Liberte a Britney
- 16 de junho de 2021
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A prisioneira da música Pop
Damáris Golçalves
A princesa do pop, Britney Spears começou sua carreira desde pequena. Aos onze anos fez sua estréia no programa A Casa do Mickey, juntamente com Justin Timberlake, Christina Aguilera, Ryan Gosling e Keri Russell. Sua vida como artista prometia grandes sucessos, como “Oops…I did it again” , “Baby one more time” e “Toxic”. Estas e outras músicas marcaram os adolescentes dos anos 2000 e ecoam até hoje, como sucessos icônicos da cultura pop. No entanto, em sua jornada artística, nem tudo foram flores. Foi em meados de 2007 que os primeiros problemas de Britney começaram a aparecer.
O Caso Britney
Depois de um divórcio conturbado com o dançarino Kevin Federline, a cantora foi aproveitar a vida de recém solteira nas festas e baladas de Hollywood com Paris Hilton. As fotos desta época circulavam todos os tabloides de fofoca e mostravam o lado festeiro e “descuidado” de Britney Spears. Naquele ano, cenas marcantes para a cultura pop foram protagonizadas pela artista. Ela foi vista raspando o próprio cabelo, quebrou a janela do carro de um Paparazzi com um guarda-chuva, entre outros incidentes.
Pouco tempo depois, em 4 de janeiro de 2008, Britney foi internada contra a própria vontade por se recusar a devolver os filhos para o pai. Ambos dividiam a guarda dos dois filhos, e naquele dia, a cantora veio a violar a mesma. Por causa deste incidente, em 1 de fevereiro de 2008 o pai da cantora, Jamie Spears, conseguiu a “guarda” da filha, por a considerarem incapaz. O acordo entregava o controle total da vida pessoal e financeira de Britney ao seu pai, o tornando tutor legal da artista. Este episódio foi o início do movimento Free Britney que viria a estourar em maio de 2019 e julho de 2020.
Em 2008 a cantora fez turnês e shows pelo mundo, promovendo o novo álbum Circus. Foi premiada no VMA, sendo a mulher com mais estatuetas da noite. O público considerava essa fase “a volta de Britney Spears”, no entanto, seu novo comportamento não foi o suficiente para livrá-la da tutela legal de seu pai. Onze anos depois, alguns documentos deste processo jurídico vazaram, indicando que Britney tinha “demência precoce” e por isso não poderia ter sua independência. Os respaldos médicos nunca foram divulgados.
O acordo dura há 13 anos, impedindo a artista de viver conforme suas próprias diretrizes. A decisão a impede de dirigir, casar, ter filhos, sair sozinha, controlar suas redes sociais, namorar sem a aprovação de todo seu time, entre outros afazeres do dia a dia. Há alguns rumores que indicam uma inclusão dos recorrentes namorados de Britney na folha de pagamento de Jamie Spears. Eles seriam pagos para auxiliar no controle da cantora, mantendo sua vida de acordo com o que o time de gerenciamento queria.
Avançando no tempo, em 2019 sua guarda foi passada para Jodi Montgomery, uma cuidadora de longa data da artista. O motivo da transferência seria devido a uma doença do pai. Embora o processo continuasse ativo, o verdadeiro diagnóstico de Britney nunca foi divulgado. A situação da cantora chamou a atenção dos mais diversos fãs nas redes sociais em março de 2019.
#FreeBritney
O movimento é antigo, surgiu em 2009 mas ganhou força dez anos depois, com a internação supostamente “voluntária” de Britney Spears em uma clínica de reabilitação. A hashtag #freebritney voltou às redes, pois fontes não oficiais em um podcast e nas redes sociais reafirmaram as suspeitas dos fãs, Britney estaria sim sendo controlada contra sua própria vontade em todas as situações anteriores, inclusive na sua internação. Desta forma, os fãs protestaram reafirmando o movimento “Libertem a Britney”.
No ano seguinte, o assunto voltou a bombar, pois, no Tik Tok, um usuário apontou as dificuldades que a cantora supostamente enfrentaria, por viver sob custódia de terceiros. Nos vídeos analisados pelo usuário, Britney mostraria sinais claros de um pedido de socorro. Em comentário no vídeo da cantora, um usuário disse “se estiver precisando de ajuda, use amarelo no próximo video”, e assim a cantora o fez. Desta forma, a hashtag #freebritney entrou para os trending topics nas redes.
Em um dos vídeos, o controle do namorado sob a artista é claro. Quando estão malhando, ela aparece entristecida e o Sam Asghari diz “sorria!”, imediatamente, ela o faz. Em outros vídeos ela mostra constantemente a data, tentando manter um registro claro dos acontecimentos da sua vida. Alguns fãs acreditam que o comportamento é resultado direto da sua falta de saúde mental. Outros entendem que as gravações são um pedido desesperado de Britney por ajuda e libertação.
Os vídeos viralizaram e resultaram em uma petição que requisitava o envolvimento da Casa Branca. Todas as 100 mil assinaturas foram recolhidas e, para agosto de 2020, ela poderia contratar um advogado próprio, a fim de representá-la na audiência daquele ano. Outra petição online ainda ativa clama pela libertação e independência da cantora.
A Prisão do Pop
A maneira que a mídia lidou com a vida de Britney, influenciou a cantora nos mais diversos níveis. Várias vezes a artista foi considerada a “vilã” nos tabloides, sendo uma “péssima filha” , uma “péssima mãe” e uma “péssima namorada e esposa”. Independente dos fatos, as revistas de fofoca prosseguiram com a narrativa destrutiva que, com certeza, não contribuiu na saúde mental da princesa do pop.
Não se sabe a situação exata de Britney Spears. Todas as declarações em redes sociais dadas pela artista poderiam ser influenciadas por seus agentes e sua família. Visto que sua participação como mãe na vida dos dois filhos estaria em jogo. Em setembro do último ano, seus advogados se pronunciaram a favor do movimento Free Britney. “Britney é veementemente contrária aos esforços do pai em manter suas lutas judiciais escondidas no armário, como um segredo de família”, informa ao TMZ. Ainda que as declarações da equipe jurídica da cantora sejam pertinentes, em nenhum momento sua voz foi ouvida sem interferências externas.
No documentário Britney: For the Record (2008), a artista expressa repetidas vezes suas preocupações por não ser ouvida. “Quando eu digo a eles como eu me sinto, é como se eles me ouvissem mas não me escutassem de verdade. Eles ouvem o que querem ouvir, e não o que realmente estou dizendo…É ruim…Estou triste”, confessa. Analisando sua história desde então, é possível perceber que não houve muita mudança.
Desde os 11 anos de idade, a vida de Britney esteve num holofote midiático. Sua adolescência foi inundada pela fama, e o controle sob sua carreira se estendeu até o timbre de sua voz. Não há discussão sobre a necessidade da artista de buscar ajuda profissional para a cura há 13 anos atrás. Talvez, ainda seja preciso tais intervenções. Entretanto, não há evidências de que ela tenha acesso a esses cuidados verdadeiramente.
O ponto a ser refletido é: até que ponto suas condições mentais permitem a falta de independência financeira e pessoal da cantora? Será que as mesmas ainda existem, ou até mesmo, estão sendo tratadas? O fato é que as reais motivações de Jamie Spears para manter a tutela por tantos anos nunca foi divulgado, e como mencionado acima, não há previsão para que isto aconteça. As teorias conspiratórias dos fãs tendem a ficar criativas, mas talvez tenham um fundo embasado na verdade.