Super Choque: representatividade pura
- 25 de novembro de 2019
- comments
- Thamires Mattos
- Posted in Análises
- 4
Apesar de muitos episódios tratarem sobre os dilemas comuns de super-heróis, a série, em geral, relaciona temas de desigualdades sociais, envolvimento com drogas e dilemas entre herói e vilão
Walace Ávila
Quando se pensa em temas como racismo e representatividade em desenhos, é interessante prestar atenção à abordagem dos temas e como os roteiristas trabalham com os personagens a fim de que o público alvo, geralmente infanto-juvenil, possa compreender. Com um roteiro bem elaborado para evidenciar o primeiro herói negro de uma série animada produzida pela Warner Brothers Television, o desenho Super Choque traz o personagem Virgil Hawkins, um garoto de Dakota, que mora seu pai e sua irmã.
A representatividade trazida por Super Choque começa sete anos antes do lançamento do desenho. O personagem Virgil foi criado pela Milestone Media, grupo composto apenas de artistas e roteiristas negros que buscavam mais igualdade e inclusão de heróis negros nas HQs. Mais tarde, o grupo fechou parceria com a DC Comics.
Apesar de muitos episódios tratarem sobre os dilemas comuns de super-heróis, a série, em geral, relaciona temas de desigualdades sociais, envolvimento com drogas e dilemas entre herói e vilão. Logo no primeiro episódio, Virgil, em busca de vingança de um garoto que o importunava, aceita ir a um confronto de gangues – todos os integrantes são negros marginalizados – a fim de acertar contas com gangster. Por um acidente com um gás usado por policiais, Virgil e outros que estavam presentes no local foram afetados e se tornaram “meta-humanos” ou “transformados”, nomes usados para se referir aos mutantes. A partir desse momento inicial, já é possível notar a atenção dada aos negros marginalizados. Eles sofrem preconceito duplo: por sua etnia e pela condição de meta-humanos.
Em um dos episódios da primeira temporada, Virgil visita a casa de seu melhor amigo, Richie. Nerd e branco, Richie enfrenta problemas com seu pai temperamental. Logo ao encontrar o pai de seu melhor amigo, Virgil é vítima de racismo: após um cumprimento negativo do pai, o garoto negro ouve uma conversa entre ele e a mãe de Richie. O pai afirma que “garotos da raça dele [Virgil] só trazem problemas”. Chateado, Virgil se despede rapidamente de Richie e volta para sua casa. Temas como violência e armas de fogo também ganham espaço em Super Choque. Virgil perdeu sua mãe, que trabalhava como enfermeira, durante um confronto de gangues. A partir do ocorrido, o garoto nunca esqueceu seu ódio por armas.
Super Choque pode parecer um desenho de super-herói comum da DC Comics à primeira vista, porém, quando se muda para uma ótica mais crítica, o telespectador pode notar como o universo dos heróis é muito pouco diversificado. Desenhos como o de Virgil dão um vislumbre peculiar, pois quebram o ritmo de protagonismo branco dentro desse universo.