“Eu tenho que ser vista para que eles acreditem em mim”
- 11 de novembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Elizabeth II teve a imagem descontruída por pequenas atitudes impensadas. O caso da presidente Dilma, certamente, é mais grave. A Rainha, ao contrario de Dilma, só precisou fazer o que o povo pediu.
Aline Oliveira
Após 18 anos do Partido Conservador no poder da Inglaterra, o Partido Trabalhista assume o controle do Parlamento. O representante do partido é Tony Blair, o líder mais jovem a atuar no trabalhismo inglês e o seu discurso é favorável à modernização dentro do governo britânico. Depois de vencer as eleições contra John Major, a rainha Elizabeth II o nomeia como Primeiro-Ministro. A função do Primeiro-Ministro é de chefe do governo exercendo, junto com o gabinete, o poder executivo. Este é o pano de fundo contextual para a construção do filme A Rainha .
O filme, dirigido por Stephen Frears, narra a relação entre o Primeiro Ministro Tony Blair, interpretado por Michael Sheen, e a Rainha Elizabeth II, vivida por Hellen Mirren, durante a semana da morte de Diana Spencer, ex-princesa da Família Real. No dia da posse de Blair, Diana morre em decorrência de um acidente de carro em Paris. Ao saber da noticia, Blair liga para a rainha. “Nenhum membro da Família Real falará publicamente sobre isso” declara a rainha para Blair. “Diana não é mais membro da Família Real”, argumenta a monarca. A rainha decide não se manifestar em combinação com a Família Spencer, responsáveis pelo funeral da ex-princesa.
Blair toma um caminho diferente da rainha e decide mudar o seu discurso de última hora, homenageando Diana em nome do Parlamento. É nesse momento que a expressão “Princesa do Povo” surge. A mídia e a população fazem o uso do termo e questionam quando a monarquia irá se pronunciar sobre a tragédia. Elizabeth II permanece firme em sua decisão, contando com o apoio de seu marido, Príncipe Philip, e sua mãe, a Rainha-Mãe. Já seu filho e ex-marido de Diana, Príncipe Charles, com medo da forma como o povo pode reagir a situação tenta mudar a opinião da mãe e se associar ao Primeiro-Ministro.
Para a rainha, a decisão tomada é a correta. Ela segue os protocolos, permanece em silêncio, tenta preservar os netos, ignora os fatos, se recusa a ter alguma responsabilidade na cerimônia fúnebre de Diana mantendo-se distante. Porém, não era essa a atitude que o povo esperava da monarca. A mídia se aproveita dessa situação para produzir na nação repulsa quanto à monarquia. Acentua o descaso com que a Família Real trata a morte da Lady Di, as manchetes dos jornais perguntam onde está a rainha neste momento de dor e luto que os britânicos enfrentam.
A imagem de Elizabeth II começa a se deteriorar, o povo começa a enxergá-la como fria, insensível a morte de Diana. Para piorar a situação a Família Real estava de férias no Castelo de Balmoral, Escócia, e se recusa a voltar para Londres. Elizabeth II sofre uma crise de imagem tão séria que a própria monarquia é colocada em xeque. Até então, um poder consolidade, tradicional, a monarquia se torna objeto de repúdio pelos britânicos. O filme mostra uma pesquisa realizada nesse período demonstrando que 70% da população britânica acreditava que as ações da rainha prejudicaram a monarquia e 1 a cada 4 pessoas se posicionou a favor da abolição da coroa na Inglaterra.
Blair percebeu o quão perigosas as atitudes de Elizabeth II eram. O povo estava se revoltando contra a monarquia e isso traria problemas incontornáveis para o país. Mas para a rainha o melhor era tratar Diana como uma pessoa comum, já que não era mais membro da família real. O povo e a mídia não concordavam com ela. A mídia utilizou o descaso com a morte de Diana para descontruir a imagem da realeza britânica. A situação se agravou de tal forma que a Rainha Elizabeth começou a temer pela estabilidade da coroa. E neste momento que aceita os concelhos do Primeiro-Ministro e decide agir conforme a orientação de Blair. Deixa de lado o tradicionalismo e assume posturas mais modernas rompendo os protocolos monárquicos.
O filme é um exemplo de que imagens e discursos mal utilizados podem transformar situações simples e contornáveis em questões de Estado. Também fala de uma mídia dedicada a interesses específicos que utiliza seu poder em benefício próprio. O caso da Rainha se mostrou solúvel. Bastou que a monarca mudasse de atitude e fizesse o que o povo esperava dela. Não é possível nos furtarmos de uma comparação com algumas das saias justas que a presidente Dilma tem enfrentado nos últimos tempos. Situações que, não fosse a atuação de uma mídia tendenciosa e interesseira, teriam mais espaço para verdadeiro debate e para a análise de soluções bastante viáveis. No caso de Dilma, infelizmente, não basta (tampouco e possível) fazer o que o povo espera.