Viagem no tempo
- 17 de junho de 2019
- comments
- Thamires Mattos
- Posted in Editorial
- 0
Sou fruto dos anos 1990. Muito se comenta sobre essa década que já tem certos itens em museus, como celulares “tijolo” e computadores sem mouse. No entanto, uma das maiores conquistas da época é deixada na escuridão: o sucesso das campanhas brasileiras de vacinação. Toda criança queria tomar a “gotinha” e tirar foto com o mascote. Fruto disso é a ausência da poliomelite no país há mais de 30 anos. Mesmo assim, casos foram relatados na Venezuela, e a vacinação anda baixa por aqui. O perigo ainda existe, e muitos pais esquecem de vacinar seus filhos. Ou, pior: escolhem, deliberadamente, ir contra tudo e todos. Acreditam que há heroísmo em salvar crianças e adolescentes de possíveis efeitos colaterais. Ao fazer isso, fecham os olhos para todos os casos de sucesso de imunização que as vacinas nos proporcionaram ao longo da história. Talvez, a cura para tal ignorância esteja em uma máquina do tempo. Sim, isso mesmo.
Explico: imagine estar em qualquer século anterior ao 20. Populações com pouco ou nenhum conhecimento sobre microorganismos; inexistência de antibióticos; falta de equipamentos médicos de qualidade; ausência de vacinas; e falta de higiene pessoal. Dizer que vacinas são ineficazes é esquecer das grandes pestes que assolaram populações. A morte de milhões por doenças como varíola era coisa quase trivial. Hoje, ela se encontra extinta, graças às vacinas.
Se voltássemos no tempo, os vacinados seriam extremamente privilegiados. Estariam protegidos contra doenças como tétano, caxumba, sarampo, rubéola, difteria, HPV, pneumonia, hepatite B… a lista continua. Poderiam andar entre os doentes sem sucumbir ao mal; tal feito seria atribuído à bruxaria ou a outro tipo de poder sobrenatural. A medicina, como conhecemos, não existia. A eficácia dos tratamentos, tampouco.
No Canal, não procuramos abrir grandes espaços de discurso aos agentes antivacina. Os escutamos através de seus canais de comunicação, e entrevistamos uma das representantes desse movimento que é grande e disperso. O esforço em refutar suas ideias é intencional. Entendemos, editorialmente, que todos têm o direito à liberdade de expressão, mas a plenitude física das comunidades em que vivem os adeptos do movimento estão prejudicadas. Priorizamos, portanto, a segurança das populações – tão importante para o desenvolvimento das liberdades individuais. Também não compactuamos com teorias da conspiração que, sinceramente, não são nem engraçadas.
O irônico? Pela primeira vez em mais de 10 anos, não tomei a vacina da gripe. Tive a doença enquanto corrigia os textos dessa edição. Caso você não lembre, posso comprovar que a sensação não é nada agradável.
De volta à 2019, vemos gente refutando fatos com achismos. Entender que opiniões não são ciência e que respostas vagas nunca concorrerão com dados é necessário. Então, vacine-se! A imunização contra a ignorância e as doenças é necessária para que não voltemos no tempo.
Boa leitura!
Thamires Mattos, editora-chefe do Canal da Imprensa