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Status: negro, mas nem tanto

  • 13 de outubro de 2015
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  • Thamires Mattos
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Com uma cortina ilusória contra o preconceito, a mídia mascara seus comportamentos. Para benefício próprio, prega a desigualdade e a remedia em doses homeopáticas.

Thamires Mattos

De acordo com a Wikipedia (enciclopédia coletiva online, portanto, escrita por “qualquer um”), William Bonner é o “jornalista de maior credibilidade no País”. Caucasiano, Bonner não é jornalista de formação: seu bacharel foi concluído com ênfase em Publicidade e Propaganda. A mesma enciclopédia apresenta Heraldo Pereira como “jornalista brasileiro e apresentador eventual do Jornal Nacional”, posto que é de Bonner em dias ordinários. No entanto, Heraldo é jornalista de formação e está há mais tempo no mercado de trabalho. Qual seria a razão para Heraldo não possuir seu “programa” na emissora de Bonner?

Não vemos a cor do apresentador de rádio nem do escritor de impresso ou web. Na televisão, imagem é essencial – e a imagem de um negro não parece bem-vinda. Raça condenada a ser coadjuvante no mercado audiovisual. Pior: estereotipada como “eventual”, substituta do branco. Para o público massificado, isso basta. Já os reprimidos são simbolicamente violentados: acostumados com a imagem caucasiana ligada à competência e poder, chegam a menosprezar as próprias raízes.

No entanto, por maiores que sejam as fronteiras traçadas pela mídia entre negros e brancos, racismo é crime. Por tal motivo, é praticado “às escondidas” em rede nacional. Reportagens não informam que o negro é menosprezado, e novelas “encaixam” personagens afrodescendentes. Contudo, diferenças no discurso midiático são nitidamente percebidas.

O fato de negros e pardos ocuparem um papel minoritário nas grades televisivas é, em si, uma opressão “subliminar”. Há cinco anos o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovou que brancos constituem menos da metade da população brasileira. Isso mostra que se o papel da televisão é moldar o mundo, ela não está à altura da tarefa; e se a população transforma a TV, também é ineficiente. Há algo mais.

Conformação ao status quo . Mídia que prega que devemos estar satisfeitos com o que somos, temos e fazemos. Por essas e outras, quando o preconceito racial acontece, a maioria da população reage com indiferença. O preconceituoso fica alienado em seu pensamento, enquanto o oprimido nem percebe que foi agredido. Pensa que é normal. Se adequa ao sofrimento, às piadas de mau gosto, aos apelidos pejorativos e chega a usá-los contra seus companheiros.

Desenraizar tais pensamentos é uma tarefa árdua, que poderia ser mais facilmente executada com a ajuda da mídia. Ela que quer “dar voz” aos agredidos, apenas na aparência. O que não faltam são novelas com a maior miscigenação possível e reportagens utilizando veementes frases contra o racismo. No entanto, devemos ter em mente que a inserção dos negros e pardos na mídia não significa sua igualdade perante os brancos.

Tomemos como exemplo a imagem do negro nas novelas brasileiras. De forma geral ele é representado comicamente. Mora em condições precárias e quase nunca estuda. Ele gosta de jogar futebol, enquanto ela samba como ninguém. Empregadas, cozinheiras, garis, vigaristas de pequeno cassif . Para as novelas, profissões que (presumidamente) exijam menos esforço intelectual são ocupadas primariamente por negros e pardos, causando a ilusão de que o poder, dinheiro e fama não são feitos para eles, e se, por um acaso da sorte, conseguirem algum desses atributos, não os usarão de maneira sábia. Os que conseguem ter sucesso são tomados como exceções.

Uma dessas “exceções” tratada com o preconceito mascarado da mídia é o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa. Tomado como herói ao assumir posições implacáveis contra réus do escândalo do Mensalão, o ex-ministro negro, ficou sob os holofotes da mídia durante o auge das votações. No 12 de outubro de 2012, a 2290ª edição da Revista Veja trouxe, na capa, uma foto de Joaquim ainda criança com o título “O menino pobre que mudou o Brasil”. Em 2007, uma reportagem especial intitulada “O Brasil nunca teve um ministro como ele” trouxe as afirmações: “No julgamento histórico em que o STF pôs os mensaleiros (e o governo e o PT) no banco dos réus, Joaquim Barbosa foi a estrela – ele, o negro que fala alemão, o mineiro que dança forró, o juiz que adora história e ternos de Los Angeles e Paris”. O periódico ainda comenta a ascensão de Barbosa ao STF com um título sugestivo de 2003: “Enfim, um negro chega lá”.

Com uma cortina ilusória contra o preconceito, a mídia mascara seus comportamentos. Para benefício próprio, prega a desigualdade e a remedia em doses homeopáticas. Ela não quer que as coisas sejam “preto no branco”. Prefere o acinzentado insosso, em que singularidades são definidas apenas pelo tom de pele.

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