Turbulento descanso da rainha do rock brasileiro
- 11 de outubro de 2023
- comments
- Theillyson Lima
- Posted in Análises
- 0
Rita Lee, lenda da música lembrada por cigarros, álcool e sua briga com Zezé Di Camargo.
A primeira mulher a tocar guitarra em um palco no Brasil. Rita Lee Jones de Carvalho nasceu no dia 31 de dezembro de 1947 em São Paulo. Conhecida como rainha do rock brasileiro, Rita era cantora, compositora, multi-instrumentista, apresentadora, atriz, escritora e ativista brasileira. Ultrapassou a marca de 55 milhões de discos vendidos, sendo considerada por muitos uma das musicistas mais influentes do país. Depois de sua morte, foi lembrada pelas coberturas jornalísticas como uma drogada e rebelde sem causa.
Rita Lee faleceu no dia 8 de maio de 2023 em decorrência de um câncer de pulmão que lutava há alguns anos. Seu legado impagável na música também deixou rastros de um grande amor, seu marido até o fim: Roberto de Carvalho. Os dois construíram juntos uma carreira musical muito sólida, com sucessos que marcaram época. Infelizmente a cobertura jornalística da morte de Rita Lee, não a via dessa forma.
História de Rita Lee
Rita Lee nasceu na véspera do ano novo. Filha de descendentes de italianos, cresceu com duas irmãs, Mary e Virgínia. Quando era criança a cantora viveu no bairro paulistano Vila Mariana, estudava em um dos colégios tradicionais da capital paulista e também era poliglota, falava fluentemente português, italiano, francês, espanhol e inglês.
Foi na adolescência que a cantora desenvolveu paixão pela música, quando começou a compor suas primeiras canções. Nos anos 60 muitos jovens gostavam de bandas de rock internacionais, o que também atraiu os gostos de Rita, que entrou na USP no curso de comunicação social, mas logo largou para viver seu sonho como musicista.
A artista deu um “boom” em sua carreira com a participação na banda “Os Mutantes”, onde encontrou seu primeiro marido e colega de banda Arnaldo Baptista. Eles se casaram em 1971 e se separaram logo depois. Em 1976 Rita Lee passou a morar com o guitarrista e futuro parceiro musical, com quem se casou e permaneceu até sua morte, Roberto de Carvalho.
A cantora teve três filhos, João, Antônio e Beto. Foi adepta do veganismo e ativista pelos direitos das mulheres, sempre mostrou liberdade ao se expressar nas redes sociais. Anunciou em 2012 sua aposentadoria e em 2021 revelou estar enfrentando um câncer no pulmão.
Sua carreira musical começou com a banda de rock psicodélico “Os Mutantes”, no entanto, em determinado momento ela foi expulsa da banda, o que fez ela migrar para a banda “Tutti Frutti” e depois seguir carreira solo. Seus maiores sucessos na música brasileira vieram com as músicas que ela fazia com o marido Roberto de Carvalho, juntos, ela compunha letras que falavam da intimidade do casal e sobre amor.
A vida de Rita Lee foi marcada por muito amor. Em entrevista exclusiva ao Estadão, Rita se vira ao marido e diz, “Como você me aguenta há 44 anos? Confissão: Sou uma mulher esquisita, ex-presidiária, ex-AA (Alcoólicos Anônimos), ex-NA (Narcóticos Anônimos), não sei cozinhar, sou cinco anos mais velha, sem peito, sem bunda e fumante.”
Ao ouvir isso, Roberto se declara: “Sou teleguiado pela paixonite há 44 anos, espero que tenhamos pelo menos mais 44 anos pela frente. Só consigo visualizar a antítese do que está nesta confissão. Quando você se declara esquisita, vejo original e genial. Ex-presidiária por injustiça, vítima da repressão. Não precisa cozinhar, eu cozinho pra você. Os peitos amamentaram nossos 3 filhos. Cinco anos mais velha, não, mais antiga, e você sabe o quanto eu adoro antiguidades. Tenho Vênus em Capricórnio, que sempre vai me ajudar a relevar essa sua Lua em Virgem que vejo se manifestando aí na confissão. E quanto aos AA e NA, ‘well, shit happens to everyone!”
Folha de São Paulo
Apesar da vida amorosa, da família e do legado musical impagável, a mídia insiste em apontar erros, não deixando muitas vezes o artista descansar em paz. Logo após a morte da cantora, o jornal Folha de S. Paulo entrou para os trend topics do twitter, com a ira de diversos internautas que questionavam a cobertura do jornal sobre a morte de Rita Lee. O veículo divulgou a notícia da morte da cantora com a seguinte mensagem: “rebelde desde a infância, se deixou guiar por drogas e discos voadores”. Diversos usuários da rede social criticaram a posição do jornal, inclusive celebridades brasileiras que se revoltaram com o título do texto e simpatizavam com a cantora.
A reportagem da Folha de São Paulo sobre a briga de Rita Lee e Zezé Di Camargo também foi alvo de críticas, deixando claro o caráter sensacionalista do veículo jornalístico. A abordagem difere da concorrência. O G1, por exemplo, publicou na morte da cantora a matéria com o título “Rita Lee, rainha do rock brasileiro, morre aos 75 anos” e também a BBC News “Morre Rita Lee: relembre a trajetória da rainha do rock brasileiro”.
A artista escreveu reações que ela imaginaria que teria no seu velório. A descrição que rodou as redes sociais durante a semana de sua morte chamaram a atenção, no texto ela declara, “ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”, esse foi o termo que escolheu para ser lembrada na posteridade. No texto ela também diz, “Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los”. O anúncio da morte da Rita Lee levou a Comissão de Segurança Pública do Senado a interromper a audiência púbica que realizava na manhã em que a cantora morreu. Flávio Dino, o Ministro da Justiça e Segurança Pública, realizou um minuto de silêncio em homenagem à cantora.
Infelizmente o reconhecimento é algo que não pode ser exigido de todos, às vezes você é lembrado por um erro na vida após anos fazendo o bem. O ícone da música, reconhecida por políticos, jornais, celebridades e civis, será lembrada para sempre, assim como dito por seu filho João Lee nas redes sociais, que prestou homenagem à sua mãe: “O mundo perdeu uma das pessoas mais únicas e incríveis que já existiu. Eu perdi a minha mãe. Mas você é eterna”.