VEJA – Sobre futebol, política e religião se discute, sim!
- 5 de setembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Juliana Dorneles
Como já dizia o ditado popular: sobre futebol, política e religião não se discute. Esses três temas são os principais causadores de polêmicas. É comum, em época de eleição, encontrar debates (com comentários ofensivos) que parecem sem fim nas redes sociais. Quando o assunto é futebol, não é de se admirar ao ouvir histórias de violência nos estádios. Ou então – um pouco menos comum no Brasil – ler notícias de preconceito e até violência em nome da crença religiosa.
O fato de ser menos comum, não quer dizer que isso não exista ou que é irrelevante. O nosso país carrega em sua história uma forte influência da religião. Comparando com o passado, hoje este assunto é menos frequente e muitas vezes banalizado.
Quando analisamos como a religião é apresentada nas mídias nos deparamos com extremismos. Em algumas novelas ou programas, os cristãos são representados por idosas simpáticas, bondosas e pobres, que passam a trama inteira rezando/orando por algum motivo especial. Isso na melhor das hipóteses, pois, às vezes, o cristão é aquele jovem com fisionomia infeliz, que não tem vida social e é submisso aos pais e à igreja. Em casos extremos, são retratados como pessoas preconceituosas.
Há também uma quarta forma de representar os cristãos nas mídias: aqueles que usam a religião para obter benefícios, em sua maioria financeiros e políticos. Na seção de blogs e colunistas do portal da revista Veja, encontram-se muitas matérias sobre religião. Em uma delas, intitulada Duas Igrejas, uma foto do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, está acompanhada da seguinte legenda Cunha, em foto anterior ao implante capilar: tempos em que estava apenas na Sara Nossa Terra. O texto segue expressando muita ironia pelo fato de Eduardo se dizer membro fiel de mais de uma denominação. A matéria finaliza alegando que nenhum líder religioso vai questionar a atitude de Cunha, pois eles estão satisfeitos com o atual poder do presidente da Câmara.
Este é um de muitos artigos dos colunistas da Veja que apresenta a religião de forma conveniente. Realmente, os políticos usam a religião para se mostrarem pessoas melhores e assim conseguirem votos. No entanto, escrever sobre assuntos relacionados à religião requer muito cuidado, pois podem acabar ofendendo as ideologias do leitor. E foi o que aconteceu. Nos comentários, logo abaixo ao texto, um leitor se manifesta para contestar a matéria. Ele acredita não haver problema algum em pertencer a duas denominações religiosas, pois é sua própria atitude também. “Crentes” e ateus leem notícia também.
Outra matéria da Veja, na editoria de ciência, mostra um segundo perigo de lidar com a religião. A reportagem, que tem como título Ressurreição: o grande dogma do cristianismo, foi feita na época da páscoa. Ela apresenta a ressurreição de Jesus como um fato verídico, deixando claro que não é uma teoria e sim uma realidade. Volto a lembrar: tanto “crentes” como ateus leem notícia. Não é porque o autor ou a maioria dos leitores acredita na ressurreição de Cristo que o fato deva ser considerado real pela mídia. O ocorrido se agrava, pois foi classificado como texto informativo, não opinativo.
Mas quando analisado em um plano geral, o assunto religião é tratado de forma neutra pela revista. Várias reportagens, principalmente sobre fatos internacionais, estão isentas de opinião e tem um cunho essencialmente informativo. Sobre futebol, política e religião se discute sim, com maturidade e fidelidade à notícia.