. Quem são os soldados, como eles vivem, o que eles comem e o que realmente esperam do sistema contra o qual tanto protestam são assuntos recorrentes em reportagens que falam sobre esta organização.
O que nós questionamos diante desta relação é: seria a mídia um intensificador desta guerra civil na Colômbia ou apenas um espelho dos acontecimentos? Dois pontos nesta discussão não devem ser ignorados e dificilmente são contestados. Os grandes meios de comunicação moldam a opinião da massa e, além disso, ela dá visibilidade a qualquer coisa que decidir mostrar. Isso certamente é um atrativo para as Farc.
Porque desejar visibilidade? Talvez a resposta de um dos entrevistados do Profissão Repórter, justificando o porquê do seu não consentimento ao acordo de paz ajude a esclarecer. “As Farc não querem paz, eles querem poder”. Um indício de que essa afirmação faz sentido é que segundo o acordo, além dos réus da guerrilha serem julgados por tribunais especiais, eles também teriam o direito de fundar um partido político! E talvez, a partir desta estratégia, continuariam lutando para implementar os ideais defendidos por eles.
Partindo do pressuposto que a mídia busca acompanhar os principais acontecimentos ao redor do mundo e a vida de personalidades, a estratégia das Farc de sequestrar políticos pode ter um objetivo duplo. Ao mesmo tempo em que demonstram o seu descontentamento com o sistema vigente, chamam a atenção da mídia a fim de mostrar à sociedade colombiana e ao mundo o que eles são capazes de fazer. Assim fazendo, causam medo nas pessoas e quanto mais medo, maior é o poder, ainda que este não seja legitimo.
Diante de tudo isso, é possível entender como a mídia é capaz de influenciar o comportamento dessa organização. Enquanto os meios de comunicação estão registrando os acontecimentos relevantes ao redor do mundo cumprindo assim, o seu papel, estão também servindo de alguma forma como arma de guerra a fim de divulgar e atender aos interesses dos líderes da guerrilha.